domingo, 6 de agosto de 2023

Somente a Escritura (Sola Scriptura)


 Está escrito:

“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça” (2 Timóteo 3:16).

 

Desde os primórdios da história da Igreja Cristã, o debate sobre a fonte da autoridade teológica tem sido uma questão fundamental. “Somente a Escritura” ou “Sola Scriptura” é uma das principais doutrinas da Reforma Protestante, enfatizando que a Bíblia é a única fonte infalível e autorizada para a fé e a prática cristã. Nesta reflexão, exploraremos os argumentos teológicos que sustentam a crença de que somente as Escrituras devem ser a autoridade suprema no cristianismo.

 

A doutrina do “Somente a Escritura” se baseia em alguns princípios fundamentais, assim vejamos:


1. A inerrância e inspiração Divina. Nessa perspectiva acredita-se que a Bíblia é inspirada por Deus e, portanto, isenta de erros em todos os seus ensinamentos. Essa convicção sustenta a ideia de que, como uma obra inspirada por Deus, a Bíblia é a única fonte confiável para compreender Sua vontade e propósito. No versículo 16 de 2 Timóteo 3, o apóstolo Paulo afirma claramente que toda a Escritura (refere-se tanto ao Antigo como ao Novo Testamento) é inspirada por Deus, o que significa que sua origem é divina, vinda diretamente de Deus.

 

Além disso, ele destaca a utilidade das Escrituras para diversas finalidades: ensino, repreensão, correção e educação na justiça. Isso ressalta a importância da Bíblia como guia confiável para a fé e a prática cristã, oferecendo orientação e sabedoria para todos os aspectos da vida. Gosto da declaração de Boice (2003), quando afirma que a revelação de Deus na Escritura é perfeita, fiel, reta, pura, límpida, verdadeira, desejável, doce e recompensadora.

 

2. A unidade das Escrituras. A Bíblia é composta por 66 livros, escritos por diferentes autores ao longo de séculos, mas os defensores do “Somente a Escritura” afirmam que há uma unidade subjacente em toda a Palavra de Deus. Essa unidade é vista como uma evidência da coesão teológica e da singularidade das Escrituras, reforçando sua centralidade como guia para a fé. Disse Jesus: “Foi isso que eu falei enquanto ainda estava com vocês: Era necessário que se cumprisse tudo o que a meu respeito está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos” (Lucas 24:44).

 

Nessa passagem, Jesus está explicando aos seus discípulos que tudo o que aconteceu com Ele, incluindo sua morte e ressurreição, estava de acordo com o que fora escrito nas Escrituras do Antigo Testamento, que são divididas em três partes: a lei de Moisés, os Profetas e os Salmos. Perceba que os diversos livros do Antigo Testamento estão interligados, formando uma narrativa coesa que aponta para a vinda, vida e obra de Jesus Cristo. Isso é extraordinário, a Bíblia é uma obra unificada, com uma mensagem consistente e contínua e não uma coleção aleatória de escritos desconexos.  A unidade das Escrituras é um dos pilares que sustentam a doutrina do “Somente a Escritura”, pois reforça a ideia de que toda a Bíblia é a Palavra inspirada de Deus, revelando Sua vontade e propósito para a humanidade.

 

3. Evita que a tradição tenha autoridade equivalente. A Escritura também é uma resposta à tradição humana que, ao longo do tempo, se tornou equiparada ou até mesmo superior à autoridade das Escrituras em algumas correntes teológicas. A tradição não deve ser ignorada, mas deve ser avaliada e submetida ao crivo da Bíblia, evitando assim desvios doutrinários. Nesse sentido, Jesus disse: “E por que vocês transgridem o mandamento de Deus por causa da tradição de vocês?” (Mateus 15:3). 

 

Perceba que Jesus enfatiza a importância de priorizar a vontade de Deus, conforme revelada nas Escrituras, em detrimento de tradições ou normas humanas. O princípio subjacente é que a Bíblia deve ser a suprema autoridade para a fé e a prática cristã e qualquer tradição ou ensinamento deve ser submetido à Palavra de Deus para evitar desvios doutrinários e garantir uma compreensão correta dos ensinamentos divinos.

 

4. A acessibilidade e universalidade. A Bíblia, como a única fonte necessária para a compreensão da vontade de Deus, é considerada acessível a todos. Ela não requer uma autoridade clerical exclusiva para interpretá-la, permitindo que cada indivíduo, através da iluminação do Espírito Santo, compreenda a mensagem divina por si mesmo. O apóstolo Paulo destaca que a salvação é acessível a todos, independentemente de sua origem ou posição social, através da fé em Jesus Cristo: “Como diz a Escritura: ‘Todo o que nele confia jamais será envergonhado’. Não há diferença entre judeus e gentios, pois o mesmo Senhor é Senhor de todos e abençoa ricamente todos os que o invocam, porque ‘todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo’” (Romanos 10:11-13).

 

Essa passagem reforça o argumento da universalidade da mensagem do Evangelho e sua acessibilidade a todas as pessoas. A Bíblia não é um livro restrito a um grupo específico de pessoas, ela é para todos. Essa universalidade e acessibilidade do Evangelho são fundamentais na doutrina do “Somente a Escritura”, pois afirmam que a Palavra de Deus está disponível a todos os que desejam conhecê-la, independentemente de sua origem social, ela pode se aproximar de Deus através da leitura e estudo da Bíblia, buscando a salvação, por meio da fé em Jesus Cristo.

 

Portanto, “Somente a Escritura” é um princípio teológico fundamental para o cristão, enfatizando a centralidade da Bíblia como a única fonte infalível de autoridade divina. Essa perspectiva busca preservar a integridade da fé cristã, evitando a contaminação da tradição humana e enfatizando a unidade e coerência das Escrituras. É importante lembrar que a Bíblia é a base primária da fé cristã, também é essencial aplicar o amor, a graça e a sabedoria no estudo e interpretação das Escrituras, buscando a verdade em comunhão com outros irmãos e sob a orientação do Espírito Santo. Encerro com as palavras do Dr. James Montgomery Boice, pastor da Igreja Presbiteriana em Filadélfia: “Deus nos deu toda a orientação que precisamos na Bíblia”.

 

Lembre-se: Rendam graças ao SENHOR, pois Ele é bom; o seu amor dura para sempre.

Sola Scriptura - Solus Christus - Sola gratia - Sola fide e Soli Deo glória

 

Referência:

BOICE, J.M. O evangelho da graça: a aventura de restaurar a vitalidade da igreja com as doutrinas bíblicas que abalaram o mundo. São Paulo: Cultura Cristã, 2003.