domingo, 13 de agosto de 2023

Somente Cristo (Solus Christus)

 


Está escrito:

“Respondeu Jesus: Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim” (João 14:6).

 

A doutrina do “Somente Cristo” é uma crença teológica fundamental no Cristianismo, enfatizando que Jesus Cristo é o único mediador entre Deus e a humanidade, e que somente através dele é possível a salvação. Essa doutrina se baseia em diversos argumentos teológicos que ressaltam a singularidade e suficiência do papel de Jesus Cristo na obra da redenção. Nesta breve reflexão, examinaremos alguns dos principais argumentos que sustentam a doutrina do “Somente Cristo”, apoiado pelas próprias palavras de Jesus registradas no Evangelho de João 14:6.

 

Essa passagem está inserida em um diálogo que ocorreu durante a Última Ceia, momentos antes da prisão e crucificação de Jesus. Nesse contexto, Jesus está falando aos seus discípulos, procurando consolá-los e prepará-los para os desafios que enfrentariam após sua partida. Assim, vejamos cada expressão dita por Jesus:

 

·      Eu sou o caminho. Jesus está enfatizando que Ele é o único meio, a única rota, pelo qual as pessoas podem se reconciliar com Deus e alcançar a salvação eterna. Essa declaração expressa a exclusividade de Jesus Cristo como mediador entre a humanidade e Deus. O caminho não é um conjunto de obras, méritos pessoais ou rituais religiosos, é uma pessoa – “Somente Cristo”.

·      Eu sou a verdade. Ressalta a natureza reveladora de Jesus. Ele é a encarnação da verdade divina, revelando o caráter e a vontade de Deus de forma plena e perfeita. Em outras passagens dos evangelhos, Jesus reivindica ser a verdade que liberta (João 8:32) e a verdade que santifica (João 17:17). Sua vida e ensinamento são a expressão suprema da verdade que ilumina os corações e mentes daqueles que o seguem.

·      Eu sou a vida. Realça que Jesus é a fonte e a origem da vida espiritual e eterna. Ele não apenas oferece a vida, mas Ele é a própria vida, a essência da vida em Deus. Em outras palavras, somente através de uma relação pessoal com Jesus é possível experimentar uma vida verdadeira e abundante, que transcende as limitações desta existência terrena e se estende à eternidade.

 

A segunda parte da afirmação de Jesus – Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim - enfatiza a centralidade de Cristo no plano da salvação. Isso implica que nenhuma outra pessoa, filosofia, religião ou crença pode conduzir alguém à comunhão com Deus e à vida eterna. Jesus é o único intercessor que nos reconcilia com o Pai.

 

Inegavelmente, a doutrina do “Somente Cristo” destaca a suficiência do sacrifício de Jesus na cruz para a expiação dos pecados. De acordo com a teologia cristã, o sacrifício de Cristo foi completo e perfeito, tendo como propósito oferecer redenção e perdão a todos os que creem. Boice (2003) afirma que a justificação devida somente a Cristo (Solus Christus) significa que Jesus realizou a obra necessária à salvação total e completamente, de forma que nenhum mérito da parte do homem, nenhum mérito dos santos, nenhuma obra nossa realizada aqui ou mais tarde no "purgatório", possa acrescentar algo à sua obra completa. Na verdade, qualquer tentativa de acréscimo ao trabalho de Cristo é uma deturpação do evangelho e, de fato, não é evangelho. Jesus é tudo para nós no evangelho.

 

Assim, ao examinar a epístola aos Hebreus, capítulo 10, observamos que o sacrifício de animais da Antiga Aliança não podia remover definitivamente os pecados do povo, mas o sacrifício de Cristo na cruz foi eternamente eficaz para perdoar os pecados da humanidade. Portanto, acreditando no sacrifício vicário de Jesus, os cristãos reconhecem que não há outra oferta, ritual ou mediação que possa se comparar à obra redentora de Cristo. 

 

Outro argumento relevante é a posição de Cristo como Sumo Sacerdote eterno e intercessor junto ao Pai. Ainda na Epístola aos Hebreus, encontramos Cristo sendo retratado como o Sumo Sacerdote perfeito, que não apenas ofereceu o sacrifício, mas também entrou no santuário celestial para interceder por seu povo. Isso é expresso em Hebreus 7:24-26, que diz: “mas, visto que vive para sempre, Jesus tem um sacerdócio permanente. Portanto, ele é capaz de salvar definitivamente aqueles que, por meio dele, se aproximam de Deus, pois vive sempre para interceder por eles. É de um sumo sacerdote como esse que precisávamos: santo, inculpável, puro, separado dos pecadores, exaltado acima dos céus”. Nesse sentido, a doutrina do “Somente Cristo” ressalta que Jesus não apenas removeu os pecados, mas também age como intercessor contínuo e mediador entre os crentes e Deus.

 

Ademais, a doutrina do “Somente Cristo” é fundamentada na crença da suficiência da Palavra de Deus, a Bíblia, que é vista como a revelação divina para a humanidade. A Bíblia testemunha a supremacia de Cristo e a centralidade de sua obra redentora em diversas passagens. Em Colossenses 1:15-20, por exemplo, é apresentado que Cristo é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação e nEle tudo foi criado e reconciliado. Portanto, os cristãos consideram a Bíblia como a autoridade final em questões teológicas e fundamentam suas crenças no que ela revela sobre a obra única de Cristo.

 

Por fim, a doutrina do “Somente Cristo” também destaca a essência do relacionamento pessoal e transformador com Jesus Cristo. Somente através da fé em Cristo que experimentamos a regeneração espiritual e recebemos o Espírito Santo para sermos transformados à imagem de Cristo. O apóstolo Paulo, em sua carta aos Gálatas, enfatiza que não é por obras da lei que somos justificados, mas pela fé em Cristo Jesus (Gálatas 2:16). Isso reforça a centralidade de Cristo como o meio de acesso a Deus e a fonte da vida espiritual. Encerro com as palavras de Boice (2003), que diz: “O único evangelho verdadeiro é o evangelho de 'um Mediador' que se deu por nós”, conforme está escrito em 1 Timóteo 2:5,6.

 

Lembre-se: Rendam graças ao SENHOR, pois Ele é bom; o seu amor dura para sempre.

Sola Scriptura - Solus Christus - Sola gratia - Sola fide e Soli Deo glória

 

Referência:

BOICE, J.M. O evangelho da graça: a aventura de restaurar a vitalidade da igreja com as doutrinas bíblicas que abalaram o mundo. São Paulo: Cultura Cristã, 2003.

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