domingo, 16 de março de 2025

Bendizer e orar: o caminho da graça no ensino de Jesus

 

Está escrito em Lucas 6:28 (NVI): “Bendigam aqueles que os maldizem, orem por aqueles que os maltratam”. 

 

Esse versículo é um convite à prática do amor e da misericórdia, mesmo diante da adversidade. Ele faz parte do Sermão da Montanha (ou Sermão na Planície), onde Jesus apresenta uma ética radical que desafia as normas sociais e morais da época. O chamado para abençoar e orar por aqueles que nos fazem mal é um dos ensinamentos mais desafiadores do cristianismo, pois vai contra a inclinação natural do ser humano à vingança e ao ressentimento. Vamos, então, explorar a essência dessas palavras e refletir como aplicá-la na prática.

O evangelista Lucas apresenta a visão de Jesus sobre o Reino de Deus, enfatizando valores como humildade, compaixão e perdão. O versículo destaca a resposta cristã ao ódio e à perseguição. A instrução para bendizer os que nos amaldiçoam reflete o caráter divino, que ama até mesmo os inimigos. O verbo grego “eulogeín”, traduzido como “bendizer”, significa falar bem, desejar o bem e pronunciar bênçãos sobre aqueles que nos maldizem. Em outras palavras, Jesus nos ensina a retribuir o mal com o bem, contrariando a tendência humana de revidar. Você já passou por essa experiência? 

Teólogos reformado, como João Calvino, interpretaram esse texto como um chamado à imitação do caráter de Cristo. Em seus Comentários sobre a Harmonia dos Evangelhos, Calvino afirma que esse ensino de Jesus eleva o amor cristão a um nível extraordinário: não se trata apenas de responder com amor a quem nos ama, mas de estendê-lo até mesmo aos inimigos. Segundo ele, essa ordem reflete a natureza de Deus, que “faz raiar o sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos” (Mateus 5:45 NVI). 

Outro teólogo reformado, Matthew Henry, em seu Comentário Bíblico, destaca que orar por aqueles que nos maltratam é uma maneira de vencer o mal com o bem (Romanos 12:21). Para Henry, essa prática demonstra a superioridade do amor cristão, que não é condicionado pelo comportamento do outro, mas é uma resposta à graça recebida em Cristo. Já John Stott enfatiza que “amar nossos inimigos é uma das mais altas exigências do discipulado cristão”, pois reflete o caráter divino.

A exortação de Jesus em Lucas 6:28 encontra eco em outras passagens bíblicas. Em Romanos 12:14, Paulo reforça essa mesma ideia: “Abençoem aqueles que os perseguem; abençoem-nos, não os amaldiçoem”. Em 1 Pedro 3:9, o apóstolo aconselha: “Não paguem mal com mal, nem insulto com insulto; ao contrário, bendigam, pois vocês sabem que para isso foram chamados e, assim, receberão bênção por herança”.

Diante desse ensinamento, surge a pergunta: como podemos, na prática, viver essa ordem de Jesus? A resposta envolve três atitudes fundamentais:

1. Escolher a bênção em vez da maldição: Em vez de retribuir ofensas com palavras duras ou negativas, devemos seguir o exemplo de Cristo e abençoar aqueles que nos maldizem. Isso significa desejar e declarar o bem sobre eles, com sinceridade no coração.

2. Orar pelos perseguidores: A oração pelos que nos maltratam não é apenas uma obediência ao mandamento de Jesus, mas também um meio de transformação espiritual. Quando oramos por aqueles que nos ferem, colocamos a situação nas mãos de Deus e permitimos que Ele trabalhe tanto em nosso coração quanto na vida dessas pessoas.

3. Praticar o amor ativo: O amor cristão não é apenas um sentimento, mas uma ação intencional. Ela se manifesta por meio de gestos de gentileza, paciência e perdão, mesmo diante da hostilidade. Esse testemunho pode impactar profundamente aqueles que nos cercam. 

No entanto, sem a regeneração pelo Espírito Santo, o ser humano não consegue cumprir plenamente essa ordem de Jesus. A inclinação natural do coração, devido à natureza caída, é revidar e buscar vingança. Paulo explica em Romanos 8:7 que “a aspiração da carne é inimizade contra Deus”, ou seja, sem a ação do Espírito Santo, não temos disposição para obedecer aos mandamentos de Cristo.

Portanto, amar os inimigos e abençoar aqueles que nos maldizem não é apenas uma questão de esforço moral, mas uma evidência da graça transformadora de Deus em nós. Para viver esse ensinamento, precisamos depender do Espírito Santo.

Em um mundo marcado por conflitos, divisões, extremismos e violência, o chamado para abençoar e orar pelos inimigos é um testemunho poderoso do evangelho. No dia a dia, isso pode significar orar por um colega de trabalho que nos difamou, abençoar um familiar que nos feriu ou interceder por alguém que nos perseguiu. Essa prática não apenas glorifica a Deus, mas também pode transformar corações.

Em suma, Lucas 6:28 é um chamado radical ao amor e ao perdão, refletindo o caráter de Deus e a ética do Reino. Através da exortação para abençoar e orar pelos inimigos, Jesus nos desafia a transcender as respostas naturais de vingança e ressentimentos, e a viver uma vida marcada pela graça e misericórdia. Ao aplicarmos esse ensino, testemunhamos o poder do evangelho e glorificamos a Deus, que nos amou primeiro.

Referências:

HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Matthew Henry. Rio de Janeiro: CPAD, 2002.

CALVIN, John. Comentários sobre a Harmonia dos Evangelhos. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2010.

STOTT, John. Contracultura Cristã: O Ensino de Jesus no Sermão do Monte. São Paulo: ABU Editora, 2018.

 

Lembre-se: Rendam graças ao SENHOR, pois Ele é bom; o seu amor dura para sempre.

Sola Scriptura - Solus Christus - Sola gratia - Sola fide e Soli Deo glória

Christós kyrios

Um comentário:

Anônimo disse...

Amém!!