domingo, 13 de abril de 2025

Glorificando a Deus em todas as coisas: uma abordagem teológica e prática



Está escrito em 1Coríntios 10:31 (NVI): “Assim, quer vocês comam, quer bebam, quer façam qualquer outra coisa, façam tudo para a glória de Deus”.


A Primeira Epístola aos Coríntios foi escrita pelo apóstolo Paulo para abordar problemas éticos, doutrinários e práticos na igreja de Corinto, uma cidade portuária e comercialmente ativa, onde a influência da cultura pagã era forte. No capítulo 10, Paulo discute a liberdade cristã em relação ao consumo de alimentos sacrificados aos ídolos (1Co 8-10). Alguns coríntios, baseados em seu “conhecimento” (8:1), julgavam-se livres para comer tais alimentos, enquanto outros, com consciência mais fraca, se escandalizavam.

Paulo, então, admoesta que, embora os ídolos não tenham poder real (10:19-20), os cristãos devem considerar o bem do próximo (10:24) e evitar a idolatria (10:14). O versículo 31 surge como um princípio abrangente: todas as ações devem ser feitas “para a glória de Deus”, transcendendo disputas sobre liberdade individual.

1 Coríntios 10:31 enfatiza a abrangência da responsabilidade do crente em sua conduta. A expressão “façam tudo” indica que não apenas as práticas religiosas, mas também as atividades cotidianas devem ser realizadas como um propósito maior: a glória de Deus. Esse ensinamento ecoa o conceito de uma vida integralmente voltada para Deus, sem separação entre sagrado e secular. 

O texto estabelece que até mesmo nossas atividades do dia a dia (como comer e beber) devem ser realizadas com o propósito de honrar a Deus. A vida cristã é integral e deve refletir a soberania de Deus (Cl 3:17). Paulo já havia ensinado que o corpo é templo do Espírito (1Co 6:19-20), reforçando que até atos físicos têm dimensão espiritual.

O teólogo John MacArthur destaca que Paulo orienta os crentes a fazerem todas as coisas para a glória de Deus como um princípio básico da vida cristã, enfatizando que isso implica evitar atitudes que possam prejudicar a fé de outros. Matthew Henry, por sua vez, comenta que a glória de Deus deve ser o fim último de todas as nossas ações, não buscando satisfação própria, mas promovendo o bem-estar espiritual dos outros.

Talvez você esteja se perguntando: o que significa fazer tudo para a glória de Deus? Essa expressão significa viver de modo que cada pensamento, palavra e ação reflita o caráter de Deus, honre Seu nome e promova Seu reino. Trata-se de uma postura integral que reconhece a soberania de Deus em todas as áreas da vida. Em outras palavras, “glorificar a Deus” significa manifestar Sua excelência, reconhecendo-O como digno de adoração em tudo (Sl 29:2; Ap 4:11).  Não é sobre performance, mas de motivação e propósito: agir com consciência de que Ele é o centro (Cl 3:17).

Vamos exemplificar: 

  • Um enfermeiro cristão trata pacientes com compaixão, não apenas por dever, mas como testemunho do cuidado de Deus. Princípio: Trabalhar com integridade e excelência, como “para o Senhor” (Cl 3:23). 
  • Uma pessoa evita sonegar impostos, mesmo quando não fiscalizado, porque crê que a honestidade glorifica a Deus. Princípio: Usar recursos com sabedoria, generosidade e gratidão (Pv 3:9; 2Co 9:7).
  • Optar por filmes, músicas ou hobbies que edificam, em vez de conteúdos que corrompem a mente (Fp 4:8). Princípio: “Tudo me é permitido, mas nem tudo convém” (1 Co 10:23).

Esses exemplos demonstram que glorificamos a Deus quando fazemos a coisa certa. Pergunte-se: Isso honra a Deus ou apenas a mim? (1 Co 10:33). Use sua influência para apontar outros a Cristo (Mt 5:16). Como disse Lutero: “O leiteiro glorifica a Deus quando ordenha as vacas com fé”. 

Diante do exposto, que lições podemos extrair de 1 Co 10:31? Pelo menos quatro aspectos:

  1. A glória de Deus como princípio central: O cristão não deve viver para agradar a si mesmo, mas para glorificar a Deus em tudo.
  2. Responsabilidade na liberdade cristã: Nem tudo o que é permitido edifica (1Co 10:23); devemos considerar o impacto de nossas ações na vida dos outros.
  3. Santidade no cotidiano: O chamado para glorificar a Deus não se restringe ao culto, mas se estende às ações mais comuns do dia a dia.
  4. Testemunho cristão: Viver para a glória de Deus é uma forma de testemunho diante do mundo, refletindo os valores do Reino.

Como podemos viabilizar na prática essas lições? Vejamos:

  • No trabalho: Agir com ética, honestidade e comprometimento, reconhecendo que todo trabalho pode ser uma forma de serviço a Deus.
  • No lar: Cultivar um ambiente de amor, respeito e educação cristã entre os familiares.
  • No consumo: Ter moderação e discernimento na alimentação, nas finanças e no entretenimento.
  • Nos relacionamentos: Buscar edificar os irmãos na fé e evitar atitudes que possam ser pedra de tropeço.

Em suma, 1Co 10:31 é um princípio fundamental da vida cristã. Ele nos desafia a enxergar cada aspecto da nossa existência como um ato de adoração e serviço a Deus. Quando vivemos para Sua glória, encontramos verdadeiro sentido e propósito na caminhada cristã. O apóstolo Paulo nos ensina que cada decisão e atitude devem ser tomadas considerando o impacto que terão na comunhão com Deus e no testemunho cristão diante do mundo. 

Assim, ao aplicarmos esse ensinamento no dia a dia, reconhecemos que glorificar a Deus não é algo restrito aos momentos de culto ou atividades ministeriais, mas uma postura que permeia toda a vida. Seja no trabalho, nos relacionamentos, nos momentos de lazer ou nas decisões do cotidiano, tudo deve convergir para a exaltação do nome do Senhor.


Referências:

MACARTHUR, J. The MacArthur new testament commentary: 1 Corinthians. Chicago: Moody Publishers, 1984.

HENRY, M. Matthew Henry’s Commentary on the Whole Bible. Peabody: Hendrichson Publishers, 1991.


Lembre-se: Rendam graças ao SENHOR, pois Ele é bom; o seu amor dura para sempre.

Sola Scriptura - Solus Christus - Sola gratia - Sola fide e Soli Deo glória

Christós kyrios

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