domingo, 4 de agosto de 2024

A essência do cristianismo: Justiça, Misericórdia e Fé em Ação

 

Está escrito:

“Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês dão o dízimo da hortelã, do endro, do cominho, mas têm negligenciado os preceitos mais importante na lei: a justiça, a misericórdia e a fé. Vocês devem praticar estas coisas, sem omitir aquelas” (Mateus 23:23).


O texto de Mateus 23:23 faz parte das críticas de Jesus aos escribas e fariseus, destacando a hipocrisia deles ao darem ênfase a práticas externas, como o dízimo de pequenas ervas, enquanto negligenciavam princípios fundamentais da lei, como a justiça, a misericórdia e a fé.


O que me chama a atenção nessa passagem é que Jesus está confrontando a priorização de rituais externos em detrimento da verdadeira justiça e compaixão. Ele ressalta a necessidade de um compromisso genuíno com a Lei, que vai além de meras práticas rituais. Esse ensinamento está alinhado com a ênfase bíblica em uma fé viva e ativa que se manifesta em obras de justiça e misericórdia.


De forma que, nessa breve reflexão vamos destacar os três elementos mais importantes na Lei, que Jesus se referiu: a justiça, a misericórdia e a fé. 

·      A justiça: O Antigo Testamento frequentemente destaca a importância da justiça. Um exemplo é Miquéias 6:8 – “Ele mostrou a você, ó homem, o que é bom e o que o SENHOR exige: pratique a justiça, ame a fidelidade e ande humildemente com seu Deus”. O Novo Testamento também destaca a importância da justiça de várias maneiras, destacando a ênfase de Jesus Cristo e dos apóstolos na prática da justiça, tanto em termos de relacionamento com Deus quanto em relação aos outros. Vejamos algumas passagens que ilustram essa ênfase: Mateus 5:6 Jesus, no Sermão da Montanha, diz: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, pois serão satisfeitos”. Aqui Ele incentiva a busca pela justiça como algo essencial para a satisfação espiritual.

Na parábola das ovelhas e dos cabritos, em Mateus 25:31-46, Jesus destaca a importância de praticar a justiça ao cuidar dos necessitados. Ele identifica suas próprias ações com as ações feitas aos “menores”, enfatizando que a justiça inclui cuidar dos pobres, famintos, doentes e encarcerados. 


O apóstolo Paulo, em sua carta aos Romanos 3:26, fala sobre a justiça de Deus manifesta em Jesus Cristo: “no presente, demonstrou a sua justiça, a fim de ser justo e justificador daquele que tem fé em Jesus”. Esses trechos bíblicos sublinham que a justiça, no contexto do Novo Testamento, vai além de um cumprimento externo da Lei. Ela envolve relacionamento correto com Deus, demonstrado na busca por uma vida justa e na prática de atos de compaixão e cuidado para com os outros. A justiça no Novo Testamento está intrinsicamente ligada à ética do Reino de Deus, que valoriza o amor, a compaixão e a retidão.

·      A misericórdia: o princípio da misericórdia é central no ensino de Jesus. Em Mateus 9:13, Ele diz: “Vão aprender o que significa isto: Desejo misericórdia, não sacrifícios. Pois eu não vim chamar justos, mas pecadores”. Na perspectiva bíblica ensinada por Jesus, o conceito de “misericórdia” é fundamental e vai além de um simples ato de compaixão. A palavra “misericórdia” está relacionada com a ideia de bondade compassiva, piedade e amor demonstrados através de atos práticos. Vejamos alguns aspectos importantes do entendimento de “misericórdia” na perspectiva bíblica ensinada por Jesus:

1.     Atos compassivos: Jesus frequentemente destaca a importância de agir com compaixão e cuidado para com os outros. Em parábolas como a do Bom Samaritano (Lucas 10:30-37), Ele ilustra que o próximo é aquele que age com misericórdia.

2.     Perdão: a misericórdia também está relacionada ao perdão. Jesus ensina sobre a necessidade de perdoar os outros, como indicado na oração do Pai Nosso em Mateus 6:14-15: “Pois se perdoarem as  ofensas uns dos outros, o Pai celestial também lhes perdoará. Mas se não perdoarem uns aos outros, o Pai celestial não lhes perdoará as ofensas”. 

3.     Identificação com os necessitados: em Mateus 25:31-46, Jesus associa a misericórdia à identificação e ajuda aos necessitados, indicando que aqueles que mostram misericórdia aos famintos, sedentos, enfermos, entre outros, o fazem a Ele mesmo. 

4.     Atitude de coração: em Lucas 6:36, Jesus incentiva Seus seguidores a serem misericordiosos como o Pai celestial é misericordioso. Isso sugere que a misericórdia não é apenas uma ação externa, mas uma atitude do coração que reflete a natureza de Deus.

Portanto, na perspectiva bíblica ensinada por Jesus, a misericórdia é mais do que um sentimento de compaixão; é uma atitude ativa que se traduz em ações práticas de bondade, perdão e compreensão para com os outros. Ela reflete a natureza amorosa de Deus e é um componente essencial da vida cristã.

·      A Fé: a conexão entre fé e obras é abordada por Tiago 2:14-17: “Meus irmãos, que vantagem há se alguém disser que tem fé e não tiver obras? Essa fé poderá salvá-lo? [...] Assim também a fé por si mesma é morta, se não tiver obras”. 

Diante dessa passagem bíblica apresentamos algumas maneiras práticas de viver a fé, obviamente, que existem inúmeras formas, mas vejamos apenas seis delas:

1.     Ação caridosa: demonstre compaixão prática ao ajudar os necessitados. Isso pode incluir fornecer alimentos, roupas ou qualquer outra forma de assistência aos que estão passando por dificuldades.

2.     Perdão e reconciliação: coloque em prática o princípio do perdão e da reconciliação. Se houver desavenças ou conflitos, busque a paz e trabalhe para restaurar relacionamentos, em vez de apenas falar sobre o perdão.

3.     Serviço voluntário: envolva-se em atividades voluntárias que beneficiem os outros. Isso pode incluir trabalhar em organizações de caridade, dedicar tempo a projetos comunitários ou participar ativamente de iniciativas que promovam o bem-estar social.

4.     Cuidado com os necessitados: esteja atento às necessidades ao seu redor e responda com generosidade. Isso pode envolver o cuidado de pessoas doentes, idosas ou que estejam enfrentando dificuldades financeiras.

5.     Pratique a justiça: trabalhe para promover a justiça em sua comunidade e além. Isso pode incluir advogar por mudanças sociais positivas, resistir à injustiça e defender os direitos dos oprimidos.

6.     Testemunho de vida: seja um testemunho vivo da sua fé por meio de um estilo de vida ético, honesto e compassivo. Suas ações falam mais alto do que palavras, mostrando aos outros o impacto transformador da sua fé.

Viver a fé na prática, conforme abordado em Tiago 2:14-17, significa integrar as crenças e valores cristãos nas ações diárias. É um chamado para uma fé viva e ativa que se traduz em amor prático, serviço ao próximo e compromisso com a justiça e compaixão. A crítica de Jesus destaca a necessidade de uma fé que se manifesta em ações concretas, especialmente na prática da justiça e misericórdia. 


O teólogo Joachim Jeremias, em sua obra “Jerusalém no tempo de Jesus”, ressalta o contexto social e religioso da época, enfatizando como a sociedade estava permeada por uma observância legalista e formalista da Lei. 


Assim, conclui-se que a passagem de Mateus 23:23 destaca a importância de uma fé que transforma o coração e se reflete em atitudes práticas de amor ao próximo, justiça e compaixão. A ênfase recai sobre uma religiosidade autêntica, que vai além de práticas externas e alcança a essência do relacionamento com Deus e com o próximo.


Referência:

JEREMIAS, J. Jerusalém no tempo de Jesus. São Paulo: Paulus Editora, 2010. 


Lembre-se: Rendam graças ao SENHOR, pois Ele é bom; o seu amor dura para sempre.

Sola Scriptura - Solus Christus - Sola gratia - Sola fide e Soli Deo glória

SHALOM SHALOM

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