Está escrito:
“Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” Romanos 12:2 (NVI).
O apóstolo Paulo, em Romanos 12:2, nos convida a uma transformação radical e desafiadora. Não é apenas um chamado a rejeitar os valores passageiros da cultura, mas a experimentar a vida nova que nasce da graça e da ação do Espírito Santo. O cristão não é chamado a fugir do mundo, mas a viver nele com uma mente renovada, capaz de discernir e praticar a vontade de Deus.
A transformação de que Paulo fala não é simples mudança de hábito. É algo muito mais profundo – uma mudança interior, tão radical quanto a metamorfose da lagarta em borboleta. O primeiro alerta é: “não se amoldem ao padrão deste mundo”. O verbo “amoldar” sugere a ideia de ser pressionado a assumir a forma de algo externo, como quem se deixa moldar por pressões culturais. A cultura, com seus valores muitas vezes distantes de Deus, tenta constantemente moldar nossa forma de pensar e agir.
Esse “padrão do mundo” diz respeito à mentalidade, aos valores, sistemas, ideologias e filosofias que operam à parte de Deus. É a busca incansável por poder, riqueza, status, prazeres imediatos e reconhecimento social a qualquer custo. É uma cosmovisão que tenta moldar nossa identidade e propósito a partir de fontes externas, e não de dentro para fora, sem qualquer referência ao Criador.
O apóstolo João também adverte: “Não amem o mundo, nem o que nele há” (1João 2:15-16). Os desejos da carne, dos olhos e a soberba da vida não vêm do Pai. Martyn Lloyd-Jones refletindo sobre isso, afirma que a grande tentação da igreja é ajustar-se ao que é popular, e não ao que é verdadeiro. Ser cristão, portanto, é ter coragem de nadar contra a corrente, mesmo que isso pareça estranho ou impopular.
Já a palavra “transformar” vem do grego metamorphoō, mudança de dentro para fora, operada pelo Espírito Santo. É o que dá ao cristão uma nova forma de enxergar a vida, filtrada pelo Evangelho. O teólogo John Stott explica que a renovação da mente é essencial, porque nossas ações fluem do que pensamos. O perigo, segundo ele, não está em viver no mundo, mas em permitir que o mundo viva dentro de nós. Muitas vezes, a igreja se preocupou tanto em “vencer o mundo” que se esqueceu de resistir às suas sutis seduções.
Perceba que não se trata de uma simples moralidade externa, mas de uma disposição mental que resulta em novas atitudes e escolhas. Paulo reforça essa ideia em Efésios 4:23-24: “A serem renovados no modo de pensar e a revestir-se do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e em santidade provenientes da verdade”. A renovação da mente, portanto, não é opcional. É a essência da vida em Cristo e exige intencionalidade em alinhar nossos pensamentos para à verdade de Deus.
E qual a motivação? Paulo responde: “para que vocês experimentem a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”. Quando deixamos de nos conformar ao mundo e vivemos com a mente renovada, experimentamos a realidade da vontade de Deus. Não como quem tenta adivinhar um destino oculto, mas como quem desfruta de uma vida conduzida pelo Espírito.
O teólogo F. F. Bruce destaca que a vontade de Deus não é um fardo pesado ou uma série de exigências impossíveis, mas uma dádiva. Ele a descreve como “boa” (beneficente, que traz o bem), “agradável” (prazerosa, que gera satisfação) e “perfeita” (completa, que conduz ao propósito pleno). Longe de ser um plano rígido e inflexível, a vontade de Deus é o caminho para a realização plena, onde encontramos a verdadeira liberdade e alegria.
Talvez você se pergunte: Paulo escreveu isso para cristãos em Roma, então será que eles não haviam experimentado o novo nascimento que Jesus ensinou a Nicodemos? E será que isso acontece hoje com a igreja contemporânea?
Boa pergunta! Esse é um tema para outra mensagem, mas vamos sintetizar a resposta para esclarecer as questões. Paulo escreve a cristãos já regenerados, mas que precisavam de crescimento contínuo em santificação. A diferença é clara: o novo nascimento é a porta de entrada para a vida cristã, enquanto a renovação da mente é um processo diário de amadurecimento.
Na igreja contemporânea, acontece algo parecido: muitos professam fé, mas não demostram uma vida transformada. Isso pode ocorrer por dois motivos:
1. Porque nunca houve um novo nascimento genuíno, ou seja, a pessoa vive apenas uma fé cultural, sem conversão real.
2. Porque, mesmo tendo nascido de novo, resiste ao processo de santificação, vivendo estagnada e conformada com o mundo.
Por isso, a igreja precisa provar a realidade do Evangelho por meio de vidas transformadas. Isso exige discipulado, estudo bíblico, oração e coragem para viver de forma diferente da cultura. A grande questão que fica é: estamos apenas frequentando a igreja ou realmente deixando Cristo nos transformar diariamente?
Em suma, Romanos 12:2 nos lembra que o maior campo de batalha da fé está dentro de nós. A revolução verdadeira não acontece no mundo exterior, mas em nossa mente. É um convite a sair do “piloto automático” e permitir que o Espírito Santo nos molde à imagem de Cristo. Só assim experimentamos a vida plena que Deus planejou para nós.
Permita-me orar:
“SENHOR, renova a nossa mente e transforma o nosso coração.
Ajuda-nos a não nos conformar com este mundo, mas a viver segundo a Tua vontade, que é boa, agradável e perfeita.
Que cada escolha nossa reflita o amor de Cristo e a esperança que só o SENHOR pode dar.
Em nome de Jesus, amém!”
Lembre-se: Rendam graças ao SENHOR, pois Ele é bom; o seu amor dura para sempre.
Sola Scriptura - Solus Christus - Sola gratia - Sola fide e Soli Deo glória
Christós kyrios
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