Está escrito em Gálatas 1:6-7a (NVI):
“6Admiro-me de que vocês estejam abandonando tão rapidamente aquele que os chamou pela graça de Cristo, para seguirem outro evangelho7 que, na realidade não é o evangelho”.
A expansão do evangelicalismo no Brasil nas últimas décadas tem sido acompanhada por um fenômeno preocupante: a crescente pregação de mensagens que se afastam do conteúdo bíblico do Evangelho, priorizando uma abordagem superficial e antropocêntrica. Essa distorção tem sido chamada de “evangelho soft” – uma versão diluída da mensagem cristã, centrada no bem-estar emocional, na autoajuda e na prosperidade material, em detrimento do arrependimento, da cruz e da transformação do caráter.
O apóstolo Paulo já advertia a Igreja da Galácia sobre o perigo de “outro evangelho”, ressaltando que qualquer desvio, por mais sutil que pareça, constitui uma ameaça à integridade da fé cristã. A mensagem de Cristo não pode ser adaptada às preferências humanas sem que se perca sua essência salvadora.
Infelizmente, muitos pastores evangélicos têm proclamado um evangelho adulterado, distante da teologia reformada e da doutrina dos apóstolos. Trata-se de uma questão grave, com consequências eternas, pois milhares de frequentadores de igrejas não têm convicção de salvação nem demonstram sinais de nova vida, tornando-se incapazes de entrar pela porta estreita que conduz ao Reino dos Céus. Como enfatiza MacArthur (2015), se uma pessoa vive em desobediência, pouco importa o que ela professa ou as boas obras que realiza, ela continua incrédula e corre sério risco de condenação eterna.
O verdadeiro Evangelho de Jesus Cristo, segundo o testemunho neotestamentário, é a boa nova da reconciliação entre Deus e os seres humanos por meio da vida, morte e ressurreição de Cristo. Essa mensagem inclui o reconhecimento do pecado (Romanos 3:23), a necessidade de arrependimento (Marcos 1:15), a fé na obra redentora de Jesus (Efésios 2:8-9) e a regeneração operada pelo Espírito Santo. Portanto, não basta apenas levantar a mão num culto e “aceitar a Jesus”, rejeitando, ao mesmo tempo, a santidade e a obediência. Até mesmo os demônios reconhecem a existência de Deus – como nos lembra Tiago 2:19, mas isso não os salva. Crer intelectualmente não é o mesmo que nascer de novo.
Muitos que pensam estar salvos, mas que não vivem uma vida de santidade, se surpreenderão no Dia do Juízo ao descobrirem que o céu não é o seu destino (MacArthur, 2015). John Stott (2007) afirma: “o evangelho nos humilha antes de nos exaltar, nos confronta com a realidade do pecado antes de nos confortar com a graça”. O cerne do Evangelho está na cruz – símbolo de entrega, morte do ego e obediência ao Pai. Essa mensagem é profundamente contracultura, pois confronta o orgulho humano e exige transformação de vida (2 Coríntios 5:17).
O chamado evangelho soft pregado em muitas igrejas é marcado pela omissão da doutrina do pecado, pela ênfase em promessas de prosperidade e pela exaltação do eu. Em vez de chamar o pecador ao arrependimento, oferece recompensas materiais como se o Evangelho fosse um meio para atingir objetivos terrenos. No entanto, para ser próspero, não é necessário frequentar uma igreja; basta dedicação, qualificação e esforço no trabalho. O Evangelho não é um atalho para o sucesso, mas o caminho da cruz.
Paul Washer (2005) denuncia: “o evangelho moderno tem prometido tudo sem exigir nada. Tornou-se um produto a ser vendido, não uma verdade a ser proclamada”. Timothy Keller (2013) complementa ao afirmar que a graça barata gera cristãos não transformados, que continuam a viver segundo os padrões do mundo. Ou seja, quem realmente é salvo não pode continuar em um padrão habitual de pecado, conforme explicita 1 João 3:6-10.
Além disso, vivemos hoje uma preocupante mercantilização da fé. Em muitos ambientes, a espiritualidade se resume a uma performance religiosa, e os púlpitos tornaram-se palcos de entretenimento, com “shows gospel” que emocionam, mas não transformam. Crentes imaturos confundem emoção com adoração, professam fé, mas se recusam a viver em obediência. Como bem observa Hernandes Dias Lopes (2016): “vivemos tempos em que a pregação é moldada para agradar o público e não para glorificar a Deus”.
Conforme último censo do IBGE, a proporção de evangélicos no Brasil cresceu de 21,6% em 2010 para 26,9% em 2022, com destaque para o crescimento nas periferias urbanas. Esse avanço, embora expressivo, nem sempre é acompanhado por profundidade teológica ou maturidade espiritual. Muitas novas comunidades carecem de ensino bíblico sólido, o que favorece uma fé emocional, utilitarista e vulnerável a heresias (Pereira, 2019).
Além disso, práticas como o triunfalismo, a teologia da prosperidade e o coaching gospel substituem o discipulado autêntico por promessas ilusórias de felicidade e sucesso. O resultado é uma membresia numerosa, mas com pouca maturidade espiritual e frágil conhecimento bíblico. Igrejas que adotam esse modelo formam “convertidos” sem conversão, seguidores sem discipulado e cultos sem Cristo.
As consequências dessa adulteração do Evangelho são graves. Pastores e líderes que alimentam essa falsa mensagem são responsáveis pela ruína espiritual de milhares de pessoas que acreditam estar salvas, mas não entrarão no Reino dos Céus (Mateus 5:20). É urgente o retorno ao genuíno Evangelho de Jesus Cristo, conforme pregado por Paulo e os demais apóstolos. Isso exige coragem para confrontar desvios doutrinários com clareza, amor e fidelidade às Escrituras.
Como afirma D. A. Carson (2013): “o maior inimigo do evangelho não é o ateísmo declarado, mas a distorção sutil que mantém a forma de piedade, mas nega o seu poder” (cf. 2Timóteo 3:5). A teologia pastoral precisa recuperar o ensino bíblico sobre o pecado, a justificação pela fé, a regeneração e a santificação. Somente um retorno à exposição fiel da Palavra pode produzir uma igreja saudável, santa e missionária.
O espanto do apóstolo Paulo diante da facilidade com que os gálatas abandonaram o verdadeiro Evangelho se repete atualmente. O evangelho soft é um falso evangelho: não confronta, não transforma e, por isso, não salva. Há muitos membros de igrejas que vivem iludidos, pensam estar salvos, mas rejeitam a santidade, a obediência e a vontade do Pai (Mateus 7:21).
Portanto, a igreja brasileira precisa urgentemente de uma reforma espiritual. O Evangelho de Jesus Cristo deve voltar a ser anunciado com fidelidade, coragem e paixão. Que os púlpitos se tornem novamente altares de verdade e graça, e que os crentes deixem de ser apenas convencidos para se tornarem verdadeiramente convertidos.
Pastores, lembrem-se da advertência de Paulo: “Se alguém lhes anuncia um evangelho diferente daquele que já receberam, seja amaldiçoado!” (Gálatas 1:9). São malditos os que negam o senhorio de Cristo.
Referências:
CARSON, D. A. O Deus Presente: Encarando a Cultura Pós-moderna com o Evangelho. São Paulo: Vida Nova, 2013.
KELLER, Timothy. A Fé na Era do Ceticismo. São Paulo: Thomas Nelson Brasil, 2013.
LOPES, Hernandes Dias. Pregação e Vida Cristã. São Paulo: Hagnos, 2016.
MACARTHUR, John. O Evangelho segundo Jesus. São José dos Campos, SP: Fiel, 2015.
PEREIRA, Paulo. O Evangelho Segundo o Brasil: Teologia e Mercado no Século XXI. Belo Horizonte: Ultimato, 2019.
STOTT, John. A Cruz de Cristo. São Paulo: ABU Editora, 2007.
WASHER, Paul. A Geração de Pregadores que Deus Não Enviou. Conferência "Shocking Youth Message", 2005.
Lembre-se: Rendam graças ao SENHOR, pois Ele é bom; o seu amor dura para sempre.
Sola Scriptura - Solus Christus - Sola gratia - Sola fide e Soli Deo glória
Christós kyrios
2 comentários:
Muito oportuno seu texto professor Sérgio Santos. Em meio a esse mar de teologia self Deus mantém homens e mulheres que se preocupam com a essência do Evangelho. Os mestres estão sendo posto de lado e a performance assumindo o lugar porque as demandas dos templos não abrem espaços para o Evangelho de confronto com o pecado, a não ser quando demonizam a falta de recursos individuais dos membros, mas e a falta de recursos da instituição? Não é o mesmo Deus que mantém os membros e a instituição? Igrejas que estão sempre no vermelho e dependente de mudar a Palavra da Verdade para vender uma graça barata, indulgências modernas. Graças a Deus que ainda podemos escrever em um canal como esse. Obrigado por deixar Deus te usar meu irmão.
Faço minhas essas palavras do irmão Antônio: Santos. Em meio a esse mar de teologia self Deus mantém homens e mulheres que se preocupam com a essência do Evangelho. Os mestres estão sendo posto de lado e a performance assumindo o lugar porque as demandas dos templos não abrem espaços para o Evangelho de confronto com o pecado, a não ser quando demonizam a falta de recursos individuais dos membros, mas e a falta de recursos da instituição? Não é o mesmo Deus que mantém os membros e a instituição? Igrejas que estão sempre no vermelho e dependente de mudar a Palavra da Verdade para vender uma graça barata, indulgências modernas. Graças a Deus que ainda podemos escrever em um canal como esse. Obrigado por deixar Deus te usar meu irmão.
Acrescentando que ESSA MENSAGEM CONFRONTA A MAIORIA DOS LIDERES SISTÊMICOS!!!
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