Está escrito em Colossenses 3:13 (NVI):
“Suportem uns aos outros e perdoem as queixas que tiverem uns contra os outros. Perdoem como o Senhor os perdoou”.
O chamado para viver o perdão como um estilo de vida é uma das marcas mais profundas do cristianismo. Quando Paulo escreveu aos colossenses, ele sabia que a vida em comunidade traria inevitáveis atritos, mágoas e desentendimentos. Por isso, orienta: “Perdoem como o Senhor os perdoou”. Essa instrução não se limita a um ato isolado, mas propõe uma maneira constante de se relacionar. O apóstolo fundamenta essa prática no exemplo supremo do perdão de Deus em Cristo, estabelecendo o perdão como expressão contínua da nova vida em comunidade cristã.
Não somos chamados a perdoar porque o outro merece, mas porque nós mesmos fomos perdoados em Cristo. Quando lembramos do preço que Jesus pagou por nossos pecados (Romanos 5:8), compreendemos que o perdão que oferecemos é um reflexo da graça que recebemos.
Além disso, Jesus também nos ensinou, em Mateus 6:14-15, que o perdão é tão essencial que está diretamente ligado à nossa comunhão com Deus: se perdoarmos, seremos perdoados; se não perdoarmos, fechamos o coração para a graça. O teólogo Dietrich Bonhoeffer alertou sobre o “custo da graça barata”, afirmando que o perdão exige um coração verdadeiramente transformado.
O contexto da carta aos Colossenses revela uma preocupação pastoral de Paulo com a unidade e a maturidade espiritual da igreja. Após afirmar a nova identidade dos crentes em Cristo (Cl 3:1-10), ele descreve o “vestuário” espiritual que caracteriza essa nova humanidade – entre eles a compaixão, a bondade e, de maneira especial, o perdão (Cl 3:12-14).
C. S. Lewis disse: “Todos dizem que o perdão é uma ideia maravilhosa até que tenham algo a perdoar”. Essa reflexão revela a luta interior que todo cristão enfrenta entre o desejo de justiça pessoal e o chamado para a graça. Perdoar dói. Perdoar exige humildade. Mas o perdão é libertador. Como declarou Martinho Lutero, “Perdoar é libertar um prisioneiro e descobrir que o prisioneiro era você mesmo”.
Outros textos bíblicos ecoam essa mesma urgência:
Efésios 4:32: “Sejam bondosos e compassivos uns para com os outros, perdoando-se mutuamente, assim como Deus os perdoou em Cristo”.
Mateus 6:14-15: “Pois, se perdoarem as ofensas uns dos outros, o Pai celestial também lhes perdoará. Mas se não perdoarem uns aos outros, o Pai celestial não lhes perdoará as ofensas”.
Lucas 17:3-4: “Se o seu irmão pecar, repreenda-o e, se ele se arrepender, perdoa-lhe. Se pecar contra você sete vezes no dia, e sete vezes voltar a você e disser: ‘Estou arrependido’, perdoe-lhe”.
Essas passagens mostram que o perdão não é opcional para o discípulo de Cristo, mas uma consequência natural de quem foi profundamente alcançado pela graça de Deus.
Em um mundo cheio de ódio, ressentimento e divisão, o perdão é um testemunho poderoso. Ele demostra que a graça de Deus é real e transformadora. Viver o perdão é encarnar o evangelho na prática diária. O teólogo John Stott observou que “o perdão é tão necessário para a comunidade cristã quanto o ar é para o corpo humano”. Sem ele, a vida comunitária se torna sufocada, pesada e cheia de ressentimentos. Portanto, a base do perdão cristão não é o mérito do outro, mas o amor gracioso de Deus manifestado em Cristo (Romanos 5:8).
Assim, em uma sociedade marcada pela cultura do cancelamento, da vingança digital e das relações superficiais, viver o perdão como estilo de vida é um testemunho ainda mais relevante da graça de Deus.
Logo, perdoar no dia a dia significa:
- Renunciar ao direito de retribuir a ofensa.
- Escolher a reconciliação sempre que possível.
- Orar sinceramente pelos que nos feriram (Mateus 5:44).
- Lembrar que, assim como precisamos de perdão diariamente, também devemos oferecê-lo diariamente.
Isso se aplica aos relacionamentos familiares, ao ambiente de trabalho, à convivência na igreja e até mesmo às interações online. Um coração disposto a perdoar é uma luz em meio à escuridão do ódio e da divisão. Ao adotar o perdão como estilo de vida não apenas promovemos a paz ao nosso redor, mas também nos libertamos da amargura e do peso emocional que o rancor gera (Hebreus 12:15).
É importante destacar que perdoar não significa esquecer instantaneamente a dor, mas escolher, dia após dia, não retribuir o mal. Muitos conflitos familiares surgem de mágoas acumuladas. Efésios 4:26-27 adverte: “Não deixem que o sol se ponha sobre a sua ira”. Aplicar o perdão diariamente impede que a raiz de amargura cresça em nossos corações.
Em suma, viver o perdão como estilo de vida é, antes de tudo, viver o evangelho. É demonstrar, em atitudes cotidianas, o amor redentor que recebemos de Deus. A partir da graça que nos alcançou, somos chamados a ser canais de graça para os outros. Que possamos, a cada dia, lembrar as palavras de Paulo: “Perdoem como o Senhor os perdoou” (Cl 3:13).
Que o cristão contemporâneo abrace essa prática como um compromisso de fé, cultivando uma vida que reflita a misericórdia e o amor do nosso Senhor Jesus Cristo.
Permita-me orar com você:
Senhor, obrigado pelo Teu perdão em minha vida. Ajude-me a perdoar assim como fui perdoado. Livra-me do peso da mágoa e torna o perdão uma prática diária em meu caminhar.
Que minha vida reflita a graça que recebi de Ti. Em nome de Jesus, amém!
Referências:
BONHOEFFER, D. Discipulado. São Paulo: Mundo Cristão, 2016
LEWIS, C. S. Cristianismo puro e simples. São Paulo: Thomas Nelson Brasil, 2007.
LUTERO, M. Obras selecionadas. Vol. 5: Oração, Meditação e Tentação. São Leopoldo: Sinodal, 1995.
STOTT, J. A mensagem de Efésios: a nova sociedade de Deus. São Paulo: ABU, 1995.
Lembre-se: Rendam graças ao SENHOR, pois Ele é bom; o seu amor dura para sempre.
Sola Scriptura - Solus Christus - Sola gratia - Sola fide e Soli Deo glória
Christós kyrios
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