domingo, 28 de janeiro de 2024

A relevância da mansidão à luz de Filipenses 4:5

 


Está escrito:

“Que a amabilidade de vocês seja conhecida por todas as pessoas. Perto está o Senhor” (Filipenses 4:5).


A carta aos Filipenses, escrita por Paulo, é uma fonte rica de ensinamentos teológicos que continuam a orientar a vida cristã. O versículo em pauta destaca a importância da amabilidade ou mansidão, uma virtude muitas vezes negligenciada, mas crucial para a vivência do Evangelho.  Nesta breve reflexão, exploraremos as bases bíblicas e os insights de teólogos em relação a Filipenses 4:5, destacando sua aplicação prática no contexto da sociedade moderna.

 

A palavra-chave aqui é “amabilidade” ou “mansidão”, que nesse contexto, não é fraqueza, mas sim um caráter gentil, paciente e humilde. Jesus, o próprio Filho de Deus, é apresentado como o modelo máximo de mansidão (Mateus 11:29). Além disso, a proximidade do Senhor ressalta que a mansidão não é apenas uma qualidade social, mas uma atitude que reflete a nossa relação com Deus. A mansidão manifesta-se quando reconhecemos a soberania divina sobre todas as coisas e confiamos na providência de Deus.

 

Aliás, a manifestação da mansidão na vida do crente abrange diversas áreas e se reflete em atitudes, comportamentos e relacionamentos. Vejamos alguns aspectos dessa manifestação:

1.    Relacionamentos interpessoais: 

o   Paciência – a mansidão se manifesta na paciência diante das imperfeições e falhas dos outros. O crente manso não é facilmente irritado, mas suporta com graça as fraquezas alheias (Efésios 4:2 – “com toda humildade e mansidão; com paciência, suportando uns aos outros com amor”).

o   Humildade - a mansidão está intrinsecamente ligada à humildade. O crente manso reconhece sua dependência de Deus, evitando a arrogância e o orgulho (Colossenses 3:12 – “Portanto, como escolhidos de Deus, santos e amados, vistam-se de profunda compaixão, bondade, humildade, mansidão e paciência”).

o   Perdão – a capacidade de perdoar é uma expressão prática da mansidão. O crente manso não guarda ressentimentos, mas busca a reconciliação e o perdão, seguindo o exemplo de Cristo (Colossenses 3:13 – “Suportem uns aos outros e perdoem as queixas que tiverem uns contra os outros. Perdoem como o Senhor os perdoou”).

2.    Respostas a situações difíceis:

o   Controle emocional – a mansidão permite que o crente controle suas emoções em situações desafiadoras. Em vez de reagir impulsivamente, ele responde com calma e sabedoria, confiando em Deus como seu refúgio (Provérbios 15:1 – “A resposta calma desvia a fúria, mas a palavra ríspida desperta a ira”).

o   Resiliência – o crente manso não desiste facilmente diante das adversidades. Ele demonstra resiliência, confiando na soberania de Deus e mantendo a esperança mesmo em tempos difíceis (Romanos 12:12 – “Alegrem-se na esperança, sejam pacientes na tribulação, perseverem na oração”).

3.    Atitudes de serviço:

o   Serviço altruísta - a mansidão se expressa no serviço desinteressado aos outros. O crente manso busca atender às necessidades dos outros sem esperar reconhecimento ou recompensa (Gálatas 5:13 – “... sirvam uns aos outros por meio do amor”).

o   Diálogo construtivo – em discussões e debates, o crente manso busca o diálogo construtivo em vez de confrontos agressivos. Ele procura entender o ponto de vista do outro e contribuir para um ambiente de entendimento mútuo (Tiago 3:17 – “No entanto, a sabedoria que vem do alto é, antes de tudo, pura; depois, pacífica, amável, compreensiva, cheia de misericórdia e de bons frutos, imparcial e sincera”).

4.    Testemunho cristão:

o   Reflexo do caráter de Cristo – a mansidão na vida do crente é um testemunho poderoso do caráter de Cristo. O mundo observa a diferença nas reações e atitudes, e isso pode abrir portas para compartilhar o Evangelho (1Pedro 3:15 – “Antes, santifiquem Cristo como Senhor no coração de vocês. Estejam sempre preparados para responder a qualquer pessoa que pedir a razão da esperança que há em vocês”).

o   Atração para a verdade - a mansidão torna a mensagem do Evangelho mais atraente. Um crente manso, ao lidar com os outros, reflete a graça e o amor de Deus, tornando-se um canal eficaz para a proclamação da verdade (Colossenses 4:5-6 – “Sejam sábios quanto à sua maneira de viver para com os de fora, aproveitando ao máximo cada oportunidade. O seu falar seja sempre agradável e temperado com sal, para que saibam como responder a cada um”).

Os teólogos ao longo da história enfatizaram a importância da mansidão. Agostinho de Hipona, por exemplo, afirmou que a verdadeira grandeza reside na mansidão do espírito. João Calvino destacou a conexão entre a mansidão e a confiança em Deus, argumentando que quem está em paz com Deus será manso em relação aos outros. Essas contribuições destacam como a mansidão é central para uma vida cristã autêntica.

 

Num mundo marcado pela polarização, pela intolerância e pelo egoísmo, a mansidão emerge como um antídoto. Na esfera pessoal, a mansidão nos capacita a responder com paciência em situações difíceis, promovendo relacionamentos saudáveis. Na esfera social, a mansidão nos leva a ser agentes de reconciliação e construtores de pontes em vez de promotores de divisões.

 

No âmbito da política, a mansidão pode transformar o discurso público, substituindo a retórica agressiva pela busca de soluções colaborativas. Na esfera econômica, a mansidão motiva a justiça social, promovendo equidade e preocupação com os necessitados.

 

Portanto, Filipenses 4:5 não é apenas um conselho piedoso, mas uma chamada profunda para que os cristãos revelem a mansidão em todas as áreas de suas vidas. À luz da Bíblia e das contribuições teológicas, entendemos que a mansidão não é uma virtude obsoleta, mas uma resposta transformadora ao Evangelho de Cristo. Na sociedade moderna, ser conhecido pela mansidão é ser um reflexo tangível da presença do Senhor em nossas vidas. Que possamos, então, buscar ativamente viver uma vida caracterizada pela mansidão, tornando-nos agentes de transformação em um mundo que anseia por paz e justiça.

 

Ore comigo: Ó SENHOR Deus, faz-me manso e humilde como Jesus. Que a mansidão na minha vida seja visível nas minhas atitudes diárias, nas respostas a desafios e na maneira como me relaciono com as pessoas. Ao ser manso, quero me tornar um instrumento nas tuas mãos para a manifestação do teu Reino e a transformação da sociedade, em nome de Jesus. Amém!

 

Lembre-se: Rendam graças ao SENHOR, pois Ele é bom; o seu amor dura para sempre.

Sola Scriptura - Solus Christus - Sola gratia - Sola fide e Soli Deo glória

domingo, 21 de janeiro de 2024

Águas amargas


 Está escrito:

“Então, chegaram a Mara, mas não puderam beber das águas de lá porque eram amargas. Esta é a razão pela qual o lugar se chama Mara” (Êxodo 15:23).

 

A narrativa bíblica geralmente se apresenta como uma fonte rica de simbolismos e metáforas, transmitindo verdades espirituais profundas por meio de eventos e experiências vividas pelos personagens. Um episódio que ressoa com significado teológico profundo é encontrado no texto em análise, quando os filhos de Israel, recém-libertados da escravidão no Egito, se deparam com águas amargas em sua jornada pelo deserto.


O simbolismo das águas amargas neste contexto pode ser interpretado como um reflexo da amargura da condição humana, marcada pelo pecado e pelas dificuldades que surgem ao longo da vida. Razão pela qual o lugar se chama Mara, que no hebraico pode ter diferentes significados, dependendo do contexto, mas nesse caso o texto deixa claro que se trata de "amarga" ou "amargura". 


No entanto, o renomado teólogo contemporâneo Nicholas Thomas Wright oferece uma perspectiva esclarecedora sobre a relevância teológica das águas amargas. Ele sugere que as águas amargas representam não apenas as dificuldades físicas, mas também as lutas espirituais que os crentes enfrentam na jornada de suas vidas. Assim como os israelitas não podiam saciar sua sede nas águas amargas, os cristãos muitas vezes se deparam com situações na vida que parecem desafiadoras e aparentemente impossíveis de serem superadas sem a intervenção divina.


Eu não sei você, mas eu já atravessei o meu deserto e me vi diante das águas amargas. Foi um momento desesperador, na qual nunca imaginava vivenciar tamanha tribulação que me levou ao exílio e tirou-me totalmente da minha zona de conforto. Porém, sem entender o caos ao meu redor, percebi que diante daquelas águas amargas, o Senhor a transformou em águas purificadoras. Foi quando pude entender que a demonstração da bênção de Deus e do seu cuidado, me ajudaram a prosseguir na nova jornada de vida que se iniciara. Às vezes o Senhor nos leva às águas amargas para nos fazer perceber o real propósito de nossa vida. Agora, o meu grande prazer é servir a esse Deus poderoso que age em nosso favor.


A metáfora das águas amargas também encontra eco em outras partes da Bíblia. O livro de Jeremias, por exemplo, utiliza a imagem da água amarga como um símbolo do juízo divino sobre o pecado. Em Jeremias 9:15, lemos: “Por isso, assim diz o SENHOR dos Exércitos, o Deus de Israel: Vejam! Farei este povo comer comida amarga e beber água envenenada”. Aqui, a amargura da água é uma representação tangível das consequências amargas do afastamento de Deus e da desobediência à Sua vontade.


Contudo, as águas amargas também revelam a natureza graciosa de Deus. No mesmo relato em Êxodo, aprendemos que o Senhor instruiu Moisés a lançar uma árvore na água, tornando-a doce e potável. Esse ato milagroso não apenas fornece água para os sedentes israelitas, mas também aponta para a obra redentora de Deus na vida daqueles que confiam Nele.


O Novo Testamento também ecoa a temática das águas amargas. Em Hebreus 12:15, somos exortados: “Tomem cuidado para que ninguém se afaste da graça de Deus e para que nenhuma raiz de amargura, ao brotar, cause perturbação e contamine muitos”. Aqui, a raiz de amargura é retratada como um perigo espiritual que pode surgir quando nos afastamos da graça de Deus, lembrando-nos da importância de manter uma comunhão constante com o Criador.


Assim, quando um cristão se defronta com as águas amargas na jornada da vida, diversas atitudes fundamentais podem guiá-lo na busca por uma resposta fiel e centrada na fé diante dos desafios. Vejamos algumas orientações gerais que eu aprendi e que podem ser úteis:


1. Confie em Deus: o primeiro passo é confiar na soberania e no amor de Deus. Entender que Ele é o Senhor das circunstâncias e que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que O amam (Romanos 8:28), isso pode trazer paz mesmo em meio às águas amargas da vida.

2. Persista na oração: a oração é uma ferramenta poderosa para enfrentar as dificuldades. O cristão deve buscar a Deus em oração, expressando suas preocupações, pedindo orientação, força e creia na promessa de que a paz de Deus guardará os seus corações, conforme Filipenses 4:6-7.

3. Busque a Palavra de Deus: a imersão na Palavra de Deus é vital. Buscar orientação na Bíblia proporciona sabedoria e discernimento para lidar com situações difíceis. Meditar em passagens que falam sobre a fidelidade de Deus, Seu cuidado e promessas pode fortalecer a fé do cristão.

4. Tudo é um aprendizado para nosso crescimento espiritual:  enxergar as águas amargas como oportunidades de crescimento espiritual é essencial. Deus muitas vezes utiliza as dificuldades para aprimorar a fé, a paciência e a dependência d’Ele. Tiago 1:2-4 destaca a importância de considerar as provações como motivo de alegria, pois produzem perseverança.

5. Seja grato: mesmo em meio às dificuldades, cultivar uma atitude de gratidão pode transformar a perspectiva. Agradecer a Deus pelas bênçãos presentes, por Sua fidelidade e pelos momentos de doçura em meio às águas amargas ajuda a manter um coração grato.

6. Seja humilde e submeta-se a vontade de Deus: reconhecer a limitação humana e a soberania de Deus é fundamental. Jesus, no jardim do Getsêmani, exemplificou a humildade e a submissão à vontade do Pai (Mateus 26:39). O cristão deve estar disposto a aceitar a vontade de Deus, mesmo quando não compreende completamente os propósitos divinos.


Em conclusão, as águas amargas em Êxodo 15:23 oferecem uma visão teológica rica e multifacetada. Elas simbolizam as adversidades e as lutas espirituais que os crentes enfrentam, ao mesmo tempo em que destacam a misericórdia de Deus que transforma o amargo em doce. Este episódio serve como um convite para que nós possamos confiar na soberania de Deus, mesmo em meio às águas amargas da vida, confiantes de que Deus é capaz de tornar doce o que parece intragável.

 

Lembre-se: Rendam graças ao SENHOR, pois Ele é bom; o seu amor dura para sempre.

Sola Scriptura - Solus Christus - Sola gratia - Sola fide e Soli Deo glória


domingo, 14 de janeiro de 2024

O pecado e a igreja evangélica na pós-modernidade


Está escrito:

“Pois todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus” (Romanos 3:23).

 

A pós-modernidade trouxe consigo uma série de desafios à compreensão tradicional do pecado e à atuação da igreja. No contexto da tradição reformada, fundamentada na Sola Scriptura, a questão do pecado ganha uma dimensão singular. Nesta breve reflexão, exploraremos como a igreja evangélica brasileira pode abordar o tema do pecado numa sociedade que não acredita mais na existência do pecado, ou seja, uma sociedade sem pecado.

 

A doutrina reformada enfatiza a total depravação humana e a universalidade do pecado. O apóstolo Paulo escrevendo aos Romanos 3:23, declara: “pois todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus”. Na pós-modernidade, em que o relativismo moral é prevalente, a igreja evangélica pode oferecer uma perspectiva que reconhece a natureza caída do ser humano, independentemente das interpretações culturais.

 

É fato que a pós-modernidade influenciou a forma como as pessoas veem e interpretam o mundo, incluindo a moralidade e a ética. A noção de pecado, frequentemente ancorado em preceitos religiosos e morais absolutos, tem enfrentado desafios em meio à diversidade de visões de mundo. A rejeição de metanarrativas tem levado a uma abordagem mais individualizada do certo e errado, em que a subjetividade prevalece sobre normas objetivas. 

 

Nesse cenário, o conceito de pecado tem sido reinterpretado e, em alguns casos, até mesmo abandonado. Para MacArtur (2016), uma geração inteira de crentes é, agora, virtualmente ignorante quando ao pecado. Quando ouvem qualquer menção ao pecado, pensam que é rispidez, falta de amor, falta de cortesia. As tendências daqueles que usam as igrejas para amizades e dos que procuram ministros sensíveis somente aumentaram esse problema. 

 

Muitos argumentam que o pecado não pode mais ser considerado em termos absolutos, mas deve ser entendido como ações que ferem as relações interpessoais e sociais. A ênfase recai sobre a empatia, a inclusão e o respeito mútuo, substituindo uma visão que prioriza a obediência estrita a Palavra de Deus na Bíblia.

 

Além disso, a pós-modernidade muitas vezes propõe que não há padrões morais absolutos, tudo é relativo, mas isso contrasta com a cosmo visão cristã. O texto bíblico de Provérbios 14:12, ressalta que “há caminho que parece certo ao homem, mas no final conduz à morte”. A igreja evangélica pode apontar para esses princípios como um fundamento sólido para avaliar as afirmações relativistas.

 

Portanto, a igreja evangélica do Brasil, como instituição religiosa, deve enfrentar o desafio dessa nova realidade pós-moderna sem comprometer seus princípios fundamentais e não temer em propagar as verdades do Evangelho que condena o pecado, ao mesmo tempo em que não abandona o pecador e lhe oferece a graça irresistível da eleição, enfatizando que a salvação é unicamente pela graça de Deus e não pelas obras humanas. Efésios 2:8-9 sustenta esse ensinamento: “Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie”. A salvação é uma obra totalmente divina.

 

Apesar da ênfase na graça, a igreja também deve destacar a responsabilidade moral do crente. Tiago 2:17 afirma: “Assim também a fé, por si só, se não for acompanhada de obras, está morta”. Nesse sentido, a pós-modernidade, que muitas vezes favorece o individualismo em detrimento das ações concretas, pode ser desafiada a reconsiderar a importância da ética e da responsabilidade. 

 

De forma que, a igreja evangélica, ao compreender a natureza pecaminosa humana, é chamada a ser uma comunidade que valoriza o cuidado mútuo, a disciplina eclesiástica e o incentivo à santificação. O autor aos Hebreus 10:24 exorta os crentes a se reunirem para “incentivarmos ao amor e às boas obras”. Em contraste com a fragmentação social da pós-modernidade, a igreja pode oferecer um senso de pertencimento e responsabilidade uns pelos outros.

 

Assim, a tradição reformada, ao enfatizar a autoridade da Escritura, pode ser um ponto de ancoragem em meio à diversidade de perspectivas. Em 2 Timóteo 3:16-17 afirma: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra”. 

 

Sabe-se que a pós-modernidade frequentemente questiona questões éticas e sociais, e a igreja evangélica pode oferecer uma base sólida para o engajamento nessas áreas. A justiça social encontra respaldo em textos como Isaías 1:17, em que Deus exorta: “Aprendam a fazer o bem! Busquem a justiça, acabem com a opressão. Lutem pelos direitos do órfão, defendam a causa da viúva”. A igreja evangélica não pode ser omissa as questões emergentes na pós-modernidade, mas deve se engajar em questões de justiça social, direitos humanos, cuidado ambiental e outras preocupações globais. Isso não apenas demonstra o compromisso com valores éticos fundamentais, mas também pode ser uma maneira eficaz de se conectar com a sociedade contemporânea.

 

Em suma, a igreja evangélica brasileira, diante dos desafios da pós-modernidade, tem a oportunidade de oferecer uma abordagem sólida e bíblica em relação ao pecado e à redenção. Ao ancorar seus ensinamentos em textos sagrados que afirmam a natureza caída do ser humano, a universalidade do pecado, a graça divina e a responsabilidade do crente, a igreja pode responder de maneira relevante às questões contemporâneas. Ao mesmo tempo, em que deve permanecer aberta ao diálogo e ao engajamento com a cultura pós-moderna, aplicando o evangelho de Cristo a todas as esferas da vida.

 

Lembre-se: Rendam graças ao SENHOR, pois Ele é bom; o seu amor dura para sempre.

Sola Scriptura - Solus Christus - Sola gratia - Sola fide e Soli Deo glória


Referência:

MACARTHUR, John. Sociedade sem pecado: a igreja aceita o popular evangelho da autoestima ou reconhece a terrível realidade do pecado segundo a Bíblia? São Paulo: Cultura Cristã, 2016. 



domingo, 7 de janeiro de 2024

O caminho da maturidade cristã: avançando em Cristo

 

Está escrito:

“Irmãos, não penso que eu mesmo já o tenha alcançado; mas faço o seguinte: esquecendo-me das coisas que ficaram para trás e avançando para as que estão adiante, prossigo para o alvo, pelo prêmio do chamado celestial de Deus em Cristo Jesus” (Filipenses 3:13-14).

 

A passagem bíblica de hoje oferece uma profunda reflexão sobre o processo de crescimento espiritual e maturidade na vida do cristão. O apóstolo Paulo, ao escrever aos filipenses, compartilha insights valiosos que continuam a inspirar teólogos e cristãos ao longo dos séculos. Neste contexto, exploraremos a riqueza teológica desses versículos, a partir da compreensão de outros textos bíblicos.

 

O apóstolo Paulo em Filipenses 3:13-14, revela um imenso entendimento da jornada espiritual. Para compreender essa afirmação, podemos recorrer a teólogos como Agostinho de Hipona, que enfatizou a importância da busca constante pela união com Deus como um processo dinâmico, em que o crente não deve se contentar com conquistas passadas, mas deve buscar incessantemente um relacionamento mais profundo com Deus. 

 

Na perspectiva de Agostinho, como podemos buscar um relacionamento profundo com Deus? A busca por um relacionamento com Deus é uma jornada pessoal que envolve diversos aspectos da vida espiritual, emocional e prática. Podemos citar como exemplo:

1.     Oração contínua: desenvolva uma vida de oração constante, não apenas pedindo coisas, mas também ouvindo a voz de Deus e buscando Sua vontade.

2.     Estudo da Palavra de Deus: dedique tempo diário para estudar e meditar na Bíblia que é a revelação de Deus e a principal maneira de conhecermos a natureza e a vontade de Deus.

3.     Dependência do Espírito Santo: o Espírito Santo é muito importante em nossa vida. Permita que Ele o guie, capacite e transforme, moldando-o à imagem de Cristo.

4.     Culto em comunidade: participar de uma comunidade de fé fortalece a caminhada espiritual.

5.     Crescimento na adversidade: encare desafios e dificuldades como oportunidades de crescimento espiritual. Confie que Deus está trabalhando em todas as circunstâncias para o seu bem.

 

Além disso a ideia de “esquecendo-me das coisas que ficaram para trás” pode ser comparada à exortação de Jesus em Lucas 9:62, quando Ele afirma que “Ninguém que ponha a mão no arado e olhe para trás é apto para o reino de Deus”. Aqui, a ênfase recai sobre a renúncia das preocupações do passado, permitindo que o crente se concentre completamente na jornada espiritual presente. Embora, renunciar às preocupações do passado seja um desafio significativo, mas é uma parte crucial do caminho de crescimento espiritual. Porém algumas atitudes e práticas podem ajudar o crente, tais como: 

·    Arrependimento genuíno: reconheça e arrependa-se sinceramente dos erros do passado. O arrependimento é o primeiro passo para a transformação.

·      Aceitação da Graça: compreenda e aceite a graça de Deus. Reconheça que, através da fé em Jesus Cristo, você é perdoado e liberto do peso do pecado passado.

·      Foco no presente e no futuro: concentre-se no que você pode fazer agora e nas oportunidades que o futuro oferece.

·      Libertação de culpas injustas: liberte-se de culpas desnecessárias. Às vezes, carregamos culpas que não são merecidas. Entenda que não podemos mudar o passado, mas podemos influenciar o presente e o futuro.

Agora, a expressão “avançando para as que estão adiante” ressoa como a ênfase de John Wesley na santificação progressiva, destacando a necessidade de crescimento constante na graça e no conhecimento de Deus. Wesley acreditava que a maturidade cristã é um processo contínuo, uma jornada na qual os cristãos avançam em direção à perfeição cristã, vivendo uma vida cada vez mais semelhante à de Cristo.

 

Ao considerar “o alvo, pelo prêmio do chamado celestial de Deus em Cristo Jesus” somos lembrados das palavras de Paulo em 2Timóteo 4:7-8, em que ele declara: “Combati o bom combate, terminei a carreira, guardei a fé. Desde agora a coroa da justiça me está reservada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia, e não somente a mim, mas a todos os que amarem a sua vinda”. Aqui, a ênfase está na recompensa eterna reservada para aqueles que perseveram na fé até o fim.

 

Que aplicação prática podemos adotar, a partir de Filipenses 3:13-14? Buscando de forma contínua por Deus (Jeremias 29:13), renunciando o passado, santificando-se progressivamente (1Tessalonicenses 4:3) e tendo expectativas da recompensa eterna, essas coisas servem como motivação para perseverar na fé diante os desafios da vida. Ao adotar essas aplicações práticas no ano que se inicia é embarcar em uma jornada significativa de crescimento espiritual, avançando em Cristo, tendo a compreensão de que a maturidade cristã é um processo dinâmico e progressivo para viver uma vida que reflete os valores do Reino de Deus.

 

Lembre-se: Rendam graças ao SENHOR, pois Ele é bom; o seu amor dura para sempre.

Sola Scriptura - Solus Christus - Sola gratia - Sola fide e Soli Deo glória