domingo, 12 de outubro de 2025
O novo homem: renovados na mente e transformados pela Verdade
Está escrito:
“para serem renovados no modo de pensar e se vestirem do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e santidade provenientes da verdade” Efésios 4:23-24 (NVI)
O apóstolo Paulo, em sua carta aos Efésios, nos oferece uma das imagens mais belas e profundas de transformação. Em Efésios 4:23-24, ele não apenas aconselha, mas convoca os crentes a uma mudança radical: sermos renovados no modo de pensar. Esse chamado não é superficial; é um convite para uma verdadeira metamorfose, que toca o coração e redefine quem somos. O evangelho não é só um conjunto de ideias que abraçamos, mas um chamado a viver de forma totalmente nova – uma vida moldada pela verdade de Deus.
A renovação da mente é o ponto de partida. Afinal, é na mente que se forma nossos pensamentos, valores, decisões e atitudes. Por isso, o evangelho não se contenta em reformar o exterior; ele vai ao centro do nosso ser. John Stott resume bem: “a santidade cristã não começa pelo comportamento, mas pelo pensamento. É uma transformação de dentro para fora”. E essa mente, antes corrompida pelo pecado, precisa ser lavada e reconfigurada pela Palavra de Deus.
Mas repare: essa renovação não é passiva. Não acontece sozinha. Ela exige disciplina diária, uma escolha consciente de trazer nossos pensamentos para luz da Palavra. A Bíblia funciona como um espelho, mostrando quem realmente somos, e como uma bússola, apontando para aquilo que Deus quer que sejamos. Não é à toa que Paulo repete essa ideia em Romanos 12:2, quando fala sobre não se conformar ao mundo, mas ser transformado pela renovação da nossa mente. Em 2 Coríntios 3:18, ele reforça que essa transformação é progressiva, de glória, enquanto o Espírito Santo nos conforma à imagem de Cristo.
E qual é o resultado dessa renovação? Paulo descreve como o ato de “se vestir do novo homem”. Essa metáfora da roupa é riquíssima. No mundo antigo, trocar de vestes muitas vezes representava uma mudança de identidade ou status. No contexto de Efésios, o “o velho homem” aponta para nossa natureza corrompida, marcada pelo pecado. Já o “novo homem” é nossa nova identidade em Cristo, recriada para refletir a justiça e a santidade provenientes da verdade”.
A justiça aqui, não é só ausência de pecado, mas um viver alinhado ao caráter de Deus. E a santidade é mais que uma ideia abstrata: é separação do mal e entrega total ao Senhor. O teólogo Charles Spurgeon costumava dizer que a santidade é o reflexo de Cristo em nós – e isso resume bem. Viver de forma justa e santa não deve ser um peso, mas o transbordar natural de uma mente renovada e de um coração que deseja agradar a Deus.
Tudo isso tem uma base sólida: a verdade. Não a “nossa verdade”, moldada por emoções passageiras ou por conveniências humanas, mas a verdade de Deus, revelada em Cristo e em Sua Palavra. Essa verdade liberta do engano do pecado e nos dá forças para viver de modo que espelhe o caráter divino.
Agora, é claro que a vida não facilita. No meio da correria, das distrações e pressões do mundo, renovar a mente é um desafio constante. O “velho homem” insiste em nos puxar de volta, seduzindo com valores contrários ao Reino. Então surge a pergunta: Como, na prática, acontece essa transformação interior que dá origem à renovação da mente? A transformação interior que gera a renovação da mente não acontece pela força de vontade humana nem por técnicas de autoajuda, mas pela ação do Espírito Santo através da Palavra de Deus, que vai moldando nossa forma de pensar, sentir e agir. Assim, a resposta está em quatro aspectos:
1. O ponto de partida: a obra do Espírito Santo
A mudança começa quando alguém nasce de novo (João 3:5-6). Nesse momento, o Espírito Santo passa a habita no coração do crente, iluminando sua mente para compreender as coisas espirituais (1Coríntios 2:14-16). Aquela mente que antes era “hostil a Deus” (Romanos 8:7) passa a ser renovada para amar e obedecer.
2. O meio: a Palavra de Deus
Não há renovação da mente sem exposição constante às Escrituras. Jesus orou: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (João 17:17). É pela Palavra que nossa fé é fortalecida (Romanos 10:17) e nossos pensamentos realinhados com a vontade do SENHOR.
3. O processo – despojar-se e revestir-se
Paulo explica em Efésios 4:22-24: precisamos deixar o “velho homem” (práticas, desejos e valores contrários a Deus) e nos revestir do “novo homem” em Cristo. Isso se traduz em escolhas práticas: falar a verdade em vez da mentira (Efésios 4:25), perdoar em vez de cultivar mágoa (Efésios 4:31-32), buscar pureza em vez da impureza (Efésios 5:3-4).
4. O alvo: refletir Cristo
O objetivo final é sermos conformados à imagem de Cristo (Romanos 8:29). Em 2 Coríntios 3:18, Paulo declara que estamos sendo transformados à Sua imagem com glória cada vez maior, e isso é obra do Espírito Santo.
Portanto, a transformação interior não nasce de esforço humano ou de fórmulas mágicas, mas da obra regeneradora e santificadora do Espírito, alimentada pela Palavra, confirmada em escolhas diárias de obediência e orientada para o grande alvo: ser semelhante a Cristo.
Em resumo, Efésios 4:23-24 nos chama a um processo contínuo de renovação. Não é um evento pontual, mas uma caminhada diária: despir-se da velha natureza e se revestir de Cristo. Essa renovação é sustentada pela Palavra, guiada pelo Espírito e visível em atos concretos de justiça e santidade. No fim, não se trata apenas de pensar diferente, mas de viver como quem pertence a Deus.
E aqui fica a pergunta que vale para todos nós: em qual parte desse processo de renovação da mente você sente que precisa de mais atenção na sua vida hoje?
Referências:
STOTT, John. A mensagem de Efésios. Série A Bíblia Fala Hoje. São Paulo: ABU Ed, 1993.
Lembre-se: Rendam graças ao SENHOR, pois Ele é bom; o seu amor dura para sempre.
Sola Scriptura - Solus Christus - Sola gratia - Sola fide e Soli Deo glória
Christós kyrios
segunda-feira, 6 de outubro de 2025
domingo, 5 de outubro de 2025
Renovando a mente para viver a vontade de Deus - Parte 2
Está escrito:
“Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” Romanos 12:2 (NVI).
O apóstolo Paulo, em Romanos 12:2, nos convida a uma transformação radical e desafiadora. Não é apenas um chamado a rejeitar os valores passageiros da cultura, mas a experimentar a vida nova que nasce da graça e da ação do Espírito Santo. O cristão não é chamado a fugir do mundo, mas a viver nele com uma mente renovada, capaz de discernir e praticar a vontade de Deus.
A transformação de que Paulo fala não é simples mudança de hábito. É algo muito mais profundo – uma mudança interior, tão radical quanto a metamorfose da lagarta em borboleta. O primeiro alerta é: “não se amoldem ao padrão deste mundo”. O verbo “amoldar” sugere a ideia de ser pressionado a assumir a forma de algo externo, como quem se deixa moldar por pressões culturais. A cultura, com seus valores muitas vezes distantes de Deus, tenta constantemente moldar nossa forma de pensar e agir.
Esse “padrão do mundo” diz respeito à mentalidade, aos valores, sistemas, ideologias e filosofias que operam à parte de Deus. É a busca incansável por poder, riqueza, status, prazeres imediatos e reconhecimento social a qualquer custo. É uma cosmovisão que tenta moldar nossa identidade e propósito a partir de fontes externas, e não de dentro para fora, sem qualquer referência ao Criador.
O apóstolo João também adverte: “Não amem o mundo, nem o que nele há” (1João 2:15-16). Os desejos da carne, dos olhos e a soberba da vida não vêm do Pai. Martyn Lloyd-Jones refletindo sobre isso, afirma que a grande tentação da igreja é ajustar-se ao que é popular, e não ao que é verdadeiro. Ser cristão, portanto, é ter coragem de nadar contra a corrente, mesmo que isso pareça estranho ou impopular.
Já a palavra “transformar” vem do grego metamorphoō, mudança de dentro para fora, operada pelo Espírito Santo. É o que dá ao cristão uma nova forma de enxergar a vida, filtrada pelo Evangelho. O teólogo John Stott explica que a renovação da mente é essencial, porque nossas ações fluem do que pensamos. O perigo, segundo ele, não está em viver no mundo, mas em permitir que o mundo viva dentro de nós. Muitas vezes, a igreja se preocupou tanto em “vencer o mundo” que se esqueceu de resistir às suas sutis seduções.
Perceba que não se trata de uma simples moralidade externa, mas de uma disposição mental que resulta em novas atitudes e escolhas. Paulo reforça essa ideia em Efésios 4:23-24: “A serem renovados no modo de pensar e a revestir-se do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e em santidade provenientes da verdade”. A renovação da mente, portanto, não é opcional. É a essência da vida em Cristo e exige intencionalidade em alinhar nossos pensamentos para à verdade de Deus.
E qual a motivação? Paulo responde: “para que vocês experimentem a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”. Quando deixamos de nos conformar ao mundo e vivemos com a mente renovada, experimentamos a realidade da vontade de Deus. Não como quem tenta adivinhar um destino oculto, mas como quem desfruta de uma vida conduzida pelo Espírito.
O teólogo F. F. Bruce destaca que a vontade de Deus não é um fardo pesado ou uma série de exigências impossíveis, mas uma dádiva. Ele a descreve como “boa” (beneficente, que traz o bem), “agradável” (prazerosa, que gera satisfação) e “perfeita” (completa, que conduz ao propósito pleno). Longe de ser um plano rígido e inflexível, a vontade de Deus é o caminho para a realização plena, onde encontramos a verdadeira liberdade e alegria.
Talvez você se pergunte: Paulo escreveu isso para cristãos em Roma, então será que eles não haviam experimentado o novo nascimento que Jesus ensinou a Nicodemos? E será que isso acontece hoje com a igreja contemporânea?
Boa pergunta! Esse é um tema para outra mensagem, mas vamos sintetizar a resposta para esclarecer as questões. Paulo escreve a cristãos já regenerados, mas que precisavam de crescimento contínuo em santificação. A diferença é clara: o novo nascimento é a porta de entrada para a vida cristã, enquanto a renovação da mente é um processo diário de amadurecimento.
Na igreja contemporânea, acontece algo parecido: muitos professam fé, mas não demostram uma vida transformada. Isso pode ocorrer por dois motivos:
1. Porque nunca houve um novo nascimento genuíno, ou seja, a pessoa vive apenas uma fé cultural, sem conversão real.
2. Porque, mesmo tendo nascido de novo, resiste ao processo de santificação, vivendo estagnada e conformada com o mundo.
Por isso, a igreja precisa provar a realidade do Evangelho por meio de vidas transformadas. Isso exige discipulado, estudo bíblico, oração e coragem para viver de forma diferente da cultura. A grande questão que fica é: estamos apenas frequentando a igreja ou realmente deixando Cristo nos transformar diariamente?
Em suma, Romanos 12:2 nos lembra que o maior campo de batalha da fé está dentro de nós. A revolução verdadeira não acontece no mundo exterior, mas em nossa mente. É um convite a sair do “piloto automático” e permitir que o Espírito Santo nos molde à imagem de Cristo. Só assim experimentamos a vida plena que Deus planejou para nós.
Permita-me orar:
“SENHOR, renova a nossa mente e transforma o nosso coração.
Ajuda-nos a não nos conformar com este mundo, mas a viver segundo a Tua vontade, que é boa, agradável e perfeita.
Que cada escolha nossa reflita o amor de Cristo e a esperança que só o SENHOR pode dar.
Em nome de Jesus, amém!”
Lembre-se: Rendam graças ao SENHOR, pois Ele é bom; o seu amor dura para sempre.
Sola Scriptura - Solus Christus - Sola gratia - Sola fide e Soli Deo glória
Christós kyrios