domingo, 19 de maio de 2024

A interconexão de fé e arrependimento na salvação: uma perspectiva teológica

 

Está escrito:

“testemunhando, tanto a judeus como a gregos, o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus” (Atos 20:21).


A relação entre fé e arrependimento na salvação do homem é um tema de profunda importância na teologia cristã e diversas correntes doutrinárias têm abordado essa questão ao longo dos séculos. A teologia reformada, derivada da Reforma Protestante no século XVI liderada por Martinho Lutero e João Calvino, destaca a primazia da fé no processo de justificação, mas também reconhece a vitalidade do arrependimento. Nesta breve reflexão, exploraremos a interconexão desses dois elementos à luz das Escrituras e das contribuições de teólogos reformados.


É importante observar que há nuances e diferentes correntes dentro da teologia reformada, mas vejamos algumas ideias gerais:

·      Sola Fide (Somente a Fé): a teologia reformada enfatiza fortemente a ideia de “Somente a Fé”. Isso significa que a salvação (reconciliação com Deus e promessa de vida eterna) é alcançada exclusivamente pela fé em Jesus Cristo como Senhor e Salvador. Acredita-se que a fé é o meio pelo qual os crentes são justificados diante de Deus. Paulo, em suas epístolas, destaca repetidamente o papel crucial da fé na justificação do homem diante de Deus. Romanos 3:28 declara: “Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei”. A fé é vista como o canal pelo qual a graça redentora de Deus é recebida.

·      Arrependimento como resposta à Fé: embora a ênfase esteja na fé, a teologia reformada geralmente reconhece que o arrependimento é uma parte integral da experiência de salvação. O arrependimento, neste contexto, é visto como uma mudança de mentalidade e coração em relação ao pecado e a Deus, é considerado uma resposta lógica e subsequente à fé. Essa mudança está conectada à fé em Cristo que na prática é evidenciada por profunda alteração nos pensamentos, afeições, convicções, compromissos e atitudes. Pedro, em Atos 2:38, após receber o poder do Espírito Santo, foi categórico ao afirmar: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para o perdão de vossos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo”. Aqui o arrependimento é apresentado como uma expressão prática da fé em Cristo.

·      A ordem lógica e a Soberania de Deus: alguns teólogos reformados argumentam que, enquanto a justificação (ser declarado justo diante de Deus) acontece pela fé, o arrependimento é uma resposta lógica e subsequente à fé. Isso significa que, embora a fé e o arrependimento estejam conectados, a fé é o ponto inicial que leva ao arrependimento. Efésios 2:8-9 enfatiza a natureza graciosa da salvação pela fé, ressaltando que é um dom de Deus, não resultando de obras. A soberania de Deus na obra redentora é enfatizada, indicando que Deus é quem efetua a fé e concede o dom do arrependimento.

Calvino, em suas institutas (instruções ou ensinamentos), aborda a relação entre fé e arrependimento, destacando que a fé é a principal causa da salvação, mas não está desvinculada do arrependimento, que ele considera como uma “anexa” à fé. Lutero, por sua vez, ressalta a natureza contínua do arrependimento na vida do crente, evidenciando sua importância além do momento da conversão.


Não há dúvida que a teologia reformada oferece uma compreensão robusta da interconexão entre fé e arrependimento na salvação do homem. A fé é central, sendo o meio pelo qual a graça divina é recebida, enquanto o arrependimento é a resposta prática e contínua à fé. A análise bíblica e as contribuições de teólogos reformados destacam a complexidade e a harmonia desses elementos no plano redentor de Deus.


Assim, diante o exposto, fica evidenciado que a fé em Deus leva ao reconhecimento do pecado e, consequentemente, ao arrependimento. No entanto, a passagem para a salvação envolve uma transformação ou regeneração espiritual, o reconhecimento do próprio pecado e o desejo de mudança de vida que constitui um ato de conversão que compreende o arrependimento e transformação interior. 


Nesse contexto, no Evangelho de João, Jesus diz a Nicodemos: “Em verdade, em verdade te digo que ninguém pode ver o reino de Deus se não nascer de novo” (João 3:3). Nicodemos não entendeu as palavras de Jesus, e Ele explica que não é um nascimento físico, mas espiritual. 


O novo nascimento ou nascer de novo está associado à regeneração espiritual, que envolve o arrependimento e a transformação interior. O ato de nascer de novo é, portanto, visto como um novo começo espiritual, uma transformação interior operada pelo Espírito Santo na vida da pessoa. Daí, Paulo ao abordar a ideia de uma nova criação em Cristo, afirma: “Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criação; as coisas velhas já passaram, e surgiram coisas novas” (2Coríntios 5:17). Essa passagem reflete a natureza transformadora da experiência de nascer de novo.


Portanto, pode-se perceber que a salvação envolve uma interconexão de elementos, e alguns dos principais são fé, arrependimento e regeneração espiritual:

1.     : a fé é frequentemente vista como central para a salvação. A salvação é recebida pela fé em Jesus Cristo como Senhor e Salvador.

2.     Arrependimento: o arrependimento é frequentemente considerado como uma resposta à fé. Envolve o reconhecimento do pecado, uma mudança de mente e coração em relação ao pecado e o desejo de se afastar dele.

3.     Regeneração Espiritual: a regeneração espiritual é vista como a obra do Espírito Santo na vida de uma pessoa, transformando-o interiormente. É muitas vezes associada ao conceito de “nascer de novo” ou “ser uma nova criação em Cristo”. 

Em resumo, a salvação envolve a fé como ponto de partida, o arrependimento como uma resposta à fé e a regeneração espiritual como a obra contínua do Espírito Santo na vida do crente. Esses elementos estão interconectados e são considerados partes integrantes do processo de salvação e vida eterna. Em última análise, a salvação é um ato gracioso de Deus, no qual a fé e o arrependimento se entrelaçam, evidenciando a obra soberana do Criador na restauração da humanidade.


Lembre-se: Rendam graças ao SENHOR, pois Ele é bom; o seu amor dura para sempre.

Sola Scriptura - Solus Christus - Sola gratia - Sola fide e Soli Deo glória

Shalom Adonai

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