domingo, 31 de dezembro de 2023

A jornada da proximidade com Deus

 

Está escrito:

“Aproximem-se de Deus, e ele se aproximará de vocês! Pecadores, limpem as mãos, e vocês, que têm a mente dividida, purifiquem o coração” (Tiago 4:8).

 

O relacionamento entre o ser humano e Deus é um tema central em todas as religiões e sistemas de crenças. A busca por proximidade com Deus tem sido uma constante na história, refletindo o anseio profundo da alma humana por transcendência e significado. A citação bíblica em Tiago 4:8 é uma expressão que ecoa nas mentes e corações dos cristãos ao redor do mundo. Nesta breve reflexão, tentaremos explorar a profundidade e a complexidade desse chamado à proximidade com Deus, examinando suas implicações teológicas e práticas. Vejamos agora alguns dessas implicações:

1.     A natureza do chamado. A citação de Tiago reflete a dinâmica de um relacionamento bidirecional entre o ser humano e Deus. O chamado para “aproximar-se de Deus” implica uma ação voluntária e deliberada por parte do indivíduo. É um convite à busca ativa e à disposição de abrir o coração para uma conexão mais profunda com Deus. De forma que, a responsabilidade recai sobre o ser humano para dar o primeiro passo em direção a Deus.

Mas, será que o homem pecador tem essa iniciativa de dar o primeiro passo em direção a Deus? Talvez você esteja com esse questionamento na sua mente. A questão sobre quem dá o primeiro passo no relacionamento entre o homem e Deus é um tema complexo e debatido dentro de várias tradições religiosas e perspectivas teológicas. As respostas variam dependendo da abordagem teológica adotada e das crenças específicas de cada religião. O fato é que existe duas perspectivas principais: a capacidade humana de buscar Deus e a iniciativa divina no relacionamento. Explico:

·      Perspectiva da capacidade humana. Dentro de algumas tradições religiosas e perspectivas teológicas, acredita-se que o ser humano possui uma capacidade inerente de buscar Deus. Isso é muitas vezes fundamentado na crença de que os seres humanos são criados à imagem de Deus e têm uma centelha divina dentro de si. Nessa visão, os seres humanos têm a liberdade de escolher buscar a Deus, dando o primeiro passo em direção à conexão espiritual. Por exemplo, em várias tradições cristãs, o livre-arbítrio é enfatizado, o que significa que os seres humanos têm a capacidade de escolher Deus e se voltar para Ele. Leia a parábola do filho pródigo, presente no Evangelho de Lucas, ela ilustra essa perspectiva, em que o filho toma a iniciativa de retornar ao pai depois de se afastar dele.

·      Perspectiva da iniciativa divina. Por outro lado, algumas correntes teológicas enfatizam a iniciativa divina no relacionamento com os seres humanos. De acordo com essa visão, é Deus quem toma a iniciativa de buscar os seres humanos e se revelar a eles. Essa perspectiva salienta a graça e a capacidade de Deus de superar as limitações humanas. Algumas vertentes teológicas, como o calvinismo, defendem que é Deus quem escolhe aqueles que serão salvos e que a iniciativa parte inteiramente de Deus. 

Muitas abordagens teológicas buscam uma síntese dessas duas perspectivas, reconhecendo tanto a liberdade humana quanto a graça de Deus. A visão equilibrada sugere que os seres humanos têm a capacidade de buscar a Deus, mas essa busca é fortalecida e guiada pela ação divina. Nesse contexto, o chamado à proximidade divina, como mencionado em Tiago 4:8, pode ser visto como um convite para que os seres humanos respondam ao chamado de Deus, enquanto também reconhecem a ação ativa de Deus em suas vidas.

2.     A promessa da reciprocidade de Deus. A segunda parte da citação, “ele se aproximará de vocês”, é uma promessa de que Deus responderá à iniciativa humana com sua própria aproximação. Isso é tremendo! Aqui, vemos a interação entre a vontade humana e a vontade de Deus, culminando em um encontro transformador. Essa promessa não apenas revela a disposição de Deus para se relacionar conosco, mas também sugere que o ato de buscar Deus de coração sincero é recompensado com uma experiência tangível de proximidade. 

3.     A busca pela purificação interior. Uma abordagem significativa para entender o chamado à proximidade de Deus é considerar a purificação interior. Tiago continua no versículo 8, dizendo: “Pecadores, limpem as mãos, e vocês, que têm a mente dividida, purifiquem o coração”. Isso ressalta a importância da retidão moral e da sinceridade na busca de Deus. A purificação interior não é apenas uma condição prévia para se aproximar de Deus, mas também é um processo contínuo que acompanha a jornada de proximidade.

4.     O papel da Graça e do amor de Deus. A busca por proximidade divina não é uma jornada que nós empreendemos sozinhos. É também uma expressão da graça e do amor de Deus que nos atrai em direção a Ele. A graça é a força capacitadora que permite que os seres humanos superem suas fraquezas e limitações para se aproximarem do divino. O amor de Deus, manifestado por meio de Cristo, é a força que nos conecta a Deus e inspira a busca por comunhão íntima.

5.     A transformação resultante. A busca por proximidade divina não é apenas um exercício teológico ou espiritual, mas também tem implicações práticas profundas. À medida que nos aproximamos de Deus e experimentamos Sua presença, somos transformados. Em que sentido? Nas perspectivas, nos valores e comportamentos que são moldados pela sabedoria de Deus. Essa transformação é evidenciada por uma maior compaixão, humildade e busca pela justiça, refletindo as qualidades do próprio Deus.

Em suma, a jornada da proximidade com Deus é uma busca contínua e enriquecedora, que nos leva a um relacionamento mais profundo com Deus e com o próprio eu. É uma jornada que transcende tradições e culturas, unindo a humanidade em sua busca pela verdade última e pelo significado da vida. Como exploradores espirituais, somos convidados a responder a esse chamado com sinceridade e humildade, confiantes na promessa de que, ao nos aproximarmos de Deus, Ele certamente se aproximará de nós. Aproveite a oportunidade, já que nos aproximamos do limiar de um ano novo, convido você a iniciar uma jornada da proximidade com Deus.


O ano novo é um momento de renovação, uma oportunidade concedida para deixar para trás as imperfeições do passado e abraçar a promessa de um novo começo. Assim como Tiago nos lembra,  nosso relacionamento com Deus é fundamental nesse processo de renovação. Ao nos aproximarmos d'Ele com sinceridade e humildade, abrindo nossos corações para Sua orientação, encontraremos a força e a sabedoria necessárias para enfrentar os desafios que o futuro nos reserva.


Assim como lavamos nossas mãos para remover a sujeira visível, é hora de purificar nossos corações das impurezas invisíveis que acumulamos ao longo do tempo. O perdão, a compaixão e o amor são os instrumentos divinos que nos ajudarão nesse processo de purificação. Que em 2024, possamos estender a mão para nossos irmãos e irmãs, cultivando relacionamentos baseados no amor e na compreensão mútua. 


Que o amor, a paz e a alegria de Deus encham seus corações neste ano novo. Que cada passo que dermos nos aproxime de Deus, permitindo que Sua luz ilumine nossos caminhos.  

 

               Lembre-se: Rendam graças ao SENHOR, pois Ele é bom; o seu amor dura para sempre.

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domingo, 24 de dezembro de 2023

A esperança e a plenitude da fé em Romanos 15:13


 

Está escrito:

“Que o Deus da esperança vos encha de toda alegria e paz na vossa fé, para que transbordeis na esperança pelo poder do Espírito Santo” (Rm 15:13).


A carta aos Romanos, escrita pelo apóstolo Paulo, é uma obra rica em teologia e ensinamentos profundos que ainda ressoam no coração dos cristãos ao longo dos séculos. Este versículo encapsula a essência da mensagem cristã: a esperança, a alegria, a paz e a plenitude da fé sãos dons divinos que emanam do próprio Deus. Nesta breve reflexão, exploraremos a profundidade desta passagem bíblica. Continue lendo até o final e o Deus da esperança poderá falar ao seu coração.


Paulo inicia a passagem invocando Deus como “O Deus da esperança”. Essa designação transcende a simples expectativa otimista, pois a esperança cristã está enraizada na confiança inabalável na fidelidade divina. O Salmo 42:11 ressoa com uma afirmação semelhante: “Por que estás abatida, ó minha alma; por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, minha salvação e meu Deus”. 


Perceba ainda que essa expressão revela uma profunda verdade teológica sobre a natureza e o caráter de Deus. Ao chamar Deus dessa maneira, o apóstolo destaca a fonte suprema de toda esperança que os crentes têm em suas vidas pelas seguintes razões:

·       Deus é a fonte da Esperança: Deus é a origem e a fonte última da esperança cristã. Isso significa que a esperança não está enraizada apenas em circunstâncias favoráveis ou em otimismo humano, mas na natureza confiável e no caráter imutável de Deus.

·       A fidelidade Divina: a expressão sugere a confiabilidade de Deus em cumprir Suas promessas. A esperança cristã está fundamentada na certeza de que Deus é fiel às Suas promessas: “Sem vacilar, mantenhamos inabalável a confissão da nossa esperança, pois quem fez a promessa é fiel” (Hebreus 10:23), e, portanto, os crentes podem confiar que Ele cumpre o que promete, incluindo as promessas de salvação, redenção e vida eterna.

·       Conforto em meio às adversidades: ao se referir a Deus como “o Deus da esperança”, Paulo oferece uma fonte de consolo para os cristãos que enfrentam desafios e tribulações. Essa esperança não é meramente uma expectativa positiva, mas uma confiança sólida de que, mesmo em meio às dificuldades, Deus é soberano e age para o bem daqueles que O amam (Romanos 8:18).

Agora a expressão “vos encha de toda alegria e paz na vossa fé” destaca a ligação intrínseca entre a fé, a alegria e a paz. Jesus, em João 16:33, assegura aos seus seguidores: “No mundo tereis tribulações; mas não vos desanimeis! Eu venci o mundo”. Aqui, vemos que a verdadeira alegria e paz encontram-se na confiança irrestrita no Senhor, mesmo em meio às tribulações. Na prática, como se estabelece e se manifesta essa ligação entre fé, alegria e paz:

·      Na confiança em Deus: a fé, fundamentalmente, é a confiança em Deus e na Sua Palavra. Quando os crentes depositam sua confiança no Senhor, independentemente das circunstâncias, experimentam uma paz que ultrapassa o entendimento humano (Filipenses 4:7). Essa paz decorre da certeza de que Deus está no controle e que Sua fidelidade é inabalável.

·      Na alegria da salvação: a fé cristã está centrada na obra redentora de Cristo. Quando os crentes compreendem a profundidade do amor de Deus revelado na salvação por meio de Jesus Cristo, a alegria se torna uma resposta natural. Essa alegria não está sujeita às flutuações das circunstâncias externas, mas é uma alegria fundamentada na realidade da reconciliação com Deus.

·      No papel do Espírito Santo: a ligação entre fé, alegria e paz é aprofundada pela atuação do Espírito Santo na vida do crente. O Espírito Santo é descrito como aquele que produz frutos, incluindo o fruto da alegria (Gálatas 5:22). À medida que os crentes se submetem à direção do Espírito, experimentam uma alegria que transcende as circunstâncias exteriores.

·      A compreensão da Soberania de Deus: a fé madura inclui uma compreensão crescente da soberania de Deus. Confiar que Deus está no controle de todas as coisas, trabalhando para o bem daqueles que O amam (Romanos 8:28), traz uma paz que vai além das preocupações terrenas. A certeza da providência divina é uma fonte constante de paz.

·      O foco na eternidade: a fé cristã é ancorada na esperança da vida eterna com Deus. Essa perspectiva eterna influencia a maneira como os crentes enfrentam as adversidades, trazendo uma paz que ultrapassa as preocupações temporais, “pois nossa tribulação leve e passageira produz para nós uma glória incomparável, de valor eterno” (2Coríntios 4:17).


A última parte do versículo revela a fonte da esperança cristã: “pelo poder do Espírito Santo”. Essa afirmação remete à promessa de Jesus aos apóstolos de que receberiam o Consolador, o Espírito Santo, que os guiará em toda a verdade (João 16:13). O Espírito Santo não apenas fortalece a fé, mas também infunde a esperança e a alegria que transcendem as circunstâncias terrenas.


O teólogo reformado João Calvino, em suas Institutas, destaca a obra transformadora do Espírito Santo na vida do crente, enfatizando a necessidade de uma fé viva e operante. Para Calvino, a esperança cristã não é uma mera expectativa vazia, mas uma certeza baseada na promessa de Deus.


Além disso, o teólogo contemporâneo John Piper, em sua obra “Em busca de Deus”, explora a relação entre a busca da felicidade e a glória de Deus. Piper argumenta que a verdadeira alegria do cristão é encontrada na busca por Deus e na satisfação em Sua presença.


Em Conclusão, Romanos 15:13 oferece uma visão abrangente da experiência cristã, destacando a esperança, a alegria e a paz que resultam da fé no Deus da esperança. Cada elemento desta passagem encontra eco em outras partes das Escrituras e nas reflexões de muitos teólogos ao longo da história, reforçando a profundeza e a solidez dessa mensagem atemporal. Que nesse Natal possamos ser enriquecidos por essa esperança, transbordando em alegria e paz pelo poder do Espírito Santo. Feliz Natal! 


Referência:

PIPER, John. Em busca de Deus: a plenitude da alegria cristã. São Paulo: Shedd Publicações, 2008. 


Lembre-se: Rendam graças ao SENHOR, pois Ele é bom; o seu amor dura para sempre.

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domingo, 17 de dezembro de 2023

A escolha Divina e busca pela santidade


 

Está escrito:

“Porque Deus nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis em sua presença” (Efésios 1:4).

 

A crença na existência de um Ser Supremo tem sido uma constante na história secular da humanidade. Diversas religiões e tradições espirituais apresentam conceitos e ensinamentos sobre Deus, suas características e sua relação com os seres humanos. Nesse contexto, a carta de Paulo aos Efésios revela uma perspectiva teológica baseada na predestinação divina, na qual Deus escolheu a humanidade antes mesmo da criação do mundo, com o propósito de tornar seus seguidores santos e irrepreensíveis em Sua presença. 

 

Uma coisa importante para nossa identidade em Cristo Jesus é saber que somos escolhidos de Deus, foi Ele quem nos chamou de filhos e nos escolheu para que possamos dar muitos frutos! Você foi escolhido(a). Você não nasceu por acaso, você não está nesta terra por acaso. Você foi escolhido(a), apesar de todos os seus erros, falhas, pensamentos ocultos e, apesar de tudo, Ele escolheu você. Nesta reflexão, exploraremos os argumentos teológicos que envolvem essa temática e seu significado, a partir dos seguintes aspectos:

 

1. A soberania de Deus. Uma das bases fundamentais da teologia é a crença na soberania de Deus, ou seja, em Seu poder absoluto sobre todas as coisas. A ideia de que Deus nos escolheu antes da criação do mundo ressalta a Sua autoridade suprema e Sua capacidade de determinar os destinos dos seres humanos. Essa perspectiva teológica oferece uma visão de um Deus que está além das limitações temporais e que possui um plano eterno para a humanidade. O salmista diz: “O SENHOR faz tudo o que deseja, nos céus e na terra, nos mares e em todos os abismos” (Salmos 135:6). 

 

2. A busca pela santidade. O propósito da escolha divina, conforme mencionado no texto, é para que sejamos santos e irrepreensíveis em Sua presença. A busca pela santidade é um tema recorrente em muitas tradições religiosas, e essa passagem bíblica ressalta a importância desse objetivo na vida dos crentes. A santidade pode ser compreendida como um estado de pureza espiritual, de separação do mal e da busca constante pela conformação com a vontade de Deus. A escolha divina nos chama a uma vida de retidão e devoção, moldando nossas ações e atitudes em consonância com os princípios divinos. Em Hebreus 12:14 lemos: “Esforcem-se para viver em paz com todos e para serem santos; sem santidade ninguém verá o SENHOR”. 

 

No contexto desse versículo, o autor está encorajando os crentes a viverem em paz e harmonia com os outros, buscando relacionamentos saudáveis e evitando conflitos desnecessários. Além disso, ele destaca que a santidade é um requisito para ver o SENHOR, indicando que a busca por uma vida santa está intrinsecamente ligada à nossa comunhão com Deus. 

 

A busca pela santidade não é uma tarefa fácil em nossos dias. Requer um compromisso diário de renunciar ao pecado, de cultivar virtudes cristãs e de buscar a transformação interior. É um processo contínuo que envolve a colaboração do crente com a obra do Espírito Santo em sua vida. Obviamente, que a graça divina desempenha um papel essencial nessa busca, nos capacitando e nos fortalecendo para viver uma vida santa.

 

3. O chamado à responsabilidade. A compreensão de que Deus nos escolheu antes da criação do mundo carrega consigo uma profunda responsabilidade. Somos chamados a viver de acordo com essa eleição divina, honrando-a por meio de nossas ações diárias. A busca pela santidade não é um mero exercício espiritual, mas uma jornada que envolve compromisso, esforço e renúncia. Essa responsabilidade nos leva a refletir sobre nossas escolhas, comportamentos e relacionamentos, buscando constantemente nos aproximar do ideal proposto por Deus. Paulo escrevendo a igreja de Coríntios diz: “Assim, quer vocês comam, quer bebam, quer façam qualquer outra coisa, façam tudo para a glória de Deus” (1 Coríntios 10:31). 

 

Essa exortação abrangente engloba todas as esferas da vida: seja na alimentação, nas relações interpessoais, no trabalho, nas atividades diárias ou em qualquer outra coisa que estejamos envolvidos. Paulo está nos desafiando a considerar a glória de Deus em tudo o que fazemos e agir de acordo com essa perspectiva. 

 

Além disso, fazer tudo para a glória de Deus implica em buscar a Sua vontade em cada decisão que tomamos, em cada ação que empreendemos e em cada palavra que pronunciamos. Envolve honrar a Deus em nossos relacionamentos, sendo justos, amorosos e compassivos com os outros. Significa também usar os talentos e recursos que Deus nos deu de maneira a promover o bem e a edificação do próximo.

 

4. A graça divina e a transformação pessoal. Embora a busca pela santidade seja um desafio constante, é importante ressaltar que não estamos sozinhos nessa jornada. A graça divina desempenha um papel fundamental na transformação pessoal e na capacidade de alcançar a santidade. A escolha divina precede nossa existência e nos dá acesso a essa graça, que nos auxilia em nosso crescimento espiritual e nos fortalece para superar as dificuldades ao longo do caminho. Através da fé, da oração e da entrega, experimentamos a presença de Deus em nossas vidas, permitindo que Seu poder nos transforme de dentro para fora. A carta paulina a igreja de Coríntios nos traz a seguinte revelação: “Mas, pela graça de Deus, sou o que sou, e sua graça para comigo não foi inútil; antes trabalhei mais do que todos eles; contudo, não eu, mas a graça de Deus comigo” (1 Coríntios 15:10).

 

Paulo enfatiza a importância da graça de Deus em sua vida e ministério. Ele reconhece que não é sua própria habilidade, esforço ou mérito que o tornaram quem ele é, mas sim a graça abundante de Deus em operação em sua vida. Essa percepção humilde o leva a valorizar e honrar a graça recebida, reconhecendo que é um presente divino que não deve ser desperdiçado.

 

Em resumo, a ideia de que Deus nos escolheu antes da criação do mundo para sermos santos e irrepreensíveis em Sua presença é um conceito teológico profundo e desafiador. Essa perspectiva nos lembra da soberania de Deus, do chamado à busca pela santidade, da responsabilidade pessoal e da graça divina que nos capacita nessa jornada. Ao refletir sobre esse texto, somos convidados a olhar para além de nós mesmos e a considerar o propósito mais elevado da vida espiritual. Que possamos encontrar inspiração e direção em nossa jornada rumo à santidade, confiantes na escolha e na presença de Deus em nossas vidas.

 

Lembre-se: Rendam graças ao SENHOR, pois Ele é bom; o seu amor dura para sempre.

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domingo, 10 de dezembro de 2023

Reflexões sobre o pecado: uma jornada rumo à redenção


Está escrito:

“Pois todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus” (Romanos 3:23).

Na mensagem de hoje, abordaremos um tema que é pouco mencionado nas igrejas cristãs de diferentes denominações, o pecado. Talvez esse tema esteja fora de moda ou é algo meio pesado para se pregar ou mesmo comentar. Mas, mesmo assim, trataremos desse assunto que tem sua importância teológica. O pecado é frequentemente entendido como uma transgressão ou violação da vontade de Deus, uma falha moral que separa os seres humanos da perfeição divina e da ordem moral estabelecida por Deus. O pecado é considerado um afastamento do padrão de retidão e justiça que Deus deseja para a humanidade.

 A teologia do pecado na perspectiva reformada é uma abordagem específica dentro do cristianismo que enfatiza as doutrinas reformadas da soberania de Deus, da depravação total do ser humano e da salvação pela graça mediante a fé. Essa perspectiva está associada à reforma protestante do século XVI, liderada por teólogos como Martinho Lutero e João Calvino. Assim, dentre os pontos principais da teologia do pecado destacamos:

·      A depravação total. A teologia reformada sustenta a doutrina da depravação total, que ensina que a natureza humana foi completamente corrompida pelo pecado após a queda de Adão (Gênesis 3). Isso significa que todas as partes do ser humano (mente, vontade, emoções) foram afetados pelo pecado e os seres humanos são incapazes de escolher o bem espiritualmente sem a intervenção divina. Como está escrito: “Não há nenhum justo, nem um sequer; não há ninguém que entenda, ninguém que busque a Deus. Todos se desviaram, tornaram-se juntamente inúteis; não há ninguém que faça o bem, não há nem um sequer” (Romanos 3:10-12). 

 Nesse trecho, o apóstolo Paulo está citando passagens do Antigo Testamento para enfatizar a natureza pecaminosa e a depravação total da humanidade. Este versículo destaca a incapacidade inerente do ser humano de alcançar a justiça e a retidão por meio de seus próprios esforços, reforçando a ideia da depravação total. 

·      A incapacidade humana. Devido à depravação total, a teologia reformada argumenta que os seres humanos são incapazes de se salvarem ou agradarem a Deus por meio de suas próprias ações ou méritos. A salvação é totalmente uma obra de Deus, iniciada e realizada por Sua graça. Na carta aos Efésios Paulo, diz: “Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie” (Efésios 2:8-9). Observe que Paulo enfatiza que a salvação é inteiramente um ato de Deus, concedido pela Sua graça, através da fé. Ele destaca que essa salvação não é alcançada por obras humanas e isso reflete a ideia de que a capacidade do homem de se salvar ou agradar a Deus é limitada e depende inteiramente da graça de Deus.

Portanto, o pecado é algo tão grave e perigoso que, frequentemente pode agir de tal forma a cauterizar a nossa consciência e nos tornar pessoas insensíveis ao seu impacto moral. Em outras palavras, o pecado está relacionado ao endurecimento do coração e à perda da sensibilidade espiritual, em virtude da sua prática repetida e contínua. Então, o que acontece se a pessoa não der a devida atenção ao pecado em sua vida:

1.     Há um endurecimento gradual da consciência. Através da repetição constante e consciente de ações pecaminosas, a consciência da pessoa pode gradualmente se tornar insensível ao que é moralmente errado. Quanto mais alguém se envolve em práticas pecaminosas sem arrependimento, mais provável é que sua capacidade de discernir entre o certo e o errado seja afetada. Paulo escreveu: “Contudo, por causa da sua teimosia e do coração obstinado, você está acumulando ira contra você mesmo, para o dia da ira de Deus, quando se revelará o seu justo julgamento” (Romanos 2:5). Neste versículo, o apóstolo destaca como a persistência no pecado e a recusa em se arrepender podem levar ao endurecimento do coração e à acumulação de ira divina. Isso reflete o processo gradual pelo qual alguém, ao persistir em uma vida de pecado, pode se tornar insensível à sua própria condição espiritual e à gravidade das suas ações.

2.     Há supressão da consciência. À medida que alguém continua a pecar, pode ocorrer uma supressão consciente da voz moral interna. A pessoa pode começar a ignorar ou rejeitar sentimentos de culpa ou remorso, diminuindo assim a capacidade de reconhecer a gravidade do pecado. Nesse sentido, Paulo disse aos Efésios: “Assim, eu digo a vocês, e no Senhor insisto, que não vivam mais como os gentios, que vivem na inutilidade dos seus pensamentos. Eles estão obscurecidos no entendimento e separados da vida de Deus por causa da ignorância em que estão, devido ao endurecimento do seu coração” (Efésios 4:17-18). O endurecimento do coração e a supressão da sensibilidade espiritual são fatores que levam a uma incapacidade de reconhecer a verdade e a gravidade do pecado, resultando em uma vida marcada por impureza e depravação.

3.     Há engano e justificação. O pecado pode levar a pessoa a se enganar e justificar suas ações erradas. Isso pode envolver racionalizações para minimizar a seriedade do pecado ou para encontrar desculpas para continuar a praticá-lo. Esse processo de autoengano pode contribuir para uma insensibilidade crescente.

4.     Há apatia espiritual. O pecado também pode levar à apatia espiritual, em que a pessoa perde o interesse e a paixão pelas coisas de Deus. À medida que alguém se afasta de Deus e se entrega ao pecado, sua conexão espiritual enfraquece, tornando mais difícil reconhecer e sentir a gravidade de suas ações. O apóstolo João relatando a mensagem de Jesus a igreja de Laodiceia, disse: “Assim, porque você é morno, não é frio nem quente, estou a ponto de vomitá-lo da minha boca” (Apocalipse 3:16). A apatia ou indiferença espiritual é comparada à temperatura morna que não é desejável e Jesus adverte sobre as consequências dessa condição. 

5.     Há o obscurecimento da verdade. O pecado pode obscurecer a compreensão da verdade espiritual. Quanto mais uma pessoa se afasta de Deus e se entrega ao pecado, mais difícil é o poder para discernir a verdade e enxergar a realidade espiritual com clareza. Por essa razão, Paulo escrevendo aos romanos disse: “Porque, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe renderam graças, mas os seus pensamentos tornaram-se fúteis e o coração insensato deles obscureceu-se” (Romanos 1:21). Neste versículo, Paulo está descrevendo a tendência da humanidade em suprimir a verdade sobre Deus e substituí-la por falsas crenças e idolatria. A recusa em reconhecer e glorificar a Deus leva ao obscurecimento da compreensão espiritual e ao entorpecimento do coração.

Por fim, é importante observar que o pecado que nos condena, pois não há salvação para aqueles que não são convencidos da seriedade dos seus pecados (MACARTHUR, 2016), não são inevitáveis nem irreversíveis. Há uma jornada rumo a redenção, que é através da mensagem do Evangelho que enfatiza o poder do arrependimento e do perdão de Deus para restaurar a sensibilidade espiritual e a relação com Ele. O reconhecimento do pecado, o arrependimento genuíno e o retorno à presença de Deus são considerados passos essenciais para reavivar a consciência e sensibilidade moral. 

Referência:

MACARTHUR, J.J. Sociedade sem pecado. São Paulo: Cultura Cristã, 2016.

 

Lembre-se: Rendam graças ao SENHOR, pois Ele é bom; o seu amor dura para sempre.

             Sola Scriptura - Solus Christus - Sola gratia - Sola fide e Soli Deo glória 


domingo, 3 de dezembro de 2023

DEUS: fortaleza eterna do coração humano


Está escrito:

“Ainda que a minha carne e o meu coração desfaleçam, Deus é a fortaleza do meu coração e a minha herança para sempre” (Salmos 73:26).

 

O Salmo 73 é um salmo escrito por Asafe que aborda o tema da inveja e questionamentos sobre a justiça de Deus diante do sucesso dos ímpios e do sofrimento dos justos. Parece que em algum momento de sua vida, ele passou por uma crise existencial. Nós, hoje, também vivemos uma crise, em virtude das desigualdades e injustiças sociais, assim como Asafe que estava descontente com a vida e passou a questionar até que ponto vale a pena viver em integridade, apesar de que seu olhar da vida era numa perspectiva humana e carnal. 


Mas no versículo 26, ele expressa uma profunda confiança em Deus, mesmo quando enfrenta fraquezas físicas e emocionais. Nessa breve reflexão, vamos levar em conta alguns pontos importantes para nossa consciência cristã:

 

1. Fragilidade humana. Asafe reconhece a realidade da fragilidade humana, simbolizada pelo enfraquecimento da carne e do coração. Essa fragilidade pode ser física, emocional ou espiritual e é uma experiência comum a todos os seres humanos, afinal quem não apresenta alguma fragilidade em sua vida, não é verdade? A Bíblia destaca a nossa condição frágil, como em Salmos 103:14, em que diz: “Pois ele conhece a nossa estrutura e sabe que somos pó”. 

 

2. A força em Deus. A fé de Asafe é inabalável, pois ele declara que Deus é a fortaleza do seu coração. Essa confiança se baseia no poder e na fidelidade de Deus para sustentar e fortalecer aqueles que nele confiam. Tudo tem um ciclo, a crise também, um dia ela termina, quando a gente não espera, da forma que nem imaginamos, mas precisamos confiar mais em Deus e na Sua Palavra, porque Ele é a nossa fonte de força, conforme Isaías 40:29 diz: “Faz forte ao cansado e multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor”.

 

3. Herança eterna. Asafe reconhece que Deus é a sua herança para sempre. Aqui ele está olhando além das circunstâncias temporais da vida e fixando seus olhos na perspectiva eterna. A herança em Deus é uma realidade para os crentes. Para mim, a eternidade começa aqui e agora quando cremos em Jesus Cristo e reconhecemos nossa condição de pecador, nos arrependemos e pela fé temos uma viva esperança.

 

A Bíblia nos apresenta duas possibilidades para a eternidade:

·      Vida eterna com Deus: para aqueles que colocaram sua fé em Deus, arrependendo-se de seus pecados e aceitando o sacrifício de Jesus Cristo como pagamento pelos seus pecados, têm a promessa da vida eterna com Deus. Jesus nos diz em João 3:16 “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.

·      Separação eterna de Deus: para aqueles que rejeitam a oferta de salvação através de Jesus Cristo e persistem na incredulidade enfrentarão a separação eterna de Deus em um lugar de sofrimento conhecido como “inferno”. Jesus também falou sobre essa realidade em Mateus 25:46, afirmando que os ímpios “Irão estes para o castigo eterno, porém os justos, para a vida eterna”.

Percebe, por que a herança em Deus é uma realidade para os crentes? Como Pedro escreve em 1Pedro 1:3-4: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua muita misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada nos céus para vós outros”. 

4.   Confiança na soberania de Deus. A declaração de Asafe também revela sua convicção na soberania de Deus sobre todas as coisas. Mesmo quando as circunstâncias parecem difíceis e injustas, ele confia que Deus tem tudo sob controle e que Seu plano e propósito são maiores do que podemos compreender. Em Provérbios 3:5-6 diz: “Confia no SENHOR de todo o teu coração e não te estribes no teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas”.

Em suma, o Salmo 73:26 nos convida a refletir sobre a nossa confiança em Deus, mesmo quando enfrentamos crises e dificuldades. É um lembrete de que nossa força e esperança provêm dEle, e que nossa herança é eterna quando estamos em comunhão com o Criador. Essa confiança em Deus nos capacita a enfrentar as provações da vida com coragem e perseverança, sabendo que Ele está conosco em todas as circunstâncias.

 

Lembre-se: Rendam graças ao SENHOR, pois Ele é bom; o seu amor dura para sempre.

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