domingo, 28 de setembro de 2025

Renovando a mente para viver a vontade de Deus - Parte 1


Está escrito:

Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que vocês experimentem a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Romanos 12:2 - NVI).

 

Vivemos em um tempo em que valores, tendências e ideais mudam mais rápido do que conseguimos acompanhar. Nesse cenário, o apelo de Paulo em Romanos 12:2 ecoa com uma urgência que atravessa os séculos. Não é apenas um conselho espiritual; é um projeto de vida radical. Ele nos convida a uma contracultura divina – onde a transformação verdadeira não acontece de fora para dentro, mas de dentro para fora. 

O termo grego traduzido como “amoldem” traz a ideia de assumir a forma de algo, como quem se encaixa num molde. Exemplificando: é como o camaleão, que muda de cor para se misturar ao ambiente. O mundo, com seu consumismo, individualismo e sede por poder e prazer, exerce uma pressão constante e silenciosa para nos conformar aos seus padrões. É o famoso “Maria vai com as outras” – deixando que a mídia, as redes sociais e até conversas do dia a dia ditem quem somos e como pensamos.

No entanto, o evangelho aponta para outro caminho. Somos chamados a ser sal e luz, vivendo de forma que a nossa diferença revele Cristo. Como bem observou o teólogo John Stott no seu livro A mensagem de Romanos, a não-conformidade como o mundo é um pré-requisito para a verdadeira santidade e fruto de uma mente renovada.

E é aí que Paulo aponta o gatilho da mudança: “a renovação da mente”, ou seja, uma renovação completa, uma mudança de estado que leva a uma nova perspectiva. Para a Bíblia, mente não é só intelecto; é o centro da vontade, das emoções e da forma como interpretamos a realidade. Por isso, a batalha da vida cristã é, em grande parte, travada na mente.

Essa renovação é algo contínuo, como Paulo também ensina em Efésios 4:23: “a serem renovados no espírito do entendimento de vocês”. E em Filipenses 4:8, ele nos dá um roteiro prático: “Finalmente, irmãos, tudo o que for verdadeiro, tudo o que for de boa fama, se houver algo de excelente ou digno de louvor, pensem nessas coisas”.  A mente renovada é aquela que se alimenta da Palavra, se enche das coisas de Deus e se afasta de tudo o que contamina. 

Não é mágica, é processo. É a nossa decisão de nos render a Deus unida à obra transformadora do Espírito Santo, que nos concede “a mente de Cristo” (cf. 1Coríntios 2:16). Isso muda não só a forma como pensamos, mas também o que passamos a desejar. Mas, qual é o resultado? Paulo nos responde: “experimentar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”.

O termo “experimentar” no grego significa provar, testar e aprovar para verificar sua qualidade. Em outras palavras, a mente transformada não apenas entende a vontade de Deus, mas vive essa vontade. A vontade de Deus, que muitas vezes parece um mistério ou uma lista de “nãos”, é aqui descrita como boa, agradável e perfeita. Ela é boa porque nos conduz ao melhor que podemos ser; agradável, porque produz paz e satisfação genuína; e perfeita, sem falhas, refletindo o caráter de Deus. 

Assim, quando nossa mente se alinha com a de Cristo, passamos a desejar o que Ele deseja e a amar o que Ele ama. O que antes era uma chatice, agora se torna um prazer. Talvez você pergunte: “E o que a vontade de Deus diz sobre os dilemas de hoje? 

A vontade boa, agradável e perfeita de Deus sempre foi e sempre será coerente com o caráter de Deus revelado nas Escrituras, e isso vale também para os dilemas de nossos dias. Mesmo que a Bíblia não mencione diretamente sobre IA, bioética, mudanças climáticas, economia digital ou redes sociais, ela oferece princípios eternos para discernir a vontade de Deus em qualquer tempo:

1. A vontade de Deus é boa – promove vida e preserva o que Ele criou. Por exemplo, diante de dilemas ambientais, cuidar da criação é parte da vontade de Deus (Gênesis 2:15; Salmo 24:1).

2. A vontade de Deus é agradável – gera paz, justiça e reconciliação. Em dilemas sociais e políticos, como desigualdade ou preconceito, a vontade de Deus busca a reconciliação e a justiça (Miqueias 6:8; 2 Coríntios 5:18). Em questões de imigração, inclusão social ou conflitos raciais, o filtro bíblico é: isso promove reconciliação e dignidade humana?

3. A vontade de Deus é perfeita – é completa, sem contradições e eternamente válida. Nos dilemas éticos da ciência e tecnologia (como edição genética ou IA), a vontade perfeita de Deus nos lembra que os fins não justificam os meios. A dignidade humana, criada à imagem de Deus (Gênesis 1:27), é inviolável – nenhum avanço deve custar a destruição dessa imagem.

Mas, se ainda restar dúvida, pergunte a si mesmo:

1. Isso glorifica a Deus?

2. Isso expressa amor e valor pelo próximo?

3. Isso está alinhado com a verdade das Escrituras?

Se a resposta for sim para todas, é um bom indicativo de que estamos no caminho certo.

No fim, em um mundo que nos empurra para a conformidade, o convite de Romanos 12:2 é simples e profundo: liberdade. Liberdade de não viver preso ao molde do mundo. Liberdade de seguir o padrão de Cristo. Quando nossa mente se submete a Deus, nossa vida se torna um reflexo vivo da Sua boa, agradável e perfeita vontade.

No próximo domingo daremos continuidade a esta mensagem.

Referências:

STOTT, John. A mensagem de Romanos: o plano de Deus para a salvação. São Paulo: ABU, 2000.

 

Lembre-se: Rendam graças ao SENHOR, pois Ele é bom; o seu amor dura para sempre.

Sola Scriptura - Solus Christus - Sola gratia - Sola fide e Soli Deo glória

Christós kyrios

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