domingo, 27 de agosto de 2023

Somente a fé (Sola fide)


 

Está escrito:

“justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo para todos os que creem” (Romanos 3:22)

 

A doutrina da “Somente a fé” é um dos princípios centrais da teologia cristã, especialmente na tradição reformada. Essa doutrina enfatiza que a salvação é obtida unicamente pela fé em Jesus Cristo, sem que as obras humanas tenham qualquer papel meritório para a obtenção da redenção. Nesta breve reflexão, exploraremos os argumentos que sustentam essa doutrina, baseando-nos em passagens bíblicas relevantes.

 

Em primeiro lugar, é importante destacar que a doutrina da “Somente a fé” encontra sua base na crença de que Jesus Cristo é o Filho de Deus, que veio ao mundo para redimir a humanidade do pecado. Essa convicção é fundamental para o cristianismo e é amplamente respaldada nas Escrituras. Um dos versículos mais conhecidos da Bíblia que corrobora para essa crença é João 3:16: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. 

 

Além disso, a salvação pela fé em Cristo também é enfatizada em Efésios 2:8-9, que diz: “Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie”. Essa passagem destaca que a salvação é um presente divino, não resultante de méritos humanos, mas alcançada somente por meio da fé.

 

Outro argumento teológico relevante é a doutrina da justificação pela fé, que é exemplificada no apóstolo Paulo e em sua teologia.  Em Romanos 3:22-24, Paulo escreve: “justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo para todos os que creem. Não há distinção, pois todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente por sua graça, por meio da redenção que há em Cristo Jesus”. Você pode estar se questionando, justiça de Deus mediante a fé!  Como é isso?

 

A justiça de Deus é mediante a fé porque a fé é a atitude do coração humano que reconhece sua própria incapacidade de alcançar a perfeição moral exigida por Deus e, ao mesmo tempo, confia plenamente na obra redentora de Jesus Cristo. Isso significa que, em vez de confiar em suas próprias obras ou méritos para se tornar justo diante de Deus, o ser humano deposita sua confiança no sacrifício de Cristo na cruz como suficiente para sua salvação. Além disso, existem várias razões para a justiça de Deus ser mediante a fé, vejamos ainda algumas delas:


·      A impossibilidade da perfeição humana. A Bíblia declara que todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus (Romanos 3:23). Nenhum ser humano pode cumprir plenamente a lei de Deus e viver de forma perfeita, tornando-se merecedor da salvação por suas próprias obras.


·      A graça e misericórdia de Deus. A salvação pela fé reflete a natureza graciosa e misericordiosa de Deus. Ele, em Seu amor, provê um caminho para a redenção, mesmo quando somos indignos por causa de nossos pecados. A fé é o meio pelo qual recebemos esse presente de Deus, que não pode ser obtido por nossos esforços humanos.


·      A obra consumada de Cristo. Jesus, o Filho de Deus, veio ao mundo para cumprir a lei e oferecer-se como sacrifício pelos pecados da humanidade. Seu sacrifício na cruz foi suficiente para pagar a penalidade pelos pecados de todos que colocam sua fé nEle. Ao confiar em Cristo e em Sua obra redentora, somos justificados diante de Deus.


·      Livre acesso a todos. A salvação pela fé está disponível a todas as pessoas, independentemente de suas origens, culturas, capacidades ou realizações. A fé é uma resposta simples, mas poderosa, que todos podem dar ao convite de Deus para se achegar a Ele por meio de Cristo.


·      Relacionamento com Deus. A fé é essencial para uma relação genuína com Deus. Ela envolve confiar em Sua Palavra, acreditar em Sua fidelidade e entregar nossa vida a Ele. Por meio da fé, somos adotados como filhos de Deus e recebemos o Espírito Santo para nos capacitar a viver em obediência e santidade.

     

Ainda em sua carta aos Gálatas, Paulo reforça a importância da fé para a salvação ao dizer: "sabemos que ninguém é justificado pela prática da Lei, mas mediante a fé em Jesus Cristo" (Gálatas 2:16). Aqui, ele se opõe à ideia de que as obras da lei podem justificar o homem e destaca que a fé em Cristo que nos torna justo diante de Deus.


Além disso, o autor da Epístola aos Hebreus também enfatiza a centralidade da fé na relação entre Deus e o ser humano. Em Hebreus 11:6, lemos: “sem fé é impossível agradar a Deus, pois quem dele se aproxima precisa crer que ele existe e que recompensa aqueles que o buscam”. Observe nessa passagem que fé é essencial para se relacionar com Deus e agradá-lo, pois ela expressa a confiança na existência de Deus e em Sua fidelidade para recompensar aqueles que O buscam. 

 

Em resumo, a doutrina da “Somente a fé” possui uma base sólida na Bíblia, com inúmeros versículos que enfatizam a importância da fé em Jesus Cristo para a salvação. Essa doutrina reforça que a redenção é um dom gracioso de Deus, e não algo que possamos conquistar por nossos próprios esforços ou obras. É por meio da fé em Cristo, reconhecendo-O como nosso Senhor e Salvador, que encontramos perdão, reconciliação com Deus e a promessa de vida eterna. Aleluia!

 

Lembre-se: Rendam graças ao SENHOR, pois Ele é bom; o seu amor dura para sempre.

Sola Scriptura - Solus Christus - Sola gratia - Sola fide e Soli Deo glória

domingo, 20 de agosto de 2023

Somente a Graça (Sola gratia)

 

Está escrito:

“Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus” (Efésios 2:8).

 

A doutrina da “Somente a Graça” é um conceito teológico fundamental dentro do cristianismo, que sustenta que a salvação do ser humano é alcançada unicamente pela graça de Deus, sem qualquer mérito humano envolvido. Essa crença tem raízes bíblicas e tem sido uma questão central de debates teológicos ao longo dos séculos. Nesta reflexão, examinaremos os principais argumentos teológicos que sustentam a doutrina da “Somente a Graça” para a salvação do homem. 

 

É importante ressaltar que essa doutrina está enraizada nas Escrituras, principalmente no Novo Testamento. No texto citado acima, a Palavra de Deus é clara ao afirmar que a salvação é um dom concedido por Deus, e não é algo que os seres humanos possam alcançar por meio de suas próprias ações ou esforços. Assim vejamos analisando o texto de Efésios 2:8.


·      Graça salvadora. O versículo começa destacando que a salvação do homem é exclusivamente resultado da graça de Deus. A teologia reformada enfatiza que a graça é o favor imerecido de Deus concedido aos pecadores. Nenhum esforço humano, obra ou mérito pode contribuir para a salvação. É puramente pela graça de Deus que a salvação é possível, “porque a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens” (Tito 2:11). 

     Neste versículo, o apóstolo Paulo, novamente ressalta a natureza salvadora da graça divina, que é estendida a toda a humanidade. Através da graça, Deus provê a salvação aos pecadores, independentemente de sua origem, posição social ou status espiritual anterior. Logo, a graça de Deus é o fundamento da salvação, e é somente por meio dela que podemos ser reconciliados com Deus e receber o perdão dos nossos pecados. Esse versículo explicita a universalidade da oferta salvadora de Deus, mostrando que a salvação está disponível para todos os que a recebem pela fé.


·      Mediante a fé. Embora a salvação seja completamente obra da graça de Deus, ela é recebida por meio da fé pela qual nos apropriamos da salvação oferecida por Deus. A teologia reformada destaca que até mesmo a fé é um dom de Deus, concedida pela operação do Espírito Santo nos corações dos eleitos. “Esta justiça de Deus vem mediante a fé em Jesus Cristo para todos os que creem. Não há distinção, pois todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente por sua graça, por meio da redenção que há em Cristo Jesus” (Romanos 3:22-24). Perceba que a salvação é um presente de Deus, recebido mediante a fé em Cristo, independentemente de nossos antecedentes ou obras.


·      Não vem de vós. O versículo reforça a ideia de que a salvação não é resultado de ações ou escolhas humanas. Nenhum indivíduo pode se gabar de ter contribuído para sua própria salvação, pois é Deus quem realiza o ato redentor por Sua graça.


·      Dom de Deus. O versículo termina afirmando que a salvação é um dom divino. Novamente, a teologia reformada destaca a soberania de Deus na salvação. Ele é o doador da graça salvadora e a salvação não depende da vontade ou desejo humano, mas é um presente gratuito concedido por Deus aos que Ele predestinou para a vida eterna. “Pois a vocês foi dado o privilégio de não apenas crer em Cristo, mas também de sofrer por ele” (Filipenses 1:29). Neste versículo, o apóstolo Paulo afirma que a capacidade de crer em Cristo não é apenas uma escolha ou habilidade humana, mas sim um presente concedido pela graça de Deus. A fé em Jesus Cristo é uma dádiva que é concedida aos crentes como parte do plano redentor de Deus. Portanto, a fé não é uma conquista humana, mas uma obra do Espírito Santo no coração daqueles que Deus escolheu para a salvação. Sem a graça de Deus agindo em nós, não teríamos a capacidade de crer e confiar em Cristo para a nossa salvação.


Além do que foi exposto, podemos acrescentar que a doutrina da “Somente a Graça” enfatiza a condição pecaminosa da humanidade. De acordo com a teologia cristã, a queda do homem por causa do pecado, provocou sua separação de Deus. Como resultado disso, todos os seres humanos nasceram em pecado e separados de Deus. Nesse contexto, a salvação torna-se impossível para o homem por seus próprios meios, pois nenhum esforço humano pode superar a natureza pecaminosa inerente ao ser humano.

 

De forma que, a doutrina da “Somente a Graça” destaca a justiça e a santidade de Deus. Deus é justo e santo, e Seu padrão para a humanidade é a perfeição moral. No entanto, devido à natureza pecaminosa da humanidade, todos nós estamos aquém desse padrão. Como resultado, estamos sujeitos à condenação e à punição pelos nossos pecados. Todavia, a graça de Deus intervém nessa situação desesperadora, oferecendo a salvação como um presente gratuito, concedido através do sacrifício de Jesus Cristo na cruz.

 

Diante dessa realidade doutrinária fica claro a incapacidade do homem de se salvar por meio de obras e ressalta a soberania de Deus na salvação. É Deus quem toma a iniciativa de salvar o homem, não o contrário. Ele é quem escolhe e predestina aqueles que receberão a salvação, como está escrito em Efésios 1:4-5, que diz: “Porque Deus nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis em sua presença. Em amor nos predestinou para sermos adotados como filhos, por meio de Jesus Cristo, conforme o bom propósito da sua vontade”.

 

Por fim, a doutrina da “Somente a Graça” enfatiza a glória e a gratidão a Deus pela salvação. Quando reconhecemos que a salvação é totalmente obra de Deus, experimentamos uma profunda humildade e gratidão por Sua misericórdia e amor incondicional. Essa compreensão nos leva a adorar e servir a Deus com alegria, sabendo que a salvação é um presente imerecido e que não há nada que possamos fazer para merecê-la.

 

Lembre-se: Rendam graças ao SENHOR, pois Ele é bom; o seu amor dura para sempre.

Sola Scriptura - Solus Christus - Sola gratia - Sola fide e Soli Deo glória

domingo, 13 de agosto de 2023

Somente Cristo (Solus Christus)

 


Está escrito:

“Respondeu Jesus: Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim” (João 14:6).

 

A doutrina do “Somente Cristo” é uma crença teológica fundamental no Cristianismo, enfatizando que Jesus Cristo é o único mediador entre Deus e a humanidade, e que somente através dele é possível a salvação. Essa doutrina se baseia em diversos argumentos teológicos que ressaltam a singularidade e suficiência do papel de Jesus Cristo na obra da redenção. Nesta breve reflexão, examinaremos alguns dos principais argumentos que sustentam a doutrina do “Somente Cristo”, apoiado pelas próprias palavras de Jesus registradas no Evangelho de João 14:6.

 

Essa passagem está inserida em um diálogo que ocorreu durante a Última Ceia, momentos antes da prisão e crucificação de Jesus. Nesse contexto, Jesus está falando aos seus discípulos, procurando consolá-los e prepará-los para os desafios que enfrentariam após sua partida. Assim, vejamos cada expressão dita por Jesus:

 

·      Eu sou o caminho. Jesus está enfatizando que Ele é o único meio, a única rota, pelo qual as pessoas podem se reconciliar com Deus e alcançar a salvação eterna. Essa declaração expressa a exclusividade de Jesus Cristo como mediador entre a humanidade e Deus. O caminho não é um conjunto de obras, méritos pessoais ou rituais religiosos, é uma pessoa – “Somente Cristo”.

·      Eu sou a verdade. Ressalta a natureza reveladora de Jesus. Ele é a encarnação da verdade divina, revelando o caráter e a vontade de Deus de forma plena e perfeita. Em outras passagens dos evangelhos, Jesus reivindica ser a verdade que liberta (João 8:32) e a verdade que santifica (João 17:17). Sua vida e ensinamento são a expressão suprema da verdade que ilumina os corações e mentes daqueles que o seguem.

·      Eu sou a vida. Realça que Jesus é a fonte e a origem da vida espiritual e eterna. Ele não apenas oferece a vida, mas Ele é a própria vida, a essência da vida em Deus. Em outras palavras, somente através de uma relação pessoal com Jesus é possível experimentar uma vida verdadeira e abundante, que transcende as limitações desta existência terrena e se estende à eternidade.

 

A segunda parte da afirmação de Jesus – Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim - enfatiza a centralidade de Cristo no plano da salvação. Isso implica que nenhuma outra pessoa, filosofia, religião ou crença pode conduzir alguém à comunhão com Deus e à vida eterna. Jesus é o único intercessor que nos reconcilia com o Pai.

 

Inegavelmente, a doutrina do “Somente Cristo” destaca a suficiência do sacrifício de Jesus na cruz para a expiação dos pecados. De acordo com a teologia cristã, o sacrifício de Cristo foi completo e perfeito, tendo como propósito oferecer redenção e perdão a todos os que creem. Boice (2003) afirma que a justificação devida somente a Cristo (Solus Christus) significa que Jesus realizou a obra necessária à salvação total e completamente, de forma que nenhum mérito da parte do homem, nenhum mérito dos santos, nenhuma obra nossa realizada aqui ou mais tarde no "purgatório", possa acrescentar algo à sua obra completa. Na verdade, qualquer tentativa de acréscimo ao trabalho de Cristo é uma deturpação do evangelho e, de fato, não é evangelho. Jesus é tudo para nós no evangelho.

 

Assim, ao examinar a epístola aos Hebreus, capítulo 10, observamos que o sacrifício de animais da Antiga Aliança não podia remover definitivamente os pecados do povo, mas o sacrifício de Cristo na cruz foi eternamente eficaz para perdoar os pecados da humanidade. Portanto, acreditando no sacrifício vicário de Jesus, os cristãos reconhecem que não há outra oferta, ritual ou mediação que possa se comparar à obra redentora de Cristo. 

 

Outro argumento relevante é a posição de Cristo como Sumo Sacerdote eterno e intercessor junto ao Pai. Ainda na Epístola aos Hebreus, encontramos Cristo sendo retratado como o Sumo Sacerdote perfeito, que não apenas ofereceu o sacrifício, mas também entrou no santuário celestial para interceder por seu povo. Isso é expresso em Hebreus 7:24-26, que diz: “mas, visto que vive para sempre, Jesus tem um sacerdócio permanente. Portanto, ele é capaz de salvar definitivamente aqueles que, por meio dele, se aproximam de Deus, pois vive sempre para interceder por eles. É de um sumo sacerdote como esse que precisávamos: santo, inculpável, puro, separado dos pecadores, exaltado acima dos céus”. Nesse sentido, a doutrina do “Somente Cristo” ressalta que Jesus não apenas removeu os pecados, mas também age como intercessor contínuo e mediador entre os crentes e Deus.

 

Ademais, a doutrina do “Somente Cristo” é fundamentada na crença da suficiência da Palavra de Deus, a Bíblia, que é vista como a revelação divina para a humanidade. A Bíblia testemunha a supremacia de Cristo e a centralidade de sua obra redentora em diversas passagens. Em Colossenses 1:15-20, por exemplo, é apresentado que Cristo é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação e nEle tudo foi criado e reconciliado. Portanto, os cristãos consideram a Bíblia como a autoridade final em questões teológicas e fundamentam suas crenças no que ela revela sobre a obra única de Cristo.

 

Por fim, a doutrina do “Somente Cristo” também destaca a essência do relacionamento pessoal e transformador com Jesus Cristo. Somente através da fé em Cristo que experimentamos a regeneração espiritual e recebemos o Espírito Santo para sermos transformados à imagem de Cristo. O apóstolo Paulo, em sua carta aos Gálatas, enfatiza que não é por obras da lei que somos justificados, mas pela fé em Cristo Jesus (Gálatas 2:16). Isso reforça a centralidade de Cristo como o meio de acesso a Deus e a fonte da vida espiritual. Encerro com as palavras de Boice (2003), que diz: “O único evangelho verdadeiro é o evangelho de 'um Mediador' que se deu por nós”, conforme está escrito em 1 Timóteo 2:5,6.

 

Lembre-se: Rendam graças ao SENHOR, pois Ele é bom; o seu amor dura para sempre.

Sola Scriptura - Solus Christus - Sola gratia - Sola fide e Soli Deo glória

 

Referência:

BOICE, J.M. O evangelho da graça: a aventura de restaurar a vitalidade da igreja com as doutrinas bíblicas que abalaram o mundo. São Paulo: Cultura Cristã, 2003.

domingo, 6 de agosto de 2023

Somente a Escritura (Sola Scriptura)


 Está escrito:

“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça” (2 Timóteo 3:16).

 

Desde os primórdios da história da Igreja Cristã, o debate sobre a fonte da autoridade teológica tem sido uma questão fundamental. “Somente a Escritura” ou “Sola Scriptura” é uma das principais doutrinas da Reforma Protestante, enfatizando que a Bíblia é a única fonte infalível e autorizada para a fé e a prática cristã. Nesta reflexão, exploraremos os argumentos teológicos que sustentam a crença de que somente as Escrituras devem ser a autoridade suprema no cristianismo.

 

A doutrina do “Somente a Escritura” se baseia em alguns princípios fundamentais, assim vejamos:


1. A inerrância e inspiração Divina. Nessa perspectiva acredita-se que a Bíblia é inspirada por Deus e, portanto, isenta de erros em todos os seus ensinamentos. Essa convicção sustenta a ideia de que, como uma obra inspirada por Deus, a Bíblia é a única fonte confiável para compreender Sua vontade e propósito. No versículo 16 de 2 Timóteo 3, o apóstolo Paulo afirma claramente que toda a Escritura (refere-se tanto ao Antigo como ao Novo Testamento) é inspirada por Deus, o que significa que sua origem é divina, vinda diretamente de Deus.

 

Além disso, ele destaca a utilidade das Escrituras para diversas finalidades: ensino, repreensão, correção e educação na justiça. Isso ressalta a importância da Bíblia como guia confiável para a fé e a prática cristã, oferecendo orientação e sabedoria para todos os aspectos da vida. Gosto da declaração de Boice (2003), quando afirma que a revelação de Deus na Escritura é perfeita, fiel, reta, pura, límpida, verdadeira, desejável, doce e recompensadora.

 

2. A unidade das Escrituras. A Bíblia é composta por 66 livros, escritos por diferentes autores ao longo de séculos, mas os defensores do “Somente a Escritura” afirmam que há uma unidade subjacente em toda a Palavra de Deus. Essa unidade é vista como uma evidência da coesão teológica e da singularidade das Escrituras, reforçando sua centralidade como guia para a fé. Disse Jesus: “Foi isso que eu falei enquanto ainda estava com vocês: Era necessário que se cumprisse tudo o que a meu respeito está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos” (Lucas 24:44).

 

Nessa passagem, Jesus está explicando aos seus discípulos que tudo o que aconteceu com Ele, incluindo sua morte e ressurreição, estava de acordo com o que fora escrito nas Escrituras do Antigo Testamento, que são divididas em três partes: a lei de Moisés, os Profetas e os Salmos. Perceba que os diversos livros do Antigo Testamento estão interligados, formando uma narrativa coesa que aponta para a vinda, vida e obra de Jesus Cristo. Isso é extraordinário, a Bíblia é uma obra unificada, com uma mensagem consistente e contínua e não uma coleção aleatória de escritos desconexos.  A unidade das Escrituras é um dos pilares que sustentam a doutrina do “Somente a Escritura”, pois reforça a ideia de que toda a Bíblia é a Palavra inspirada de Deus, revelando Sua vontade e propósito para a humanidade.

 

3. Evita que a tradição tenha autoridade equivalente. A Escritura também é uma resposta à tradição humana que, ao longo do tempo, se tornou equiparada ou até mesmo superior à autoridade das Escrituras em algumas correntes teológicas. A tradição não deve ser ignorada, mas deve ser avaliada e submetida ao crivo da Bíblia, evitando assim desvios doutrinários. Nesse sentido, Jesus disse: “E por que vocês transgridem o mandamento de Deus por causa da tradição de vocês?” (Mateus 15:3). 

 

Perceba que Jesus enfatiza a importância de priorizar a vontade de Deus, conforme revelada nas Escrituras, em detrimento de tradições ou normas humanas. O princípio subjacente é que a Bíblia deve ser a suprema autoridade para a fé e a prática cristã e qualquer tradição ou ensinamento deve ser submetido à Palavra de Deus para evitar desvios doutrinários e garantir uma compreensão correta dos ensinamentos divinos.

 

4. A acessibilidade e universalidade. A Bíblia, como a única fonte necessária para a compreensão da vontade de Deus, é considerada acessível a todos. Ela não requer uma autoridade clerical exclusiva para interpretá-la, permitindo que cada indivíduo, através da iluminação do Espírito Santo, compreenda a mensagem divina por si mesmo. O apóstolo Paulo destaca que a salvação é acessível a todos, independentemente de sua origem ou posição social, através da fé em Jesus Cristo: “Como diz a Escritura: ‘Todo o que nele confia jamais será envergonhado’. Não há diferença entre judeus e gentios, pois o mesmo Senhor é Senhor de todos e abençoa ricamente todos os que o invocam, porque ‘todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo’” (Romanos 10:11-13).

 

Essa passagem reforça o argumento da universalidade da mensagem do Evangelho e sua acessibilidade a todas as pessoas. A Bíblia não é um livro restrito a um grupo específico de pessoas, ela é para todos. Essa universalidade e acessibilidade do Evangelho são fundamentais na doutrina do “Somente a Escritura”, pois afirmam que a Palavra de Deus está disponível a todos os que desejam conhecê-la, independentemente de sua origem social, ela pode se aproximar de Deus através da leitura e estudo da Bíblia, buscando a salvação, por meio da fé em Jesus Cristo.

 

Portanto, “Somente a Escritura” é um princípio teológico fundamental para o cristão, enfatizando a centralidade da Bíblia como a única fonte infalível de autoridade divina. Essa perspectiva busca preservar a integridade da fé cristã, evitando a contaminação da tradição humana e enfatizando a unidade e coerência das Escrituras. É importante lembrar que a Bíblia é a base primária da fé cristã, também é essencial aplicar o amor, a graça e a sabedoria no estudo e interpretação das Escrituras, buscando a verdade em comunhão com outros irmãos e sob a orientação do Espírito Santo. Encerro com as palavras do Dr. James Montgomery Boice, pastor da Igreja Presbiteriana em Filadélfia: “Deus nos deu toda a orientação que precisamos na Bíblia”.

 

Lembre-se: Rendam graças ao SENHOR, pois Ele é bom; o seu amor dura para sempre.

Sola Scriptura - Solus Christus - Sola gratia - Sola fide e Soli Deo glória

 

Referência:

BOICE, J.M. O evangelho da graça: a aventura de restaurar a vitalidade da igreja com as doutrinas bíblicas que abalaram o mundo. São Paulo: Cultura Cristã, 2003.