Está escrito em Mateus 5:14 (NVI): “Vocês são a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte”.
Essa passagem integra o Sermão do Monte, registrado em Mateus 5 – 7, um discurso que estabelece os princípios do Reino de Deus. Considerado um dos ensinamentos mais profundos e impactante de Jesus Cristo o texto utiliza duas metáforas poderosas – a luz e a cidade sobre o monte – para transmitir verdades essenciais sobre a identidade e a missão dos seus seguidores. Vamos, juntos, explorar a riqueza desse ensinamento de Jesus.
Ao dirigir-se aos seus discípulos e à multidão, Jesus apresenta um contraste entre os valores do mundo e os do Reino de Deus. Em Mateus 5:14, Ele afirma que seus seguidores são “a luz do mundo”. Essa declaração sucede a metáfora do sal (v.13), que enfatiza o papel preservador e transformador dos discípulos. A luz, por sua vez, simboliza a revelação, a verdade e direção, valores que os cristãos devem refletir em um mundo de trevas.
A imagem de uma “cidade construída sobre um monte” remete a algo visível e inegável. Na antiguidade, as cidades eram frequentemente construídas em locais elevados, tanto por razões estratégicas quanto de segurança, tornando-se pontos de referência para todos ao redor. Jesus utiliza essa figura para ensinar que a vida de um crente não pode ser oculta. Não se trata de viver um “evangelho secreto” ou ser um “007 gospel”, mas de ser um testemunho público da graça e da verdade de Deus.
Para compreender Mateus 5:14, é fundamental considerar seu contexto literário, histórico e teológico. A luz é um símbolo recorrente nas Escrituras, associado à presença de Deus (Salmo 27:1), à Sua Palavra (Salmo 119:105) e à missão de Israel como nação escolhida (Isaías 42:6). No Novo Testamento, Jesus se identifica como “a luz do mundo” (João 8:12). Ao chamar seus discípulos de “a luz do mundo”, Ele os associa à sua missão redentora.
O teólogo John Stott em seu comentário sobre o Sermão do Monte, ressalta que a luz não existe para si mesma, mas para iluminar o que está ao redor. Ele afirma: “A luz é uma metáfora da influência cristã. Assim como a luz dissipa as trevas, os cristãos devem dissipar a ignorância, o erro e o mal no mundo”. Stott enfatiza que a visibilidade da luz é essencial; ela não pode ser escondida, assim como uma cidade sobre um monte não passa despercebida.
De maneira semelhante, D. A. Carson, observa que a luz simboliza a verdade e a justiça que os discípulos devem refletir. Ele destaca que essa visibilidade é um chamado à autenticidade: “A vida do cristão deve ser tão evidente quanto uma cidade no monte, não por ostentação, mas por uma integridade que naturalmente atrai a atenção”.
A aplicação de Mateus 5:14 em nossa vida é multifacetada. Primeiro, o texto nos desafia a viver de forma autêntica e transparente. A luz não pode ser escondida, e, da mesma forma, nossa fé deve ser evidenciada em ações, palavras e estilo de vida. Isso implica viver conforme os valores do Reino - amor, justiça, humildade e misericórdia - mesmo em um mundo marcado pelo egoísmo e pela corrupção.
Em segundo lugar, o versículo destaca a missão evangelística e social da Igreja. Como luz do mundo, somos chamados a proclamar o Evangelho a todas as nações (Mateus 28:19-20) e a combater as trevas do pecado e da injustiça. Esse chamado inclui engajamento em obras sociais, defesa dos oprimidos e promoção da reconciliação.
No contexto polarizado da sociedade atual, marcada por extremismo de direita e esquerda, como os cristãos podem combater o pecado e a injustiça? Embora seja um desafio complexo que exige sabedoria, discernimento e uma abordagem fundamentada nos princípios bíblicos, podemos adotar algumas práticas para nos engajarmos de maneira efetiva e redentora nesse cenário:
1. Viver com integridade e autenticidade. O testemunho cristão deve ser pautado pela honestidade, humildade e amor ao próximo, demonstrando que é possível viver acima das divisões ideológicas.
2. Promover a reconciliação e o diálogo. Devemos construir pontes entre grupos opostos por meio do diálogo respeitoso, da escuta ativa e da busca pelo bem comum.
3. Ensinar e praticar o amor ao próximo. O amor deve transcender barreiras políticas, sociais e culturais, alcançando tanto os que concordam conosco quanto os que pensam de forma diferente.
4. Orar pela sociedade e pelos líderes. A oração é essencial para interceder pela transformação social, pelos líderes e pela cura das divisões que afligem a nação.
5. Testemunhar do Evangelho de Cristo. A maior contribuição cristã é o anúncio do Evangelho, capaz de transformar corações e trazer reconciliação em um mundo polarizado.
Por fim, a metáfora da cidade sobre o monte lembra que a vida cristã é observada pelo mundo. Como bem aponta Timothy Keller, “a vida do cristão é um testemunho vivo do poder transformador de Cristo”. Assim, os discípulos de Jesus devem viver de modo que glorifique a Deus e atraia outros à fé.
Em suma, Mateus 5:14 é um chamado à missão e à autenticidade. Ao declarar que seus seguidores são “a luz do mundo”, Jesus nos convoca a refletir Sua glória e verdade em um mundo em trevas. A metáfora da cidade sobre o monte reforça que a vida cristã não pode ser oculta, ela deve ser visível e impactante. Portanto, somos desafiados a viver como luz, iluminando o caminho para Cristo e manifestando o Reino de Deus em todas as áreas da vida.
Referências:
STOTT, John R. W. A Mensagem do Sermão do Monte. Tradução de Yolanda M. Krievin. São Paulo: ABU Editora, 1986.
CARSON, D. A. O Comentário de Mateus. In: CARSON, D. A.; MOO, Douglas J.; MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento. Tradução de Marcelo Herberts. São Paulo: Vida Nova, 1997.
KELLER, Timothy. A Fé na Era do Ceticismo: Como a Razão Explica Deus. Tradução de Almiro Pisetta. São Paulo: Vida Nova, 2018.
Lembre-se: Rendam graças ao SENHOR, pois Ele é bom; o seu amor dura para sempre.
Sola Scriptura - Solus Christus - Sola gratia - Sola fide e Soli Deo glória
SHALOM ADONAI
Um comentário:
A luz dissipa as trevas. Que possamos refletir o brilho de Jesus aos que nos rodeiam.
Excelente mensagem.
Glória a Deus!
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