sexta-feira, 8 de junho de 2012

Ocupações supostamente subalternas

SANTOS, L.A.C.; FARIA, L. As ocupações supostamente subalternas: o exemplo da enfermagem brasileira. Saúde Soc., v.17, n. 2, p. 35-44, 2008.
Esse estudo retrata a história da formação de educadores sanitaristas e enfermeiras de saúde pública na primeira metade do séc. XX.  O estudo se apóia na literatura histórico-sociológica que discute o movimento de configuração do campo da saúde pública e o debate sobre a nacionalidade e  constituição de identidades profissionais no campo do cuidar. Ressalta a formação de novas categorias e um modelo de profissionalização baseado na "feminização" da atenção ao paciente e às famílias. Os autores discutem a formação das profissionais e a organização do campo de trabalho com a atuação das visitadoras da Educação Sanitária e da Enfermagem de Saúde Pública e o poder médico.
Leiam o texto e façam seus comentários.

5 comentários:

Alberiza disse...

As Ocupações Supostamente Subalternas : O exemplo da enfermagem brasileira.

O artigo trata-se de um estudo da formação de educadores sanitárias e enfermeiras de saúde pública na primeira metade do século 20 ,com o apoio da literatura histórico-sociológico que discute o movimento de configuração do campo da saúde publica iniciado nos anos de 1920 e estreitamente ligado aos debates sobre a nacionalidade e a constituição de identidade profissionais no campo do cuidar. A história da formação de educadores é um desafio para o estudo de identidades profissionais, procurando sublinhar o processo de profissionalização da mulher brasileira no campo da saúde, ao longo da primeira república, trazendo as questões atuais de construção de identidade profissional das profissões de saúde. Apesar de os atributos de classe favorecerem as educadoras na luta pela distinção, foram as enfermeiras, recrutadas mais democraticamente que se destacaram. Hoje a trama desigual no território da saúde da família parece ganhar um sentido ainda mais problemático, do ponto de vista da política institucional. As comparações e a competitividade dentro dos membros no interior das profissões de saúde. O mesmo se dá nos dias atuais, no interior das equipes de saúde da família, os centros e postos de saúde possibilitam a proximidade dos novos profissionais da saúde.
As lutas e negociações que se desdobram, em nossos dias, em vários países revelam problemas entre as profissões, e no interior da própria profissão. No Brasil, a esses problemas somam-se dilemas típicos do corporativismo particulares, tais como a tentativa atual de grupos médicos de garantir territórios cartoriais e limitar o exercício de atribuições comuns, bem como o autoritarismo sindical dos conselhos classistas, as enfermeiras de saúde pública cedo se firmaram como movimento coletivo, criaram sua própria associação .
A especificidade histórica da divisão do trabalho profissional em relação a divisão social do trabalho envolve, na concepção clássica de Durkheim, acumulação do saber, o monopólio sobre uma esfera do trabalho e uma deontologia que, ao tempo que une os praticantes em torno de um conjunto de preceitos e condutas éticas, assegura-lhes condições de coesão associativa e controle ou avaliação da atuação de seus membros. A enfermagem de saúde pública ocupa espaço importantes, não somente como parte destacada das equipes multiprofissionais, mas pela supervisão do programa de agentes comunitários da saúde a visitação das famílias foi um marco, a conformação de uma organização social da prática do cuidar foi uma condição necessária que desde 1925no Brasil tem sido de mera importância um trabalho multiprofissional e particularmente de educação sanitária, com novas transformações da saúde pública sendo favorável para o surgimento de novas profissões da saúde.
A sociologia francesa das profissões tem no estudo de Dubar e Tripier um de seus pontos altos, pela contribuição metodológica da sociologia histórica, destacando a importância do pensamento de Durkheim em relação aos padrões ético- normativo das associações profissionais.A enfermagem trouxe uma bagagem do que hoje chamaríamos de técnicas de intervenções social, particularmente naqueles países, a exemplo do Brasil, onde se organizou em associações.
Nesse contexto as práticas e as estratégias do profissionalismo no campo da enfermagem terá novos desafios para serem alcançados dentro da área de saúde

Anônimo disse...

As ocupações supostamente subalternas: o exemplo da enfermagem brasileira

Diante das dificuldades no processo de profissionalização da mulher brasileira no campo da saúde, em especial de enfermeiras, ao longo da primeira república, decorrente da subordinação hierárquica ao poder médico.
Do ponto de vista historiográfico e sociológico, o tema da enfermagem no Brasil, ocupa ainda espaço de segunda classe, diferentemente do que se passa no exterior, onde o tema tem lugar de destaque há várias décadas. Com relação à formação de educadoras sanitárias paulistas e de enfermeiras de saúde pública, paulistas e fluminenses, precursoras do ensino da saúde pública em nosso país, observou-se, desde a década de 1920, uma dificuldade na busca da identidade dessas profissões emergentes.
À medida que o movimento de configuração do “campo sanitário” buscava instaurar novas práticas e concepções, exigia, ao mesmo tempo, o concurso de novos agentes, acentuando-se a especialização em saúde pública ou higiene. Naquela época, a formação dessas novas profissionais brasileiras e a difusão da educação sanitária eram feitas nos cursos de higiene e saúde pública, oferecidos por poucas instituições brasileiras.
Resultante da superioridade de organização e de vínculos institucionais mantidos pelas enfermeiras, essas foram substituindo gradativamente, desde a década de 1940, as visitadoras educadoras. A soma das atividades que envolveram os dois perfis profissionais, tiveram um efeito multiplicador, pois os centros de saúde e postos de higiene institucionalizaram-se como espaço de atenção à saúde.
Diversas lutas foram travadas no campo de atuação da enfermagem, principalmente no que tange ao perfil feminino da profissão. Mesmo com a subordinação de gênero, foi no campo emergente das profissões que a mulher pôde afirmar-se fora do circuito maternal, familiar ou doméstico. Não obstante, a enfermagem era considerada pelas profissões dominantes como “quase profissionais”, a exemplo do corporativismo particularista dos médicos, limitando o exercício e as atribuições dessas profissionais.
Diversos fatores contribuíram para difusão de uma ideologia do profissionalismo, entre eles se destaca o processo de urbanização, a partir dos anos de 1920, aumentando a necessidade de uma ação estatal voltada para o surgimento de epidemias nas cidades, resultado do processo de modernização. Nesse processo as educadoras sanitárias e a enfermeira de saúde pública, firmaram-se definitivamente no campo, principalmente pelo controle das práticas de educação sanitária nos centros e postos de saúde e nas visitas às famílias.
No próprio ambiente hospitalar, onde o poder médico é predominante, observamos um espaço cada vez aumentado para a enfermagem, principalmente com relação aos cuidados paliativos, onde os pacientes são totalmente dependentes. Com relação à atuação de enfermeiras na saúde pública, percebemos uma posição de destaque dessas profissionais, principalmente pela supervisão do programa de agentes comunitários de saúde. Sendo assim, a organização da prática do cuidar no campo da saúde pública foi essencial para a atuação de equipes multiprofissionais em educação sanitária, dando espaço à criação de novas profissões da saúde e da capacidade de liderança e domínios de saberes e práticas da enfermagem.

Karla Dayanne

Rafaela Gerbasi disse...

AS OCUPAÇÕES SUPOSTAMENTE SUBALTERNAS: O EXEMPLO DA ENFERMAGEM BRASILEIRA

Este artigo abordou a formação de educadoras sanitárias e enfermeiras de saúde pública na primeira metade do século 20. O trabalho traz a tona questões atuais de construção de identidade profissional nas profissões de saúde. As educadoras sanitárias de então podem ser comparadas às Agentes Comunitárias de Saúde (ACS) nos dias de hoje. As questões de conflito de autoridade no interior da própria atividade do cuidar afloravam entre enfermeiras e educadoras sanitárias no passado e, no presente, parece emergir entre enfermeiros e ACS. Tal relação conflituosa envolve questões como hierarquia profissional e competência técnica e, sobre este aspecto, as enfermeiras sempre se destacaram em relação àquelas.
A superioridade de organização e de vínculos institucionais mantidos pelas enfermeiras, fez com que essas substituissem gradativamente, desde a década de 1940, as visitadoras educadoras. A soma das atividades que envolveram os dois perfis profissionais, tiveram um efeito multiplicador, pois os centros de saúde e postos de higiene institucionalizaram-se como espaço de atenção à saúde.
Outro objeto de luta travado no campo de atuação da enfermagem refere-se ao perfil feminino da profissão. Mesmo com a subordinação de gênero, foi no campo emergente das profissões que a mulher pôde afirmar-se fora do circuito maternal, familiar ou doméstico. Não obstante, a enfermagem era considerada pelas profissões dominantes como “quase profissionais”, a exemplo do corporativismo particularista dos médicos, limitando o exercício e as atribuições dessas profissionais.
O processo de urbanização ocorrido nos anos de 1920, contribuiu para difusão de uma ideologia do profissionalismo, aumentando a necessidade de uma ação estatal voltada para o surgimento de epidemias nas cidades, resultado do processo de modernização. Neste cenário, as educadoras sanitárias e a enfermeira de saúde pública, firmaram-se definitivamente no campo, principalmente pelo controle das práticas de educação sanitária nos centros e postos de saúde e nas visitas às famílias.
A organização da prática do cuidar no campo da saúde pública foi essencial para a atuação de equipes multiprofissionais em educação sanitária, dando espaço à criação de novas profissões da saúde e da capacidade de liderança e domínios de saberes e práticas da enfermagem.
Contudo, a ênfase nas conquistas do poder médico pela literatura tem relegado, a segundo plano, o surgimento do novo campo profissional para jovens mulheres das classes médias e de alguns segmentos urbanos das camadas populares, que passaram a atuar como visitadoras da educação sanitária e da enfermagem da saúde pública, bem como nos centros e postos de saúde que se difundiram por várias regiões do país.

Por Rafaela Gerbasi

Dailton Lacerda disse...

A condiçaõ feminina na sociedade atual tem sido maracada pela figura da "mulher objeto" o que expõe às mulheres a uma situação de desvantagem social, econômica e política no mundo do trabalho. A enfermagem hitoricamente foi uma profissão predominantemente feminina o que conduziu ao equivoco em relação ao processo de trabalho do enfermeiro. A formação de educadoras sanitárias e enfermeiras no início do século passado foi marcada pelo recrutamento daquelas que mais se destacaram. O predomínio feminino na profissão ainda é predominante até os dias de hoje, mas a qualificação acadêmica e científica dos profissionais da enfermagem mudou essa classificação de uma profissão subalterna. A enfermagem hoje é uma das profissões mais respeitadas da saúde e socialmente reconhecidas, onde o preconceito e a descriminação não cabem mais.
Dailton Lacerda

Rômulo Wandelely disse...

AS OCUPAÇÕES SUPOSTAMENTE SUBALTERNAS: O EXEMPLO DA ENFERMAGEM BRASILEIRA
A história da formação de Educadoras Sanitárias (“normalistas” com treinamento em saúde pública no Serviço Sanitário de São Paulo, desde a década de 1920) e de Enfermeiras de Saúde Pública paulistas e fluminenses (profissionais diplomadas) é um desafio para o estudo de identidades profissionais, pois estas profissões emergentes demarcam um território de decisões e de ação. À medida que o campo sanitário buscava instaurar novas práticas e concepções, exigia o concurso de novos agentes, acentuando-se a especialização em saúde pública ou higiene. A produção científica em periódico de circulação nacional, bem como a realização de congressos, de Enfermagem foram, nas décadas de 1920 e 30, elementos importantes para configurar um espaço profissional autônomo.
As questões de conflito de autoridade, de hierarquia profissional e competência técnica, no interior da atividade do cuidar afloravam entre Enfermeiras e Educadoras Sanitárias, no passado, e emergem entre Enfermeiros e Agentes Comunitários nos dias de hoje. Apesar dos atributos de classe favorecerem as educadoras na luta pela distinção, foram as Enfermeiras que se destacaram e assumiram um papel de liderança. Os centros e postos de saúde possibilitavam a proximidade das profissionais com a população rural e urbana ameaçada por endemias e epidemias. A demanda por enfermeiras para as campanhas sanitárias e a demora para formação destas fez com que surgissem os Cursos de Educação Sanitária. Mas, depois a substituição das visitadoras educadoras pelas enfermeiras foi gradativa. O cenário profissional se diversificava e criava oportunidades para atenuar as posições hierárquicas rígidas que os atos do cuidar e curar geravam.
Na década de 30 as educadoras sanitárias e a enfermeiras tornam-se mais reconhecidas como atores importantes nos serviços de saúde pública. Firmavam-se diante das elites médicas. Este foi um período instaurador de espaços importantes de auto-organização, como a criação da Associação Brasileira de Enfermagem e a formação acadêmica em centros de excelência no exterior. Além de conquistas como: a autoridade diante das demais profissões, o poder social na esfera pública, a influência e o respeito junto aos usuários da atenção à saúde. No hospital, a disseminação dos cuidados paliativos a pacientes crônicos e terminais acentuou as condições de atuação independente. A consulta de enfermagem desprendeu-se da interferência médica, entre as várias situações de conduta autônoma que, em tempos recentes, a Saúde da Família veio consolidar. A enfermagem de saúde pública ocupa espaços importantes, não somente como parte destacada das equipes multiprofissionais, mas pela supervisão e coordenação do PSF. Trata-se de uma capacidade de liderança e atuação pública de notável experiência.
O protestantismo radical foi importante para a formação intelectual e profissional nos países anglo-saxões. Esses elementos se fundiram a vocação religiosa, de origem católica, e se difundiram, em escala mundial, para conformar uma ideologia de profissionalismo no interior da Enfermagem. Saberes institucionalizados, como a promoção da saúde materno-infantil, privilegiada pelas autoridades sanitárias da Primeira República, ou o desenvolvimento da educação em saúde. Nessa área aplicada do saber, a Enfermagem trouxe uma bagagem do que hoje chamaríamos de “técnicas de intervenção social”, particularmente naqueles países, a exemplo do Brasil, onde se organizou em associações e se empenhou, desde os primórdios do século XX, em lutas por direitos civis e sociais. O impacto do desenvolvimento de uma práxis do cuidar é uma contribuição da Enfermagem. A partir dessa inserção marcada pela experiência, novos saberes se desenvolvem, assegurando à profissão uma contribuição no campo cognitivo. Seja no terreno hospitalar, seja nas frentes da saúde pública, a Enfermagem tem ocupado, nos programas de gestão e coordenação, um espaço de debates e de auto-organização que resulta do domínio de saberes e práticas.