domingo, 13 de outubro de 2024

O silêncio de Deus e o som de uma brisa suave

 

Está escrito:

“Depois do terremoto, houve um fogo, mas o SENHOR não estava nele. E depois do fogo houve o murmúrio de uma brisa suave” (1Reis 19:12 – NVI).

 

O relato do encontro de Elias com Deus no monte Horebe, é uma passagem rica em simbolismo e profundos ensinamentos espirituais. Após uma série de manifestações poderosas da natureza – vento, terremoto e fogo -, Elias finalmente ouve um som de uma suave brisa, representando a forma como Deus escolhe Se revelar em momentos de quietude. Este cenário nos convida a refletir sobre o silêncio de Deus em meio às provações e a como podemos lidar com essas situações, especialmente quando parece que Deus não está presente nas grandes manifestações que esperávamos.


Para compreendermos essa passagem bíblica, é importante contextualizar os fatos. No capítulo 19 de 1Reis, encontramos o profeta Elias em um estado de desespero. Após derrotar os profetas de Baal, ele foge para o deserto, sentindo-se isolado, desencorajado e temeroso por sua vida, devido à perseguição da rainha Jezabel. Esse momento na vida de Elias reflete um período de grande angústia, dúvida e desesperança – experiências que, acredito, são comuns para os crentes que enfrentam adversidades e têm dificuldades em discernir a presença ou a voz de Deus.


Quando Elias chega ao monte Horebe, ele espera encontrar Deus de maneira apoteótica, mas Deus não estava no vento, nem no terremoto ou no fogo, ambos símbolos de poder e catástrofe. Ao contrário, Ele se revela por meio de um som de uma suave brisa, ensinando que, muitas vezes, a presença de Deus se manifesta de maneira discreta e silenciosa. Querido(a), o silêncio de Deus não significa Sua ausência, mas sim uma revelação que exige sensibilidade espiritual para ser compreendida.


Eu também passei por uma experiência marcante em minha vida, onde quase fui levado ao desespero. Orava, clamava e passava muitas noites em lágrimas, buscando uma resposta para o porquê de tanto sofrimento e perseguição. No entanto, o que eu ouvia era apenas o silêncio de Deus. A princípio, foi angustiante, mas, por trás das minhas dúvidas, Deus estava trabalhando silenciosamente. O Espírito Santo começou a acalmar minha alma e me ajudou a enxergar coisas que eu não conseguia ver devido à aflição.


Muitos crentes, em suas jornadas espirituais, enfrentam esses momentos desafiadores. Isso já havia sido previsto, pois Jesus disse: “Neste mundo vocês terão aflições; contudo, tenham ânimo! Eu venci o mundo” (João 16:33-NVI). Em tempos de aflições, doenças, perda, luto ou qualquer outra crise, a ausência de uma resposta clara para nosso problema pode suscitar questionamentos sobre o cuidado e o amor de Deus. Elias também esperava uma intervenção grandiosa de Deus, mas foi confrontado com a realidade de que, muitas vezes, Ele escolhe falar de maneira sutil. A experiência que vivi me trouxe algumas lições que gostaria de compartilhar:


1. Deus trabalha no silêncio: O silêncio de Deus não significa inatividade ou abandono. Muitas vezes, Ele está operando nos bastidores, moldando nosso caráter, fortalecendo nossa fé e nos ensinando a depender dEle, mesmo quando não sentimos Sua presença de maneira palpável. Esse é nosso Deus que “desde os tempos antigos ninguém ouviu, nenhum ouvido percebeu, e olho nenhum viu outro Deus, além de ti, que trabalha para aqueles que nele esperam” (Isaías 64:4-NVI).


2. O valor do silêncio para o discernimento: Em meio ao caos da vida, é comum buscarmos sinais visíveis e sobrenaturais como evidência da presença de Deus. No entanto, o silêncio divino nos oferece uma oportunidade única para desenvolver a paciência, a confiança e a sensibilidade espiritual. Assim como Elias teve que esperar até ouvir o som suave de uma brisa, também somos chamados a aprender a escutar a voz de Deus, que muitas vezes fala de forma sutil, como uma brisa suave no rosto, ao invés de trovoadas e manifestações grandiosas.


3. Confiança em meio à adversidade: Quando Deus parece silencioso, somos convidados a confiar que Ele permanece soberano e atuante. Da mesma forma que Elias foi renovado em sua missão após esse encontro com Deus, podemos encontrar nova força ao descansar na certeza de que Ele está conosco, mesmo no silêncio. Jesus nos garantiu em Mateus 28:20 – “E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos”. 


Mas, a pergunta que exige resposta é, o que fazer no silêncio de Deus? Embora não haja uma resposta definitiva, minha experiência pessoal me desafiou a manter uma atitude de fé e perseverança. Algumas práticas que me ajudaram podem ser úteis para aqueles que enfrentam situações difíceis na vida. Vamos explorar algumas delas:

1. Persista na oração: Mesmo quando não sentimos que nossas orações estão sendo respondidas, devemos continuar buscando a Deus. A oração é um meio de alinhar nossa vontade à de Deus, e muitas vezes, nesse processo, somos transformados. Aprendi que, mais do que minha vontade, o que importa é o propósito de Deus para minha vida.


2. Medite na Palavra: A Bíblia é uma fonte constante de revelação de Deus e uma companheira inseparável para aqueles que temem ao SENHOR. Mesmo quando não ouvimos uma “voz audível”, podemos ouvir Deus falar por meio das Escrituras. A Palavra é viva e eficaz, e é através dela que o Espírito Santo nos guia, fortalece e conforta.


3. Busque comunhão com os irmãos na fé: Elias, em sua solidão, pensou que era o único profeta restante, mas Deus o corrigiu, revelando que havia outros que não se dobraram a Baal. O isolamento, especialmente daquelas que compartilham a mesma fé, pode intensificar o sentimento de abandono. Ao compartilhar nossas lutas com pessoas que se importam, encontramos apoio e encorajamento. Deus não nos criou para vivermos isolados; somos seres que necessitam de comunhão.


4. Aguarde com paciência: O silêncio de Deus é um convite à paciência. Nossa geração, com sua natureza imediatista, deseja soluções rápidas para tudo, mas a realidade da vida não segue esse ritmo. Assim como o agricultor espera pacientemente pela colheita, devemos aprender a esperar o tempo de Deus, confiando que Ele está preparando algo maior. Eu me identifico muito com o Salmo 40, especialmente no versículo 1: “Esperei com paciência pelo SENHOR, e Ele se inclinou para mim e ouviu o meu clamor”.


Concluímos, afirmando que a presença de Deus nem sempre se manifesta em grandes eventos de poder; muitas vezes, ele se revela nos momentos de silêncio e tranquilidade. Quando o crente atravessa momentos difíceis, é chamado a confiar em Deus, memo quando Ele parece silencioso. Esse silêncio não indica ausência, mas é uma oportunidade de aprofundar nossa fé, aprender a ouvir o “sussurro suave” da Sua voz e descansar na certeza de que Ele está sempre presente, operando em nós e por meio de nós.

 

Lembre-se: Rendam graças ao SENHOR, pois Ele é bom; o seu amor dura para sempre.

Sola Scriptura - Solus Christus - Sola gratia - Sola fide e Soli Deo glória

SHALOM ADONAI

domingo, 6 de outubro de 2024

Escolha de líderes: uma perspectiva bíblica na contemporaneidade


 Está escrito:

“Escolha, porém, dentre todo o povo homens capazes, tementes a Deus, dignos de confiança e que odeiam o ganho desonesto” (Êxodo 18:21).

 

O livro de Êxodo, na Bíblia, apresenta uma narrativa rica em ensinamentos e princípios que transcenderam séculos, influenciando não apenas a esfera espiritual, mas também aspectos práticos da vida em sociedade. O versículo em pauta, destaca a importância da escolha de lideranças, apontando características fundamentais para orientar tal seleção: homens ou mulheres capazes, tementes a Deus, dignos de confiança e que odeiam o ganho desonesto ou a corrupção. Nesta breve reflexão, vamos pensar um pouco nestes quatro critérios básicos na ascensão de um líder.


1. Capacidade e competência: no contexto contemporâneo, a escolha de líderes é muitas vezes permeada por critérios superficiais, como popularidade ou habilidades retóricas. No entanto, a capacidade, mencionada no texto, vai além das habilidades técnicas. Teólogos como John C. Maxwell, ressaltam a importância de líderes possuírem não apenas habilidades técnicas, mas também habilidades interpessoais e emocionais. A capacidade de liderança deve refletir integridade, sabedoria e discernimento.


No contexto teológico, a capacidade e competência referem-se a uma combinação de habilidades, virtudes e qualidades que capacitam um líder a desempenhar suas responsabilidades de maneira eficaz e ética. Vejamos alguns aspectos fundamentais desse conceito:

·      Habilidades técnicas e conhecimento: não temos dúvidas de que essas habilidades são importantes. Líderes eficazes geralmente possuem conhecimentos específicos relacionados à sua área de atuação. 

·      Habilidades interpessoais: essa habilidade é a capacidade de se comunicar de maneira eficaz, resolver conflitos, motivar e inspirar outros. 

·      Integridade e ética: a competência de um líder não é completa sem a presença da integridade e ética em suas ações. A capacidade de tomar decisões éticas, agir com honestidade e cultivar um ambiente de confiança são aspectos críticos da competência de liderança. A integridade é fundamental para construir relacionamentos sólidos e sustentáveis.

·      Empatia e inclusão: a capacidade de compreender e se relacionar com as necessidades e perspectivas dos outros é uma característica cada vez mais valorizada em líderes contemporâneos. A inclusão, a diversidade e a equidade são componentes importantes da competência de liderança.

2. Temente a Deus: a dimensão espiritual da liderança não pode ser subestimada. Teólogos como Timothy Keller destacam a necessidade de líderes serem orientados por princípios éticos e morais derivados da sua fé. O temor a Deus, mencionado no texto, não se refere apenas à reverência, mas à busca constante por uma vida alinhada com os valores do Reino de Deus, refletindo uma conduta justa e compassiva. 


É importante destacar que essa característica vai além de uma observância superficial de práticas religiosas, qualquer que seja. Ela reflete a integração da fé na tomada de decisões, no comportamento e na ética do líder. Vamos esclarecer um pouco mais alguns aspectos essenciais dessa qualidade:

·      Obediência aos princípios divinos: ser temente a Deus implica em viver de acordo com os princípios e mandamentos divinos. Isso não se limita apenas à observância de rituais religiosos, tipo fariseu da modernidade, mas se estende ao compromisso de viver uma vida ética, justa e alinhada com os valores morais ensinados pela fé cristã.

·      Busca por sabedoria: o temor a Deus envolve a busca constante por sabedoria. Isso significa reconhecer a limitação humana e depender da orientação de Deus nas decisões importantes. Teólogos contemporâneos, como Timothy Keller, destacam a importância da sabedoria bíblica na liderança, buscando discernimento divino para lidar com desafios complexos.

·      Responsabilidade perante Deus: a consciência da responsabilidade perante Deus é uma parte integral do temor a Ele. Líderes tementes a Deus reconhecem que serão responsáveis não apenas perante as pessoas, mas também diante do Criador, o Todo-Poderoso Deus, prestando contas de suas ações, decisões e o impacto que têm sobre outros. 

·      Cultivo da espiritualidade pessoal: líderes tementes a Deus dedicam tempo ao desenvolvimento espiritual pessoal. Isso inclui práticas como oração, leitura da Bíblia, reflexão e adoração. Esses aspectos fortalecem a conexão do líder com Deus, moldando sua perspectiva, valores e atitudes. 

·      Humildade diante de Deus: o temor a Deus está intrinsecamente ligado à humildade. Líderes que reconhecem a grandiosidade e santidade de Deus mantêm uma postura de humildade, reconhecendo que a verdadeira liderança é um serviço aos outros, em conformidade com o exemplo de Jesus Cristo.

3. Dignos de confiança: a confiança é um alicerce crucial na liderança. Nesse sentido, autores como Patrick Lencioni, ressaltam a importância da vulnerabilidade e transparência para construir relações de confiança. Líderes dignos de confiança são aqueles que são autênticos, admitindo seus erros e sendo fiéis aos seus compromissos.


4. Odeiam o ganho desonesto ou a corrupção: a aversão ao ganho desonesto ou corrupção remete à integridade financeira e ética. Em um mundo marcado por corrupção e em especial no Brasil, que ocupa a 104ª colocação no Índice de Percepção da Corrupção (IPC) de 2023, teólogos contemporâneos, como Ron Sider, destacam a necessidade de líderes serem exemplos de retidão e justiça. A liderança ética não apenas impacta a esfera espiritual, mas também contribui para o bem-estar da sociedade como um todo.


Portanto, à luz do versículo Êxodo 18:21, a seleção de líderes (representantes) é um processo complexo que vai além de critérios meramente pragmáticos. A capacidade, o temor a Deus, a confiança e a integridade são elementos cruciais que devem nortear a escolha de seus representantes na sociedade contemporânea. Que esta reflexão nos guie nas eleições de hoje, fornecendo uma base sólida para a escolha de líderes (prefeitos e vereadores) comprometidos com o bem comum e com os valores do Reino de Deus.  

 

Lembre-se: Rendam graças ao SENHOR, pois Ele é bom; o seu amor dura para sempre.

Sola Scriptura - Solus Christus - Sola gratia - Sola fide e Soli Deo glória

SHALOM SHALOM