domingo, 16 de fevereiro de 2025

Suportar e perdoar: imitação de Cristo na vida cristã

 

Está escrito em Colossenses 3:13 (NVI): “Suportem uns aos outros e perdoem as queixas que tiverem uns contra os outros. Perdoem como o Senhor os perdoou”.

 

O perdão é uma das virtudes mais profundas e transformadoras da vida cristã. Fundamentado na graça de Deus, ele nos convida a imitar o caráter divino em nossas relações humanas. Em Colossenses 3:13, Paulo exorta os cristãos a suportarem uns aos outros e a perdoarem, assim como Deus os perdoou em Cristo. Essa ordem não é apenas um conselho ético, mas um reflexo da reconciliação proporcionada na cruz, onde justiça e amor se encontram (Salmos 85:10). Nesta reflexão, vamos explorar os fundamentos teológicos do perdão e sua aplicação prática.

Paulo, ao escrever aos colossenses, apresenta o perdão como uma resposta direta à graça divina recebida. A expressão “perdoem como o Senhor os perdoou” aponta para a base teológica do perdão cristão: a obra de Cristo na cruz. O perdão não é opcional; é uma obrigação para aqueles que foram reconciliados com Deus (Efésios 4:32). 

John Stott, refletindo sobre o perdão, afirma: “Nada nos humilha tanto quanto o perdão de Deus. Nada nos transforma tanto quanto a experiência de sermos perdoados, e nada nos motiva tanto a perdoar os outros quanto a recordação de que nós mesmos fomos perdoados”. Assim, o perdão humano é reflexo e extensão do perdão divino. 

Observe no texto de Colossenses 3:13, que Paulo une os conceitos de “suportar” e “perdoar”, indicando que as relações comunitárias, em qualquer ambiente social, exigem paciência e graça. Suportar uns aos outros significa aceitar as diferenças e lidar com falhas alheias sem desistir do relacionamento. O perdão, por sua vez, restaura os laços rompidos pelo pecado. 

Diversas passagens bíblicas reforçam o perdão como central na vida cristã. Na oração do Pai Nosso, Jesus ensina: “Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores” (Mateus 6:12 NVI). Essa relação direta entre receber e conceder perdão nos lembra que o cristão que não perdoa negligencia a graça que recebeu.

Parece lindo na teoria, não é? O perdão é inspirador, mas na prática, pode ser confuso e difícil. Porque uma coisa é ler as palavras de Jesus sobre o perdão e outra completamente diferente é perdoar quando somos machucados, decepcionados ou traídos. Afinal, por que é tão complicado perdoar? 

Há situações que causam danos emocionais profundos, deixando marcas difíceis de apagar. O perdão pode parecer que estamos ignorando ou minimizando a gravidade da ofensa. Além disso, o orgulho muitas vezes resiste ao perdão, pois este pode ser visto como fraqueza ou renúncia do direito de retribuição. 

Perdoar exige abrir mão da proteção emocional que a mágoa aparenta oferecer, já que nutrir a raiva pode dar uma falsa sensação de controle. Outro equívoco é confundir perdão com reconciliação; muitas pessoas acreditam que perdoar significa necessariamente restaurar o relacionamento, o que nem sempre é seguro ou possível.

Embora desafiador, o perdão é possível pela graça de Deus. Assim, vejamos algumas práticas que podem ajudar nesse processo:

1. Reconheça a dor e a ofensa. Antes de perdoar, é importante validar a profundidade da mágoa. Negar ou minimizar a dor pode dificultar a cura.

2. Ore por força e sabedoria. O perdão é um mandamento divino que requer a ação do Espírito Santo em nós. Jesus nos ensinou a orar por nossos inimigos (Mateus 5:44). Orar por quem nos feriu pode transformar nosso coração e nos capacitar a perdoar.

3. Relembre o perdão que recebeu. Efésios 4:32, nos lembra de perdoar “assim como Deus nos perdoou em Cristo”. Lembrar o quanto fomos perdoados por Deus, apesar de nossos próprios erros, pode ajudar a estender essa graça aos outros.

4. Decida perdoar, mesmo sem sentir. Perdoar é uma escolha, não uma emoção. A obediência a Deus pode anteceder a cura emocional.

5. Entenda que perdoar não é esquecer. Perdoar não significa apagar a memória da ofensa, mas escolher não permitir que ela controle nossas emoções ou atitudes. Em Miqueias 7:19, Deus lança nossos pecados nas profundezas do mar, mas isso reflete Sua escolha de não trazê-los à tona. 

Dietrich Bonhoeffer, em Discipulado, escreveu: “Perdoar é sofrer com o outro e, ao mesmo tempo, libertá-lo. Assim como Deus nos liberta por meio de Cristo, somos chamados a libertar os outros de suas dívidas contra nós”. Essa perspectiva nos desafia a transcender sentimentos humanos de vingança ou mágoa e refletir a misericórdia divina.

Perdoar não é um ato natural para o ser humano, mas é uma expressão do poder transformador do Espírito Santo. O perdão começa com uma decisão de obedecer à ordem divina e, muitas vezes, envolve um processo de cura interior. A oração e a meditação na Palavra de Deus nos capacitam a perdoar de forma genuina.

C. S. Lewis, em Cristianismo puro e simples, observa: “Todos dizem que o perdão é uma ideia adorável, até que tenham algo para perdoar”. Esse comentário reflete o desafio prático do perdão, mas também sua profundidade espiritual como um ato de obediência e amor.

Em resumo, Colossenses 3:13 nos convida a viver em comunhão, marcada pela paciência e pelo perdão, fundamentados no exemplo de Cristo. Perdoar não é apenas uma exigência moral; é a manifestação prática do evangelho. Quando perdoamos, proclamamos a graça de Deus e antecipamos a reconciliação plena que será consumada em Cristo. 

Pode-se concluir, portanto, que o perdão é um ato de fé, obediência e amor que glorifica a Deus, edifica a comunidade e liberta tanto quem perdoa quanto quem é perdoado. Que sejamos inspirados pelo perdão de Deus e agentes de reconciliação no mundo. 

 

Referências:
STOTT, J. A cruz de Cristo. São Paulo: Vida, 2006.

BONHOEFFER, D. Discipulado. RGS: Ed. Sinodal, 1989.

LEWIS, C. S. Cristianismo puro e simples. Rio de Janeiro: Ed. Thomas Nelson Brasil, 2017.

 

Lembre-se: Rendam graças ao SENHOR, pois Ele é bom; o seu amor dura para sempre.

Sola Scriptura - Solus Christus - Sola gratia - Sola fide e Soli Deo glória

Christós kyrios

4 comentários:

Anônimo disse...

Glória a Deus por Seu amor e perdão que nos restaura a cada amanhecer!
Cleide Rejane Damaso de Araújo

Anônimo disse...

“Perdoar é um ato de coragem, e foi uma escolha consciente de liberar ressentimentos e aliviar as dores da alma". Ilka.

Anônimo disse...

O quanto é difícil perdoar no meu ponto de vista nós somos frágil demais para tal condição o verdadeiro amor e o perdão vem Deus

Anônimo disse...

Muitas vezes precisamos perdoar a nós mesmos para seguir com perdão ao nosso próximo. É libertador!