domingo, 10 de dezembro de 2023

Reflexões sobre o pecado: uma jornada rumo à redenção


Está escrito:

“Pois todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus” (Romanos 3:23).

Na mensagem de hoje, abordaremos um tema que é pouco mencionado nas igrejas cristãs de diferentes denominações, o pecado. Talvez esse tema esteja fora de moda ou é algo meio pesado para se pregar ou mesmo comentar. Mas, mesmo assim, trataremos desse assunto que tem sua importância teológica. O pecado é frequentemente entendido como uma transgressão ou violação da vontade de Deus, uma falha moral que separa os seres humanos da perfeição divina e da ordem moral estabelecida por Deus. O pecado é considerado um afastamento do padrão de retidão e justiça que Deus deseja para a humanidade.

 A teologia do pecado na perspectiva reformada é uma abordagem específica dentro do cristianismo que enfatiza as doutrinas reformadas da soberania de Deus, da depravação total do ser humano e da salvação pela graça mediante a fé. Essa perspectiva está associada à reforma protestante do século XVI, liderada por teólogos como Martinho Lutero e João Calvino. Assim, dentre os pontos principais da teologia do pecado destacamos:

·      A depravação total. A teologia reformada sustenta a doutrina da depravação total, que ensina que a natureza humana foi completamente corrompida pelo pecado após a queda de Adão (Gênesis 3). Isso significa que todas as partes do ser humano (mente, vontade, emoções) foram afetados pelo pecado e os seres humanos são incapazes de escolher o bem espiritualmente sem a intervenção divina. Como está escrito: “Não há nenhum justo, nem um sequer; não há ninguém que entenda, ninguém que busque a Deus. Todos se desviaram, tornaram-se juntamente inúteis; não há ninguém que faça o bem, não há nem um sequer” (Romanos 3:10-12). 

 Nesse trecho, o apóstolo Paulo está citando passagens do Antigo Testamento para enfatizar a natureza pecaminosa e a depravação total da humanidade. Este versículo destaca a incapacidade inerente do ser humano de alcançar a justiça e a retidão por meio de seus próprios esforços, reforçando a ideia da depravação total. 

·      A incapacidade humana. Devido à depravação total, a teologia reformada argumenta que os seres humanos são incapazes de se salvarem ou agradarem a Deus por meio de suas próprias ações ou méritos. A salvação é totalmente uma obra de Deus, iniciada e realizada por Sua graça. Na carta aos Efésios Paulo, diz: “Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie” (Efésios 2:8-9). Observe que Paulo enfatiza que a salvação é inteiramente um ato de Deus, concedido pela Sua graça, através da fé. Ele destaca que essa salvação não é alcançada por obras humanas e isso reflete a ideia de que a capacidade do homem de se salvar ou agradar a Deus é limitada e depende inteiramente da graça de Deus.

Portanto, o pecado é algo tão grave e perigoso que, frequentemente pode agir de tal forma a cauterizar a nossa consciência e nos tornar pessoas insensíveis ao seu impacto moral. Em outras palavras, o pecado está relacionado ao endurecimento do coração e à perda da sensibilidade espiritual, em virtude da sua prática repetida e contínua. Então, o que acontece se a pessoa não der a devida atenção ao pecado em sua vida:

1.     Há um endurecimento gradual da consciência. Através da repetição constante e consciente de ações pecaminosas, a consciência da pessoa pode gradualmente se tornar insensível ao que é moralmente errado. Quanto mais alguém se envolve em práticas pecaminosas sem arrependimento, mais provável é que sua capacidade de discernir entre o certo e o errado seja afetada. Paulo escreveu: “Contudo, por causa da sua teimosia e do coração obstinado, você está acumulando ira contra você mesmo, para o dia da ira de Deus, quando se revelará o seu justo julgamento” (Romanos 2:5). Neste versículo, o apóstolo destaca como a persistência no pecado e a recusa em se arrepender podem levar ao endurecimento do coração e à acumulação de ira divina. Isso reflete o processo gradual pelo qual alguém, ao persistir em uma vida de pecado, pode se tornar insensível à sua própria condição espiritual e à gravidade das suas ações.

2.     Há supressão da consciência. À medida que alguém continua a pecar, pode ocorrer uma supressão consciente da voz moral interna. A pessoa pode começar a ignorar ou rejeitar sentimentos de culpa ou remorso, diminuindo assim a capacidade de reconhecer a gravidade do pecado. Nesse sentido, Paulo disse aos Efésios: “Assim, eu digo a vocês, e no Senhor insisto, que não vivam mais como os gentios, que vivem na inutilidade dos seus pensamentos. Eles estão obscurecidos no entendimento e separados da vida de Deus por causa da ignorância em que estão, devido ao endurecimento do seu coração” (Efésios 4:17-18). O endurecimento do coração e a supressão da sensibilidade espiritual são fatores que levam a uma incapacidade de reconhecer a verdade e a gravidade do pecado, resultando em uma vida marcada por impureza e depravação.

3.     Há engano e justificação. O pecado pode levar a pessoa a se enganar e justificar suas ações erradas. Isso pode envolver racionalizações para minimizar a seriedade do pecado ou para encontrar desculpas para continuar a praticá-lo. Esse processo de autoengano pode contribuir para uma insensibilidade crescente.

4.     Há apatia espiritual. O pecado também pode levar à apatia espiritual, em que a pessoa perde o interesse e a paixão pelas coisas de Deus. À medida que alguém se afasta de Deus e se entrega ao pecado, sua conexão espiritual enfraquece, tornando mais difícil reconhecer e sentir a gravidade de suas ações. O apóstolo João relatando a mensagem de Jesus a igreja de Laodiceia, disse: “Assim, porque você é morno, não é frio nem quente, estou a ponto de vomitá-lo da minha boca” (Apocalipse 3:16). A apatia ou indiferença espiritual é comparada à temperatura morna que não é desejável e Jesus adverte sobre as consequências dessa condição. 

5.     Há o obscurecimento da verdade. O pecado pode obscurecer a compreensão da verdade espiritual. Quanto mais uma pessoa se afasta de Deus e se entrega ao pecado, mais difícil é o poder para discernir a verdade e enxergar a realidade espiritual com clareza. Por essa razão, Paulo escrevendo aos romanos disse: “Porque, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe renderam graças, mas os seus pensamentos tornaram-se fúteis e o coração insensato deles obscureceu-se” (Romanos 1:21). Neste versículo, Paulo está descrevendo a tendência da humanidade em suprimir a verdade sobre Deus e substituí-la por falsas crenças e idolatria. A recusa em reconhecer e glorificar a Deus leva ao obscurecimento da compreensão espiritual e ao entorpecimento do coração.

Por fim, é importante observar que o pecado que nos condena, pois não há salvação para aqueles que não são convencidos da seriedade dos seus pecados (MACARTHUR, 2016), não são inevitáveis nem irreversíveis. Há uma jornada rumo a redenção, que é através da mensagem do Evangelho que enfatiza o poder do arrependimento e do perdão de Deus para restaurar a sensibilidade espiritual e a relação com Ele. O reconhecimento do pecado, o arrependimento genuíno e o retorno à presença de Deus são considerados passos essenciais para reavivar a consciência e sensibilidade moral. 

Referência:

MACARTHUR, J.J. Sociedade sem pecado. São Paulo: Cultura Cristã, 2016.

 

Lembre-se: Rendam graças ao SENHOR, pois Ele é bom; o seu amor dura para sempre.

             Sola Scriptura - Solus Christus - Sola gratia - Sola fide e Soli Deo glória 


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