domingo, 23 de fevereiro de 2025

O papel do cristão como luz e agente de transformação social

 

Está escrito em Mateus 5:14 (NVI): “Vocês são a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte”.

 

Essa passagem integra o Sermão do Monte, registrado em Mateus 5 – 7, um discurso que estabelece os princípios do Reino de Deus. Considerado um dos ensinamentos mais profundos e impactante de Jesus Cristo o texto utiliza duas metáforas poderosas – a luz e a cidade sobre o monte – para transmitir verdades essenciais sobre a identidade e a missão dos seus seguidores. Vamos, juntos, explorar a riqueza desse ensinamento de Jesus.

Ao dirigir-se aos seus discípulos e à multidão, Jesus apresenta um contraste entre os valores do mundo e os do Reino de Deus. Em Mateus 5:14, Ele afirma que seus seguidores são “a luz do mundo”. Essa declaração sucede a metáfora do sal (v.13), que enfatiza o papel preservador e transformador dos discípulos. A luz, por sua vez, simboliza a revelação, a verdade e direção, valores que os cristãos devem refletir em um mundo de trevas.

A imagem de uma “cidade construída sobre um monte” remete a algo visível e inegável. Na antiguidade, as cidades eram frequentemente construídas em locais elevados, tanto por razões estratégicas quanto de segurança, tornando-se pontos de referência para todos ao redor. Jesus utiliza essa figura para ensinar que a vida de um crente não pode ser oculta. Não se trata de viver um “evangelho secreto” ou ser um “007 gospel”, mas de ser um testemunho público da graça e da verdade de Deus.

Para compreender Mateus 5:14, é fundamental considerar seu contexto literário, histórico e teológico. A luz é um símbolo recorrente nas Escrituras, associado à presença de Deus (Salmo 27:1), à Sua Palavra (Salmo 119:105) e à missão de Israel como nação escolhida (Isaías 42:6). No Novo Testamento, Jesus se identifica como “a luz do mundo” (João 8:12). Ao chamar seus discípulos de “a luz do mundo”, Ele os associa à sua missão redentora.

O teólogo John Stott em seu comentário sobre o Sermão do Monte, ressalta que a luz não existe para si mesma, mas para iluminar o que está ao redor. Ele afirma: “A luz é uma metáfora da influência cristã. Assim como a luz dissipa as trevas, os cristãos devem dissipar a ignorância, o erro e o mal no mundo”. Stott enfatiza que a visibilidade da luz é essencial; ela não pode ser escondida, assim como uma cidade sobre um monte não passa despercebida.

De maneira semelhante, D. A. Carson, observa que a luz simboliza a verdade e a justiça que os discípulos devem refletir. Ele destaca que essa visibilidade é um chamado à autenticidade: “A vida do cristão deve ser tão evidente quanto uma cidade no monte, não por ostentação, mas por uma integridade que naturalmente atrai a atenção”. 

A aplicação de Mateus 5:14 em nossa vida é multifacetada. Primeiro, o texto nos desafia a viver de forma autêntica e transparente. A luz não pode ser escondida, e, da mesma forma, nossa fé deve ser evidenciada em ações, palavras e estilo de vida. Isso implica viver conforme os valores do Reino - amor, justiça, humildade e misericórdia - mesmo em um mundo marcado pelo egoísmo e pela corrupção. 

Em segundo lugar, o versículo destaca a missão evangelística e social da Igreja. Como luz do mundo, somos chamados a proclamar o Evangelho a todas as nações (Mateus 28:19-20) e a combater as trevas do pecado e da injustiça. Esse chamado inclui engajamento em obras sociais, defesa dos oprimidos e promoção da reconciliação. 

No contexto polarizado da sociedade atual, marcada por extremismo de direita e esquerda, como os cristãos podem combater o pecado e a injustiça? Embora seja um desafio complexo que exige sabedoria, discernimento e uma abordagem fundamentada nos princípios bíblicos, podemos adotar algumas práticas para nos engajarmos de maneira efetiva e redentora nesse cenário:

1. Viver com integridade e autenticidade. O testemunho cristão deve ser pautado pela honestidade, humildade e amor ao próximo, demonstrando que é possível viver acima das divisões ideológicas.

2. Promover a reconciliação e o diálogo. Devemos construir pontes entre grupos opostos por meio do diálogo respeitoso, da escuta ativa e da busca pelo bem comum. 

3. Ensinar e praticar o amor ao próximo. O amor deve transcender barreiras políticas, sociais e culturais, alcançando tanto os que concordam conosco quanto os que pensam de forma diferente.

4. Orar pela sociedade e pelos líderes. A oração é essencial para interceder pela transformação social, pelos líderes e pela cura das divisões que afligem a nação.

5. Testemunhar do Evangelho de Cristo. A maior contribuição cristã é o anúncio do Evangelho, capaz de transformar corações e trazer reconciliação em um mundo polarizado.

Por fim, a metáfora da cidade sobre o monte lembra que a vida cristã é observada pelo mundo. Como bem aponta Timothy Keller, “a vida do cristão é um testemunho vivo do poder transformador de Cristo”. Assim, os discípulos de Jesus devem viver de modo que glorifique a Deus e atraia outros à fé.

Em suma, Mateus 5:14 é um chamado à missão e à autenticidade. Ao declarar que seus seguidores são “a luz do mundo”, Jesus nos convoca a refletir Sua glória e verdade em um mundo em trevas. A metáfora da cidade sobre o monte reforça que a vida cristã não pode ser oculta, ela deve ser visível e impactante. Portanto, somos desafiados a viver como luz, iluminando o caminho para Cristo e manifestando o Reino de Deus em todas as áreas da vida.

Referências:

STOTT, John R. W. A Mensagem do Sermão do Monte. Tradução de Yolanda M. Krievin. São Paulo: ABU Editora, 1986.

CARSON, D. A. O Comentário de MateusIn: CARSON, D. A.; MOO, Douglas J.; MORRIS, LeonIntrodução ao Novo Testamento. Tradução de Marcelo Herberts. São Paulo: Vida Nova, 1997.

KELLER, Timothy. A Fé na Era do Ceticismo: Como a Razão Explica Deus. Tradução de Almiro Pisetta. São Paulo: Vida Nova, 2018.

 

Lembre-se: Rendam graças ao SENHOR, pois Ele é bom; o seu amor dura para sempre.

Sola Scriptura - Solus Christus - Sola gratia - Sola fide e Soli Deo glória

SHALOM ADONAI

domingo, 16 de fevereiro de 2025

Suportar e perdoar: imitação de Cristo na vida cristã

 

Está escrito em Colossenses 3:13 (NVI): “Suportem uns aos outros e perdoem as queixas que tiverem uns contra os outros. Perdoem como o Senhor os perdoou”.

 

O perdão é uma das virtudes mais profundas e transformadoras da vida cristã. Fundamentado na graça de Deus, ele nos convida a imitar o caráter divino em nossas relações humanas. Em Colossenses 3:13, Paulo exorta os cristãos a suportarem uns aos outros e a perdoarem, assim como Deus os perdoou em Cristo. Essa ordem não é apenas um conselho ético, mas um reflexo da reconciliação proporcionada na cruz, onde justiça e amor se encontram (Salmos 85:10). Nesta reflexão, vamos explorar os fundamentos teológicos do perdão e sua aplicação prática.

Paulo, ao escrever aos colossenses, apresenta o perdão como uma resposta direta à graça divina recebida. A expressão “perdoem como o Senhor os perdoou” aponta para a base teológica do perdão cristão: a obra de Cristo na cruz. O perdão não é opcional; é uma obrigação para aqueles que foram reconciliados com Deus (Efésios 4:32). 

John Stott, refletindo sobre o perdão, afirma: “Nada nos humilha tanto quanto o perdão de Deus. Nada nos transforma tanto quanto a experiência de sermos perdoados, e nada nos motiva tanto a perdoar os outros quanto a recordação de que nós mesmos fomos perdoados”. Assim, o perdão humano é reflexo e extensão do perdão divino. 

Observe no texto de Colossenses 3:13, que Paulo une os conceitos de “suportar” e “perdoar”, indicando que as relações comunitárias, em qualquer ambiente social, exigem paciência e graça. Suportar uns aos outros significa aceitar as diferenças e lidar com falhas alheias sem desistir do relacionamento. O perdão, por sua vez, restaura os laços rompidos pelo pecado. 

Diversas passagens bíblicas reforçam o perdão como central na vida cristã. Na oração do Pai Nosso, Jesus ensina: “Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores” (Mateus 6:12 NVI). Essa relação direta entre receber e conceder perdão nos lembra que o cristão que não perdoa negligencia a graça que recebeu.

Parece lindo na teoria, não é? O perdão é inspirador, mas na prática, pode ser confuso e difícil. Porque uma coisa é ler as palavras de Jesus sobre o perdão e outra completamente diferente é perdoar quando somos machucados, decepcionados ou traídos. Afinal, por que é tão complicado perdoar? 

Há situações que causam danos emocionais profundos, deixando marcas difíceis de apagar. O perdão pode parecer que estamos ignorando ou minimizando a gravidade da ofensa. Além disso, o orgulho muitas vezes resiste ao perdão, pois este pode ser visto como fraqueza ou renúncia do direito de retribuição. 

Perdoar exige abrir mão da proteção emocional que a mágoa aparenta oferecer, já que nutrir a raiva pode dar uma falsa sensação de controle. Outro equívoco é confundir perdão com reconciliação; muitas pessoas acreditam que perdoar significa necessariamente restaurar o relacionamento, o que nem sempre é seguro ou possível.

Embora desafiador, o perdão é possível pela graça de Deus. Assim, vejamos algumas práticas que podem ajudar nesse processo:

1. Reconheça a dor e a ofensa. Antes de perdoar, é importante validar a profundidade da mágoa. Negar ou minimizar a dor pode dificultar a cura.

2. Ore por força e sabedoria. O perdão é um mandamento divino que requer a ação do Espírito Santo em nós. Jesus nos ensinou a orar por nossos inimigos (Mateus 5:44). Orar por quem nos feriu pode transformar nosso coração e nos capacitar a perdoar.

3. Relembre o perdão que recebeu. Efésios 4:32, nos lembra de perdoar “assim como Deus nos perdoou em Cristo”. Lembrar o quanto fomos perdoados por Deus, apesar de nossos próprios erros, pode ajudar a estender essa graça aos outros.

4. Decida perdoar, mesmo sem sentir. Perdoar é uma escolha, não uma emoção. A obediência a Deus pode anteceder a cura emocional.

5. Entenda que perdoar não é esquecer. Perdoar não significa apagar a memória da ofensa, mas escolher não permitir que ela controle nossas emoções ou atitudes. Em Miqueias 7:19, Deus lança nossos pecados nas profundezas do mar, mas isso reflete Sua escolha de não trazê-los à tona. 

Dietrich Bonhoeffer, em Discipulado, escreveu: “Perdoar é sofrer com o outro e, ao mesmo tempo, libertá-lo. Assim como Deus nos liberta por meio de Cristo, somos chamados a libertar os outros de suas dívidas contra nós”. Essa perspectiva nos desafia a transcender sentimentos humanos de vingança ou mágoa e refletir a misericórdia divina.

Perdoar não é um ato natural para o ser humano, mas é uma expressão do poder transformador do Espírito Santo. O perdão começa com uma decisão de obedecer à ordem divina e, muitas vezes, envolve um processo de cura interior. A oração e a meditação na Palavra de Deus nos capacitam a perdoar de forma genuina.

C. S. Lewis, em Cristianismo puro e simples, observa: “Todos dizem que o perdão é uma ideia adorável, até que tenham algo para perdoar”. Esse comentário reflete o desafio prático do perdão, mas também sua profundidade espiritual como um ato de obediência e amor.

Em resumo, Colossenses 3:13 nos convida a viver em comunhão, marcada pela paciência e pelo perdão, fundamentados no exemplo de Cristo. Perdoar não é apenas uma exigência moral; é a manifestação prática do evangelho. Quando perdoamos, proclamamos a graça de Deus e antecipamos a reconciliação plena que será consumada em Cristo. 

Pode-se concluir, portanto, que o perdão é um ato de fé, obediência e amor que glorifica a Deus, edifica a comunidade e liberta tanto quem perdoa quanto quem é perdoado. Que sejamos inspirados pelo perdão de Deus e agentes de reconciliação no mundo. 

 

Referências:
STOTT, J. A cruz de Cristo. São Paulo: Vida, 2006.

BONHOEFFER, D. Discipulado. RGS: Ed. Sinodal, 1989.

LEWIS, C. S. Cristianismo puro e simples. Rio de Janeiro: Ed. Thomas Nelson Brasil, 2017.

 

Lembre-se: Rendam graças ao SENHOR, pois Ele é bom; o seu amor dura para sempre.

Sola Scriptura - Solus Christus - Sola gratia - Sola fide e Soli Deo glória

Christós kyrios

domingo, 9 de fevereiro de 2025

A promessa de Deus em Isaías 41:10 – um chamado à confiança e coragem na vida cristã


 

Está escrito em Isaías 41:10 (NVI): “Por isso, não tema, pois estou com você; não tenha medo, pois sou o seu Deus. Eu o fortalecerei e o ajudarei; eu o segurarei com a destra da minha justiça”.

 

A passagem de Isaías 41:10 é uma das mais confortadoras das Escrituras, frequentemente citada em momentos de angústia e desafio. Este versículo expressa a garantia da presença, do auxílio e do poder de Deus sobre aqueles que confiam n’Ele. A mensagem central de “não tema” ressoa em vários trechos da Bíblia, reafirmando a soberania divina e o compromisso de Deus em fortalecer e sustentar Seu povo. Vamos explorar a riqueza teológica desse versículo e sua aplicação prática na vida cristã.

É importante ressaltar que o livro de Isaías foi escrito em um contexto de crises nacionais e internacionais. Durante o ministério do profeta, Israel enfrentava ameaças do Império Assírio e, posteriormente, da Babilônia. O capítulo 41 é parte de uma seção conhecida como “Livro da Consolação” (Isaías 40-55), que enfatiza o conforto e a esperança para o povo exilado. Nesse capítulo, Deus desafia as nações pagãs, demonstrando Sua soberania, e encoraja Israel a confiar n’Ele como o Deus que redime e sustenta.

Isaías 41:10 é o coração dessa mensagem, em que Deus oferece segurança diante do medo e das adversidades. O versículo apresenta promessas que destacam a natureza protetora e poderosa de Deus. 

A expressão “Não tema, pois estou com você” é uma ordem acompanhada pela razão principal: a presença de Deus. Este tema é recorrente nas Escrituras (Josué 1:9; Mateus 28:20). A presença divina é o antídoto para o medo, reafirmando que Deus está sempre próximo para proteger e guiar. No entanto, é necessário fé. 

A fé, conforme descrita na Bíblia, é a confiança em Deus e em Suas promessas, mesmo meio à incerteza ou perigo. O salmista declara: “Quando eu temer, confiarei em ti” (Salmo 56:3). A confiança em Deus transforma a maneira como enxergamos as circunstâncias, elevando-nos da perspectiva limitada à visão da soberania divina. Quando cremos que Deus é poderoso, amoroso e presente, o medo, geralmente fruto da incerteza, é minimizado. 

Como observou Charles Spurgeon: “Um pouco de fé levará sua alma ao céu, mas uma grande fé trará o céu para sua alma”. Essa confiança robusta em Deus muda nossa abordagem aos desafios, trazendo paz em meio às tempestades.

A afirmação “Não tenha medo, pois sou o seu Deus” reitera o relacionamento pactual entre Deus e Israel. Ao dizer “Eu o fortalecerei e o ajudarei”, Deus promete capacitar e sustentar Seu povo. O verbo “fortalecer” implica uma transferência de força divina ao ser humano limitado.

A declaração “Eu o segurarei com a destra da minha justiça” traz uma das imagens mais belas da Bíblia. A “destra” simboliza poder e autoridade, assegurando que Deus não apenas ajuda, mas garante que Sua justiça prevalecerá em favor do Seu povo.

Embora essa promessa tenha sido inicialmente dirigida ao Israel exílico, o princípio subjacente é universal e aplicável aos cristãos de hoje: Deus é um refúgio constante em meio às dificuldades (Salmo 46:1).

O apóstolo Paulo ecoa a confiança em Deus quando declara: “Se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Romanos 8:31). Isso reforça que a soberania e o amor de Deus permanecem inabaláveis, mesmo diante das adversidades.

Assim, a mensagem de Isaías 41:10 oferece motivação e encorajamento em diversas áreas da vida cristã:

  • Confiança no meio do medo: Muitas vezes, enfrentamos desafios que parecem insuperáveis. Este versículo nos lembra que a presença de Deus é suficiente para dissipar qualquer temor.
  • Fortalecimento espiritual: Deus promete dar forças aos que se sentem fracos. Como Paulo afirma em 2 Coríntios 12:9, “O meu poder se aperfeiçoa na fraqueza”. 
  • Segurança em tempos de incerteza: A garantia de que Deus nos segura com a “destra da Sua justiça” nos dá paz para enfrentar situações imprevisíveis, confiando que Ele está no controle. 

Certamente, todos nós já enfrentamos situações imprevisíveis – algumas boas, outras difíceis. No entanto, podemos ter a certeza de que nada surpreende Deus. Ele governa todas as coisas com justiça e poder. 

Matthew Henry comenta que Isaías 41:10 nos lembra que “a presença de Deus em nossos corações é a maior segurança em tempos de medo”. Charles Spurgeon reforça que “quando Deus promete, Ele também provê os meios para que Sua promessa se cumpra”. Portanto, creia nas promessas de Deus e experimente Suas maravilhas em sua vida.

Em suma, Isaías 41:10 é um convite a confiar plenamente em Deus. Ele assegura Sua presença, poder e justiça em favor de Seu povo. Ao meditar nessa passagem, somos chamados a entregar nossos medos e desafios ao Deus que nos fortalece e sustenta com Sua mão poderosa. Quando confiamos n’Ele, a paz substitui a ansiedade, e a coragem supera o medo. Assim, a fé se torna um remédio eficaz, pois nos conecta ao Deus que é maior do que qualquer circunstância.

Permita-me fazer uma breve oração:

Pai amado,
Obrigado porque Tua Palavra nos assegura que não precisamos temer, pois Tu estás conosco. Fortalece-nos em nossas fraquezas, sustenta-nos com Tua mão poderosa e ajuda-nos a confiar plenamente em Ti. Que o Teu amor e Tua presença sejam nosso refúgio em todas as circunstâncias. Em nome de Jesus, Amém!


Referência:

Henry, Matthew. Comentário Bíblico de Matthew Henry Completo. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2010.

 

Lembre-se: Rendam graças ao SENHOR, pois Ele é bom; o seu amor dura para sempre.

Sola Scriptura - Solus Christus - Sola gratia - Sola fide e Soli Deo glória

Christós kyrios

domingo, 2 de fevereiro de 2025

A mente de Cristo: um chamado à humildade, amor e obediência

 

Está escrito em Filipenses 2:5 (NVI): Seja o modo de pensar de vocês o mesmo de Cristo Jesus”.


O apóstolo Paulo, ao escrever aos filipenses, faz um profundo convite para a imitação de Cristo. Em Filipenses 2:5, ele apresenta uma declaração poderosa que reflete a essência da vida cristã. Se alguém pensa que ser crente era apenas seguir os passos de Cristo, é importante compreender que é necessário ir além disso: é preciso adotar Sua mentalidade. Esse chamado é desafiador, especialmente em um mundo marcado por conflitos, individualismo e superficialidade espiritual. A mente de Cristo é um padrão a ser vivido em humildade, amor e obediência. Convido você a refletir sobre isso e a buscar lições práticas para nossa caminhada cristã.

A carta aos Filipenses foi escrita por Paulo enquanto ele estava preso em Roma, sendo parte do conjunto conhecido como “cartas da prisão”. O capítulo 2 é uma exortação à unidade e à humildade, fundamentos indispensáveis para uma convivência comunitária saudável. Nos versos anteriores (Filipenses 2:1-4), Paulo encoraja os crentes a viverem em comunhão, colocando os interesses dos outros acima dos seus próprios. A partir do versículo 5, ele apresenta Cristo como o exemplo supremo de humildade e abnegação.

O contexto cultural e social do mundo greco-romano, predominavam hierarquias rígidas e busca por status. A mensagem de Paulo contrasta radicalmente com essa mentalidade, desafiando os cristãos a seguirem o padrão divino de liderança e serviço. Assim, a mente de Cristo é apresentada como um modelo de conduta completamente oposto aos valores da sociedade daquela época. 

A expressão “seja o modo de pensar”, traduzida do grego phroneite, carrega a ideia de uma atitude, mentalidade ou disposição contínua. Paulo não sugere apenas uma mudança pontual de comportamento, mas uma transformação profunda e constante na forma como os crentes interpretam e respondem à vida.

Cristo é o paradigma dessa mentalidade. Nos versículos seguintes (Filipenses 2:6-11), Paulo descreve a kenosis, ou o esvaziamento de Cristo, que, mesmo sendo Deus, renunciou à Sua glória, assumiu a forma de servo e foi obediente até a morte na cruz. De acordo com Filipenses 2:5-8, a mente de Cristo é caracterizada por:

  • Humildade: Reconhecer que a verdadeira grandeza está em servir aos outros.
  • Sacrifício: Estar disposto a renunciar direitos e privilégios por amor.
  • Obediência: Submeter-se à vontade de Deus, mesmo em circunstâncias difíceis.

Essa descrição desafia tanto a mentalidade humanista e o egoísmo prevalente nos tempos de Paulo, quanto em nossos dias. Adotar a mente de Cristo exige uma mudança radical em nossa vida para enfrentarmos os desafios do mundo contemporâneo. Vejamos algumas sugestões práticas que podemos experimentar:

  1. Seja humilde em um mundo de autopromoção. Em uma era marcada pela cultura das redes sociais e da influência digital, somos desafiados a evitar a busca incessante por reconhecimento. A mente de Cristo nos ensina a valorizar o serviço em vez do status.
  2. Viva o amor abnegado em tempos de individualismo. O sacrifício de Cristo por outros contrasta com a mentalidade contemporânea do “primeiro eu”. Somos chamados a buscar o bem coletivo e a cuidar das necessidades de nossos irmãos em Cristo e da sociedade em geral.
  3. Obedeça mesmo em um contexto de relativismo moral. Enquanto o mundo promove a ideia de que cada um define sua própria verdade, a mente de Cristo nos chama à obediência à vontade de Deus, expressa em Sua Palavra.
  4. Seja resiliente diante da adversidade. Cristo enfrentou a cruz com perseverança e submissão. Seguir Sua mentalidade nos capacita a suportar os sofrimentos e desafios da vida com fé e esperança.

Desenvolver a mente de Cristo e um estilo de vida que glorifique a Deus exige intencionalidade, submissão ao Espírito Santo e práticas espirituais consistente. Você tem buscado cultivar a mente de Cristo no seu dia a dia, ou ainda não sabe por onde começar? A seguir, apresentamos alguns passos práticos para ajudá-lo nessa jornada:

  • Renove sua mente pela Palavra de Deus. “Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Romanos 12:2). Leia e medite nas Escrituras diariamente, permitindo que elas moldem seus pensamentos e atitudes à imagem de Cristo. 
  • Cultive uma vida de oração. Jesus cultivava uma vida de oração constante (Lucas 5:16). Esse exemplo fortalece nossa dependência de Deus e nos capacita a enfrentar crises com sabedoria e fé.
  • Submeta-se ao Espírito Santo. “Assim digo: vivam pelo Espírito, e de modo nenhum satisfarão os desejos da carne” (Gálatas 5:16). Permita que o Espírito Santo guie suas decisões e atitudes. 
  • Pratique a humildade e o serviço. “Seja humilde, considerando os outros superiores a si mesmo” (Filipenses 2:3). Envolva-se em ações que promovam o bem-estar dos outros, demonstrando o amor de Cristo de maneira prática.
  • Seja resiliente nas crises. “No mundo vocês terão aflições; contudo, tenham ânimo! Eu venci o mundo” (João 16:33). Encare os desafios com a perspectiva de que Deus molda nosso caráter por meio das dificuldades.
  • Viva com propósito. “Façam tudo para a glória de Deus” (1 Coríntios 10:31). Avalie suas prioridades e decisões, garantindo que todas as áreas da sua vida (trabalho, família, lazer) reflitam os valores do Reino de Deus.

Adotar a mente de Cristo é um processo contínuo que exige disciplina e entrega diária. Quando alinhamos nossos pensamentos e ações à vontade de Deus, tornamo-nos luz em meio às trevas e sal em um mundo carente de sabor espiritual. Essa transformação pessoal reflete a glória de Deus e se torna um testemunho poderoso de Sua obra redentora, impactando vidas e trazendo esperança em tempos de crise. Que o desejo de ser como Cristo nos motive a cada dia. Amém!


Lembre-se: Rendam graças ao SENHOR, pois Ele é bom; o seu amor dura para sempre.

Sola Scriptura - Solus Christus - Sola gratia - Sola fide e Soli Deo glória

SHALOM ADONAI