Está escrito:
“7Não se deixem enganar: de Deus não se zomba. Pois o que o homem semear, isso também colherá. 8Quem semeia para a sua própria carne, da carne colherá destruição; contudo, quem semeia para o Espírito, do Espírito colherá a vida eterna” (Gálatas 6:7-8 NVI).
A epístola aos Gálatas foi escrita pelo apóstolo Paulo para combater heresias que surgiam entre os crentes da Galácia, especialmente o legalismo judaizante. O capítulo 6 destaca a responsabilidade mútua na vida cristã e a necessidade de perseverança no bem. No contexto imediato de Gálatas 6:7-8, Paulo adverte contra a hipocrisia espiritual, enfatizando que nossas ações, sejam elas egoístas ou espirituais, têm consequências inevitáveis.
Esses versículos inserem-se no tema maior da liberdade cristã vivida no Espírito (Gálatas 5:16-25), contrastando as obras da carne com o fruto do Espírito. A metáfora da semeadura e colheita reflete uma verdade universal e espiritual: aquilo que investimos em nossa vida determina os resultados, sejam eles temporais ou eternos.
Observe que o texto começa com uma advertência clara: “Não se deixem enganar: de Deus não se zomba” (v.7). O termo grego para “zombar” (μυκτηρίζω, mukterizo) refere-se à ideia de desprezar, escarnecer ou tratar com desdém. Nesse contexto, zombar de Deus não é apenas uma zombaria verbal, mas um desprezo prático pela Sua santidade, justiça e autoridade.
Na prática é o mesmo que viver a vida como se Deus não existisse – ou seja, ignorando Seus mandamentos e verdades – equivale a essa zombaria. É um estilo de vida que demonstra desrespeito por Deus, tratando-o como irrelevante ou incapaz de exercer Sua justiça. Salmos 14:1 reforça essa ideia: “Diz o insensato no seu coração: ‘Deus não existe’.” Esse “insensato” vive como se não houvesse consequências divinas para suas ações.
Portanto, quando alguém vive sem considerar Deus, sem reconhecer Sua soberania e sem dar importância às consequências espirituais de suas escolhas, essa pessoa age como quem “zomba de Deus”. Entretanto, Paulo nos lembra que tal zombaria não altera a realidade divina: Deus não pode ser enganado; Ele é justo em todas as Suas ações e julgará conforme nossas escolhas, além disso, Suas leis espirituais permanecem inabaláveis, incluindo a lei da semeadura e colheita.
Paulo utiliza a metáfora agrícola da semeadura e colheita para destacar a relação entre nossas ações (semeadura) e suas consequências (colheitas). O texto apresenta dois tipos de semeadura:
1. Semeadura para a carne: Viver para a carne significa orientar a vida em função de desejos, inclinações e prazeres que satisfazem a natureza humana em sua condição pecaminosa e separada de Deus. A “carne”, em Gálatas 6:8 não se refere apenas ao corpo físico, mas simboliza a natureza caída do ser humano, marcada pelo egoísmo, rebeldia contra Deus e busca por satisfação terrena.
Paulo descreve as “obras da carne” em Gálatas 5:19-21, incluindo imoralidade sexual, idolatria, inimizades, invejas e outras. Essas práticas representam uma vida voltada para interesses imediatistas, materiais e autossuficientes, ignorando as consequências espirituais e eternas.
Além disso viver para a carne não implica apenas prazeres explícitos, mas também uma mentalidade que prioriza ambições terrenas e valores materialistas, como acumular riquezas, buscar poder ou status e colocar as necessidades humanas acima de Deus. Romanos 8:5-6 esclarece que aqueles que vivem segundo a carne “têm a mente voltada para o que a carne deseja”, enquanto os que vivem segundo o Espírito se concentram nas coisas de Deus.
Essa escolha de vida leva à destruição, conforme Paulo enfatiza em Gálatas 6:8, porque a carne está em constante oposição ao Espírito (Gálatas 5:17). Por isso, viver para a carne significa rejeitar a vida plena e eterna que Deus oferece, trocando-a por prazeres passageiros e insatisfatórios. Isso também ecoa Romanos 8:13, que diz: “Se vocês viverem de acordo com a carne, morrerão”.
2. Semeadura para o Espírito: Viver para o Espírito significa buscar uma vida piedosa, marcada por obediência, reverência e comunhão com Deus. É um estilo de vida no qual o crente busca constantemente agradar a Deus, guiando-se pelo Espírito Santo e conformando-se aos Seus valores e propósitos. Essa vida envolve: santidade e obediência (1Pedro 1:15-16), produção do fruto do Espírito (Gálatas 5:22-23), Dependência de Deus (João 14:26; Romanos 8:14), adoração e serviço (Romanos 12:1; Tiago 1:27).
Logo, viver para o Espírito implica um relacionamento profundo e contínuo com Deus, em que a oração, a meditação na Palavra e a prática do amor ao próximo moldam nossas ações e prioridades. Essa vida piedosa reflete a natureza transformadora do evangelho e é uma resposta de gratidão à salvação recebida em Cristo. Como resultado, o crente experimenta não apenas a vida eterna no porvir, mas também paz e alegria no presente (Romanos 14:17). Aleluia!
Teológo como John Stott ao comentar Gálatas, observa: “A metáfora da semeadura ilustra tanto a responsabilidade humana quanto a justiça divina. Nossos pensamentos, palavras e ações são sementes que, no tempo apropriado, produzirão frutos. Esse princípio é inevitável e imparcial.” Outro teólogo, Martyn Lloyd-Jones complementa, destacando que a semeadura para o Espírito exige disciplina e coração submisso à Palavra de Deus. Ele afirma que a colheita da vida eterna é fruto de um viver contínuo e intencional na presença do Espírito Santo.
Por outro lado, para o cristão contemporâneo, Gálatas 6:7-8 nos desafia a refletir sobre onde estamos investindo nosso tempo, recurso e energia. Então, faça a seguinte reflexão, olhando para si mesmo e se questione:
· Será que estou semeando para a carne ao buscar prazeres temporais e negligenciando minha relação com Deus?
· Será que minhas prioridades refletem uma vida guiada pelo Espírito?
· Será que estou perseverando no bem, mesmo sem resultados imediatos?
Amado(a), dedique um pouco do seu tempo à oração, à leitura da Palavra de Deus e à prática de boas obras, fazendo isso estamos semeando para o Espírito. Apoiar necessitados, discipular outros crentes e usar dons espirituais para edificar a igreja são formas de investir na eternidade.
Portanto, a mensagem de Gálatas 6:7-8 é atemporal e nos lembra que somos responsáveis pelas sementes que plantamos. Deus, que é justo, assegura que cada semeadura terá sua colheita. Que possamos escolher semear para o Espírito, vivendo em comunhão com Deus, produzindo frutos que glorifiquem Seu nome e experimentando a vida plena e eterna prometida em Cristo.
Referência:
STOTT, John. The message of Galatians. Only One Way (The Bible Speaks Today Series). InterVarsity Press, 1968.
Lembre-se: Rendam graças ao SENHOR, pois Ele é bom; o seu amor dura para sempre.
Sola Scriptura - Solus Christus - Sola gratia - Sola fide e Soli Deo glória
Shalom Adonai
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