domingo, 15 de junho de 2025

O Evangelho de Jesus x Evangelho Soft: uma análise teológica da pregação contemporânea

 

Está escrito em Gálatas 1:6-7a (NVI):

6Admiro-me de que vocês estejam abandonando tão rapidamente aquele que os chamou pela graça de Cristo, para seguirem outro evangelho7 que, na realidade não é o evangelho”. 

 

A expansão do evangelicalismo no Brasil nas últimas décadas tem sido acompanhada por um fenômeno preocupante: a crescente pregação de mensagens que se afastam do conteúdo bíblico do Evangelho, priorizando uma abordagem superficial e antropocêntrica. Essa distorção tem sido chamada de “evangelho soft” – uma versão diluída da mensagem cristã, centrada no bem-estar emocional, na autoajuda e na prosperidade material, em detrimento do arrependimento, da cruz e da transformação do caráter.

O apóstolo Paulo já advertia a Igreja da Galácia sobre o perigo de “outro evangelho”, ressaltando que qualquer desvio, por mais sutil que pareça, constitui uma ameaça à integridade da fé cristã. A mensagem de Cristo não pode ser adaptada às preferências humanas sem que se perca sua essência salvadora. 

Infelizmente, muitos pastores evangélicos têm proclamado um evangelho adulterado, distante da teologia reformada e da doutrina dos apóstolos. Trata-se de uma questão grave, com consequências eternas, pois milhares de frequentadores de igrejas não têm convicção de salvação nem demonstram sinais de nova vida, tornando-se incapazes de entrar pela porta estreita que conduz ao Reino dos Céus. Como enfatiza MacArthur (2015), se uma pessoa vive em desobediência, pouco importa o que ela professa ou as boas obras que realiza, ela continua incrédula e corre sério risco de condenação eterna.

O verdadeiro Evangelho de Jesus Cristo, segundo o testemunho neotestamentário, é a boa nova da reconciliação entre Deus e os seres humanos por meio da vida, morte e ressurreição de Cristo. Essa mensagem inclui o reconhecimento do pecado (Romanos 3:23), a necessidade de arrependimento (Marcos 1:15), a fé na obra redentora de Jesus (Efésios 2:8-9) e a regeneração operada pelo Espírito Santo. Portanto, não basta apenas levantar a mão num culto e “aceitar a Jesus”, rejeitando, ao mesmo tempo, a santidade e a obediência. Até mesmo os demônios reconhecem a existência de Deus – como nos lembra Tiago 2:19, mas isso não os salva. Crer intelectualmente não é o mesmo que nascer de novo.

Muitos que pensam estar salvos, mas que não vivem uma vida de santidade, se surpreenderão no Dia do Juízo ao descobrirem que o céu não é o seu destino (MacArthur, 2015). John Stott (2007) afirma: “o evangelho nos humilha antes de nos exaltar, nos confronta com a realidade do pecado antes de nos confortar com a graça”. O cerne do Evangelho está na cruz – símbolo de entrega, morte do ego e obediência ao Pai. Essa mensagem é profundamente contracultura, pois confronta o orgulho humano e exige transformação de vida (2 Coríntios 5:17).

O chamado evangelho soft pregado em muitas igrejas é marcado pela omissão da doutrina do pecado, pela ênfase em promessas de prosperidade e pela exaltação do eu. Em vez de chamar o pecador ao arrependimento, oferece recompensas materiais como se o Evangelho fosse um meio para atingir objetivos terrenos. No entanto, para ser próspero, não é necessário frequentar uma igreja; basta dedicação, qualificação e esforço no trabalho. O Evangelho não é um atalho para o sucesso, mas o caminho da cruz. 

Paul Washer (2005) denuncia: “o evangelho moderno tem prometido tudo sem exigir nada. Tornou-se um produto a ser vendido, não uma verdade a ser proclamada”. Timothy Keller (2013) complementa ao afirmar que a graça barata gera cristãos não transformados, que continuam a viver segundo os padrões do mundo. Ou seja, quem realmente é salvo não pode continuar em um padrão habitual de pecado, conforme  explicita 1 João 3:6-10.

Além disso, vivemos hoje uma preocupante mercantilização da fé. Em muitos ambientes, a espiritualidade se resume a uma performance religiosa, e os púlpitos tornaram-se palcos de entretenimento, com “shows gospel” que emocionam, mas não transformam. Crentes imaturos confundem emoção com adoração, professam fé, mas se recusam a viver em obediência. Como bem observa Hernandes Dias Lopes (2016): “vivemos tempos em que a pregação é moldada para agradar o público e não para glorificar a Deus”.

Conforme último censo do IBGE, a proporção de evangélicos no Brasil cresceu de 21,6% em 2010 para 26,9% em 2022, com destaque para o crescimento nas periferias urbanas. Esse avanço, embora expressivo, nem sempre é acompanhado por profundidade teológica ou maturidade espiritual. Muitas novas comunidades carecem de ensino bíblico sólido, o que favorece uma fé emocional, utilitarista e vulnerável a heresias (Pereira, 2019).

Além disso, práticas como o triunfalismo, a teologia da prosperidade e o coaching gospel substituem o discipulado autêntico por promessas ilusórias de felicidade e sucesso. O resultado é uma membresia numerosa, mas com pouca maturidade espiritual e frágil conhecimento bíblico. Igrejas que adotam esse modelo formam “convertidos” sem conversão, seguidores sem discipulado e cultos sem Cristo. 

As consequências dessa adulteração do Evangelho são graves. Pastores e líderes que alimentam essa falsa mensagem são responsáveis pela ruína espiritual de milhares de pessoas que acreditam estar salvas, mas não entrarão no Reino dos Céus (Mateus 5:20). É urgente o retorno ao genuíno Evangelho de Jesus Cristo, conforme pregado por Paulo e os demais apóstolos. Isso exige coragem para confrontar desvios doutrinários com clareza, amor e fidelidade às Escrituras.

Como afirma D. A. Carson (2013): “o maior inimigo do evangelho não é o ateísmo declarado, mas a distorção sutil que mantém a forma de piedade, mas nega o seu poder” (cf. 2Timóteo 3:5). A teologia pastoral precisa recuperar o ensino bíblico sobre o pecado, a justificação pela fé, a regeneração e a santificação. Somente um retorno à exposição fiel da Palavra pode produzir uma igreja saudável, santa e missionária.

O espanto do apóstolo Paulo diante da facilidade com que os gálatas abandonaram o verdadeiro Evangelho se repete atualmente. O evangelho soft é um falso evangelho: não confronta, não transforma e, por isso, não salva. Há muitos membros de igrejas que vivem iludidos, pensam estar salvos, mas rejeitam a santidade, a obediência e a vontade do Pai (Mateus 7:21).

Portanto, a igreja brasileira precisa urgentemente de uma reforma espiritual. O Evangelho de Jesus Cristo deve voltar a ser anunciado com fidelidade, coragem e paixão. Que os púlpitos se tornem novamente altares de verdade e graça, e que os crentes deixem de ser apenas convencidos para se tornarem verdadeiramente convertidos.

Pastores, lembrem-se da advertência de Paulo: “Se alguém lhes anuncia um evangelho diferente daquele que já receberam, seja amaldiçoado!” (Gálatas 1:9). São malditos os que negam o senhorio de Cristo.


Referências:


CARSON, D. A. O Deus Presente: Encarando a Cultura Pós-moderna com o Evangelho. São Paulo: Vida Nova, 2013.

KELLER, Timothy. A Fé na Era do Ceticismo. São Paulo: Thomas Nelson Brasil, 2013.

LOPES, Hernandes Dias. Pregação e Vida Cristã. São Paulo: Hagnos, 2016.

MACARTHUR, John. O Evangelho segundo Jesus. São José dos Campos, SP: Fiel, 2015.

PEREIRA, Paulo. O Evangelho Segundo o BrasilTeologia e Mercado no Século XXI. Belo Horizonte: Ultimato, 2019.

STOTT, John. A Cruz de Cristo. São Paulo: ABU Editora, 2007.

WASHER, Paul. A Geração de Pregadores que Deus Não Enviou. Conferência "Shocking Youth Message", 2005.

Lembre-se: Rendam graças ao SENHOR, pois Ele é bom; o seu amor dura para sempre.

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Christós kyrios

domingo, 8 de junho de 2025

Amar a Deus e ser conhecido por Ele

 

Está escrito em 1 Coríntios 8:3 (NVI): “Mas, se alguém ama a Deus, este é conhecido por Deus”. 


O relacionamento entre Deus e o ser humano é um dos temas centrais da teologia cristã. A Escritura ensina que o amor a Deus é o mandamento primordial (Mt 22:37-38) e que ser conhecido por Ele é a marca distintiva dos que lhe pertencem (1Co 8:3).

Essa passagem aparece no contexto da discussão de Paulo sobre alimentos sacrificados a ídolos. Na igreja de Corinto, alguns crentes, baseando-se no conhecimento de que “não há nenhum deus, senão um só” (1Co 8:4), sentiam-se livres para comer carne sacrificada a ídolos sem peso na consciência. No entanto, outros, com uma consciência mais frágil, viam isso como um problema espiritual. Paulo alerta que o conhecimento, por si só, pode levar ao orgulho, mas o amor edifica (1Co 8:1). Dentro desse argumento, ele afirma que “se alguém ama a Deus, este é conhecido por Deus” (1Co 8:3), enfatizando que a relação com Deus não se baseia apenas no conhecimento intelectual, mas, sobretudo, no amor.

É importante ressaltar que o verbo “amar” (grego agapáō) implica um amor profundo e comprometido, que transcende emoções passageiras e se manifesta em obediência e relacionamento com Deus. Ser “conhecido por Deus” não significa apenas que Ele possui informações sobre alguém, mas que essa pessoa desfruta de uma relação especial e íntima com Ele. Essa ideia ecoa em Gálatas 4:9, onde Paulo declara: “Agora que conheceis a Deus, ou antes, sendo conhecidos por Deus...”. 

A construção do versículo sugere que o amor a Deus não é meramente um requisito, mas um indicativo de pertencimento a Ele. Paulo ensina que o amor é o princípio norteador da liberdade cristã. O conhecimento, embora importante, precisa ser equilibrado com o amor ao próximo e a consideração pelos mais fracos na fé. Assim, o versículo 3 surge como uma afirmação central: o amor a Deus é o critério definitivo para o relacionamento autêntico com Ele. Isso se alinha ao ensino de Jesus em João 14:21, onde Ele afirma que aqueles que o amam guardam seus mandamentos e são amados pelo Pai. 

Diante o exposto, as principais lições que podemos extrair de 1Co 8:3 são:

1. O amor como fundamentação da fé. A vida cristã não se resume ao acúmulo de conhecimento teológico ou à observância de regras. O amor a Deus é o coração da fé e o critério pelo qual somos reconhecidos por Ele. Isso nos lembra que a espiritualidade autêntica é relacional, não meramente intelectual ou ritualística.

2. A prioridade do relacionamento com Deus. Ser conhecido por Deus é mais importante do que qualquer outra coisa. Nossa identidade e valor estão enraizados no amor divino, não em nossas realizações, status ou conhecimento.

3. O equilíbrio entre liberdade e responsabilidade. O contexto de 1 Coríntios 8 nos ensina que a liberdade cristã deve ser exercida com amor e consideração pelos outros. O amor a Deus nos leva a amar o próximo, evitando ações que possam ferir a consciência alheia.

Talvez você se pergunte: quais implicações práticas 1Co 8:3 traz para a minha vida? A relação entre amar a Deus e ser conhecido por Ele traz diversas aplicações para a vida cristã:

  • Obediência e Santidade. Amar a Deus conduz à obediência aos seus mandamentos (Jo 14:15). Um amor autêntico se expressa em uma vida santa e consagrada.
  • Vida de oração e comunhão. A intimidade com Deus se fortalece por meio da oração e do estudo da Palavra, aproximando-nos Dele e de Sua vontade.
  • Segurança espiritual. Ser conhecido por Deus traz segurança espiritual. Cristo afirma que conhece suas ovelhas e delas cuida (João 10:27-28), garantindo a eternidade aos que o seguem. 
  • Amor ao próximo. O verdadeiro amor a Deus se reflete no amor ao próximo (1 João 4:20). Nossa relação com Ele transforma nosso relacionamento com os outros.
  • Viver o amor na comunidade. A fé cristã não é individualista. O amor a Deus deve refletir-se no amor ao próximo, especialmente na igreja. Isso significa que, por vezes, será necessário renunciar a direitos pessoais para edificar e fortalecer os irmãos na fé.
  • Evitar o orgulho espiritual. O conhecimento teológico e a maturidade espiritual são bênçãos, mas não devem ser usados para menosprezar os outros. O cristão deve lembrar que o amor é a maior evidência de uma vida transformada por Cristo.
  • Exercer a liberdade com sabedoria. Em questões disputáveis, como as abordadas em 1 Coríntios 8, o cristão deve agir com discernimento e sensibilidade, sempre considerando o impacto de suas ações nos outros.

Amar a Deus e ser conhecido por Ele são realidades inseparáveis na vida cristã. O verdadeiro amor a Deus leva a um relacionamento de intimidade e compromisso, tornando o crente participante da graça e fidelidade divinas. Assim, 1 Coríntios 8:3 nos convida a refletir sobre a essência da vida cristã: o amor a Deus como fundamento de nossa identidade e relacionamento com Ele. Esse amor não é abstrato, mas se concretiza em ações que glorificam a Deus e edificam o próximo. 

Em um mundo marcado pelo individualismo e pela busca de status, este versículo nos lembra que o verdadeiro sucesso espiritual está em ser conhecido por Deus, o que só é possível por meio de um amor sincero e obediente a Ele.

Além disso, essa passagem nos desafia a refletir sobre a maneira como vivemos nossa fé. Amar a Deus deve ser uma realidade prática que influencia nossas ações, decisões e relacionamentos. Esse amor nos impulsiona a agir com compaixão e responsabilidade dentro da comunidade cristã, promovendo edificação mútua e testemunhando ao mundo a essência do evangelho de Cristo.

Que possamos buscar amar a Deus de todo coração e viver na certeza de que Ele nos conhece e nos sustenta para a vida eterna.

 

Lembre-se: Rendam graças ao SENHOR, pois Ele é bom; o seu amor dura para sempre.

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Christós kyrios

domingo, 1 de junho de 2025

Da escravidão a herança: a nova identidade do Cristão

 


Está escrito em Gálatas 4:7 (NVI):

Você já não é escravo, mas filho; e, por ser filho, Deus também o fez herdeiro

 

A carta aos Gálatas é uma defesa vigorosa do evangelho da graça contra qualquer forma de legalismo. A afirmação em Gálatas 4:7 contém verdades fundamentais sobre a identidade do cristão, sua relação com Deus e sua esperança eterna. Longe de ser uma mera transação legal, a passagem da escravidão para a filiação é uma transformação ontológica – um renascimento espiritual que nos insere na própria família de Deus, concedendo-nos uma herança inestimável. Convido você a refletirmos juntos sobre o que significa não ser mais escravo, mas filho e herdeiro, à luz das Escrituras, da teologia reformada e da vida prática.

Para compreender a profundidade de Gálatas 4:7, é essencial contextualizá-lo. Paulo escreve aos gálatas, que estavam sendo tentados a retornar à observância da Lei de Moisés como meio de justificação. Ele argumenta que, antes da vinda de Cristo, a humanidade estava sob a tutela da Lei, que funcionava como um guardião (aio), mantendo-nos em um estado de servidão espiritual, incapazes de alcançar a justiça por nossos próprios méritos. Essa “escravidão” não se referia apenas à submissão ao pecado, mas também à impotência em cumprir os requisitos divinos sem a intervenção da graça.

Contudo, com a chegada de Cristo, uma nova era foi inaugurada. Como Paulo enfatiza em Gálata 4:4-5, “Mas, quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido debaixo da Lei, a fim de redimir os que estavam sob a Lei, para que recebêssemos a adoção de filhos”. A obra redentora de Cristo na cruz e sua ressurreição tornaram possível a libertação do jugo da Lei e do pecado. O principal objetivo dessa redenção é a nossa adoção como filhos. Essa adoção não é uma formalidade religiosa, mas uma realidade vivida, marcada pela habitação do Espírito Santo em nós, que clama “Aba, Pai” (Gálatas 4:6; Romanos 8:15).

A filiação espiritual é um ato de graça soberana. João 1:12 declara: “Mas a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome”. Não é por mérito humano, mas por adoção divina (Efésios 1:5). John Stott comenta: “A adoção é o ápice da redenção. Deus não apenas nos redime do pecado, mas nos recebe em sua família”.

Talvez você esteja pensando: “Todos os seres humanos não são filhos de Deus?”. Mas será mesmo? O que significa, de fato, ser filho de Deus? Ser filho implica em ter intimidade com o Pai. Apenas os nascidos de novo (João 3:3) que receberam no coração o Espírito do Filho – Jesus – (Gálatas 4:6), podem clamar: “Aba, Pai”, expressão aramaica que revela ternura e proximidade. A oração que Jesus nos ensinou começa com “Pai nosso...”, e isso nos desperta para a consciência de uma relação afetiva com Deus.

Além da intimidade, o filho é também herdeiro. Isso significa que o cristão, como coerdeiro com Cristo (Romanos 8:17), participa das promessas de Deus: a salvação, a presença do Espírito, a nova vida, e, por fim, a glória eterna. O teólogo J.I. Packer escreveu em Conhecimento de Deus: “A adoção é o maior privilégio do evangelho; maior até do que a justificação. Porque ela nos leva de volta à família de Deus”. 

Talvez você se pergunte: Mas será que sou, de fato, filho(a) de Deus? Que evidências práticas confirmam essa filiação? De acordo com as Escrituras, alguns sinais indicam claramente que que alguém é, de fato, filho de Deus:

1. Transformação de vida

A mudança interior é o primeiro sinal (2 Coríntios 5:17). Quem é filho de Deus abandona antigos hábitos de pecado e passa a viver segundo a santidade, produzindo o fruto do Espírito (Gálatas 5:22-23).

2. Obediência aos mandamentos de Deus

Jesus disse: “Se alguém me ama, obedecerá aos meus ensinamentos” (João 14:15). Filhos de Deus demonstram seu amor e pertencimento por meio da obediência aos mandamentos divinos.

3. Testemunho do Espírito Santo

O Espírito Santo habita no filho de Deus e confirma interiormente essa filiação (Romanos 8:16). Essa presença gera paz, convicção e segurança de que pertencemos ao Senhor. 

4. Relacionamento íntimo com Deus

Filhos de Deus cultivam comunhão com o Pai, oram com liberdade e falam com Deus como “Aba, Pai” (Gálatas 4:6-7), demonstrando intimidade e confiança.

5. Amor ao próximo

A verdadeira filiação se manifesta em amor genuíno pelas pessoas (1 João 3:10-14). Filhos de Deus refletem o caráter de Cristo em atitudes de bondade, perdão e serviço.

6. Perseverança na fé

Mesmo em meio as tribulações, os filhos de Deus permanecem firmes (Romanos 8:35-39), não voltando ao velho modo de vida, mas seguindo com fidelidade o caminho do Senhor.  

Se essas evidências não estiverem presentes em sua vida, é importante refletir seriamente: você pode ainda estar vivendo como escravo – preso à culpa, ao medo ou tentando agradar a Deus por meio de obras. A verdade de Gálatas 4:7 nos convida a viver com segurança na graça, liberdade do Espírito e confiança no amor do Pai. Na prática, isso significa:

  • Buscar a Deus como Pai, não como juiz distante;
  • Rejeitar a mentalidade de desempenho religioso, confiando na obra completa de Cristo;
  • Assumir a identidade de filho amado, vivendo com liberdade para servir, perdoar e alegrar-se;
  • Esperar com fé a herança eterna, não como um mérito, mas como direito recebido pela adoção.

Amado(a), essa verdade também transforma nossos relacionamentos: filhos de Deus devem refletir o caráter do Pai, promovendo justiça, amor e reconciliação em todos os ambientes – família, trabalho, igreja e sociedade.

A declaração de Paulo em Gálatas 4:7 não é apenas uma afirmação teológica, mas uma proclamação libertadora que redefine nossa identidade e nosso destino. De escravos a filhos, e, por sermos filhos, herdeiros da plenitude de Deus. Essa verdade deve permear cada aspecto da nossa vida, impulsionando-nos a viver com gratidão, segurança, propósito e uma esperança inabalável na herança que o aguarda em Cristo Jesus. 

Que o Espírito Santo nos lembre constantemente: não somos escravos, somos filhos e herdeiros!

Referências:

STOTT, John. A cruz de Cristo. São Paulo: Ultimato, 2014.

PACKER, J. I. Conhecer a Deus. São Paulo: Cultura Cristã, 2010.

 

Lembre-se: Rendam graças ao SENHOR, pois Ele é bom; o seu amor dura para sempre.

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Christós kyrios

domingo, 25 de maio de 2025

Buscando a aprovação de Deus


 

Está escrito em Gálatas 1:10 (NVI)

Acaso busco eu agora a aprovação dos homens ou a de Deus? Ou procuro agradar a homens? Se eu ainda procurasse agradar a homens, não seria servo de Cristo”. 

 

O apóstolo Paulo, em Gálatas 1:10, faz uma afirmação incisiva sobre sua motivação e fidelidade no ministério: ele não busca agradar aos homens, mas a Deus. Este versículo é fundamental para compreender a essência de uma vida cristã comprometida com a vontade de Deus. Convido você a explorar essa passagem bíblica e extrair lições práticas para a caminhada de fé.

A carta aos Gálatas foi escrita para corrigir desvios doutrinários em igrejas da região da Galácia. Falsos mestres, conhecidos como judaizantes, tentavam persuadir os cristãos gentios a observar a Lei de Moisés, incluindo a circuncisão, como requisito para a salvação. Paulo reage com veemência, afirmando que o evangelho que pregava foi diretamente revelado por Cristo (Gálatas 1:12).

No versículo 10, Paulo defende sua autoridade apostólica e esclarece que sua missão não é agradar a homens, mas ser fiel ao chamado de Deus. Este contexto destaca a tensão entre agradar às pessoas e servir a Cristo. 

Em Gálatas 1:10, Paulo apresenta dois contrastes cruciais:

  • Aprovação dos homens versus aprovação de Deus: Paulo rejeita qualquer ideia de que sua pregação seja moldada pelo desejo de agradar pessoas. Ele entende que buscar a aprovação humana compromete a pureza do evangelho.
  • Agradar a homens versus servir a Cristo: O termo “servo de Cristo” implica submissão total e lealdade exclusiva. Paulo afirma que é impossível agradar aos homens e, ao mesmo tempo, permanecer fiel a Cristo. 

Essa impossibilidade decorre de razões teológicas e práticas evidenciadas na vida e no ensino de Paulo, a saber:

1. A natureza exclusiva do serviço a Cristo. Ser “servo de Cristo” exige dedicação total e exclusiva a Ele. Jesus declarou: “Ninguém pode servir a dois senhores” (Mateus 6:24). Buscar agradar a homens divide a lealdade e compromete a obediência plena a Cristo. Muitas vezes, a vontade de Deus desafia normas e expectativas humanas, frequentemente enraizadas em interesses egoístas ou contrários aos valores do Reino de Deus.

2. O confronto do evangelho com a mentalidade do mundo. O evangelho de Cristo desafia o orgulho humano ao exigir arrependimento e submissão a Deus (1Coríntios 1:18-25). Paulo sabia que agradar a homens poderia levar à diluição dessa mensagem central. Ser fiel a Cristo exige tomar a cruz e segui-lo (Lucas 9:23), o que muitas vezes resulta em oposição ou rejeição pelo mundo. Paulo experimentou isso pessoalmente, enfrentando perseguições e críticas por não comprometer a mensagem do evangelho.

3. A inconstância da aprovação humana. A aprovação humana é volátil e condicionada por interesses e circunstâncias. Buscar agradar a homens inevitavelmente leva a comprometer princípios. Em contrapartida, a aprovação divina é suficiente e eterna. Paulo ensina: “Se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Romanos 8:31).

4. O exemplo da vida de Paulo. Ele escolheu desagradar homens ao pregar a verdade sem adulteração. Ele enfrentou prisão e rejeição porque não cedeu às pressões de suavizar sua mensagem. Em vez de buscar reconhecimento humano, ele declarou: “Quanto a mim, que eu jamais me glorie, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo” (Gálatas 6:14).

A mensagem de Gálatas 1:10 é desafiadora e relevante. A tentação de buscar aprovação humana, especialmente em um mundo moldado por redes sociais, está presente em diversos contextos: nas relações pessoais, no ambiente de trabalho e até no contexto ministerial. 

Diante o exposto, que lições podemos extrair para aplicar na prática de vida cristã:

  • Seja fiel ao evangelho. Permaneça firme na verdade do evangelho, mesmo quando ela contrariar normas culturais ou sociais. Não se trata de agradar às expectativas humanas, mas de honrar a Deus.
  • Dê testemunho de integridade. Suas decisões devem refletir a ética cristã, mesmo que isso implique sacrifício ou rejeição.
  • Seja livre em Cristo. Buscar a aprovação de Deus liberta o cristão da pressão de agradar aos outros, permitindo viver com alegria e propósito, sabendo que nossa identidade está enraizada em Cristo.

Portanto, Gálatas 1:10 nos desafia a priorizar a aprovação de Deus acima de tudo. Servir a Cristo exige lealdade exclusiva e coragem para resistir às pressões humanas. O verdadeiro servo de Cristo vive para glorificar a Deus, independentemente das circunstâncias. Que esse texto nos inspire a viver com integridade, comprometidos com a verdade do evangelho e confiantes de que a aprovação divina é a maior recompensa.

 

Lembre-se: Rendam graças ao SENHOR, pois Ele é bom; o seu amor dura para sempre.

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SHALOM ADONAI

domingo, 18 de maio de 2025

O contentamento cristão: uma reflexão em Filipenses 4:12-13

Está escrito: “12Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade. 10Tudo posso naquele que me fortalece” (Filipenses 4:12-13, NVI).

 

A epístola aos Filipenses é amplamente reconhecida como uma das cartas mais pessoais de Paulo. Escrita enquanto estava preso, provavelmente em Roma, a carta reflete sua gratidão e encorajamento aos crentes de Filipos, uma igreja que ele fundou em sua segunda viagem missionária (Atos 18:12-40). No capítulo 4, Paulo encerra a carta expressando gratidão pelo sustento enviado pelos filipenses e compartilhando sua perspectiva única sobre a suficiência em Cristo, independentemente das circunstâncias.

Filipenses 4:12-13, em particular, revela o testemunho pessoal de Paulo sobre como ele aprendeu a viver contente em qualquer situação, seja na abundância ou na escassez. Essa atitude não dependia de recursos externos, mas de sua conexão com Cristo. Convido você a explorar esse texto e, juntos, aprendermos como viver contente diante de qualquer circunstância da vida.

Primeiramente, o texto nos revela dois aspectos centrais:

1. A experiência de Paulo (v.12): Paulo declara: “Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura”. Ele havia experimentado os extremos da vida, tanto a privação quanto a abundância. Ele também afirma: “Aprendi o segrego de viver contente”, o verbo grego traduzido como “aprendi” (ememathov) traz a ideia de aprendizado por meio da experiência prática. O “segredo” mencionado refere-se a uma atitude de autossuficiência em Cristo, não como negação das dificuldades, mas como uma total dependência d’Ele. 

2. A fonte de sua força (v.13): A expressão “Tudo posso naquele que me fortalece” é frequentemente mal interpretado como uma licença para superar qualquer obstáculo humano ou alcançar metas pessoais. No entanto, a declaração está diretamente ligada à capacidade de Paulo de enfrentar as circunstâncias adversas ou favoráveis com contentamento, pois sua força vinha de Cristo. A palavra “fortalece” no grego (endunamoo) significa “encher de poder”. Assim, Paulo afirma que Cristo é a fonte de sua capacidade de suportar qualquer situação.

Você pode estar se perguntando: Qual é o segredo de viver contente? Como nós, que vivemos em uma sociedade consumista, podemos aprender esse segredo? Para Paulo, o contentamento é resultado de uma dependência total de Cristo. Ele descobriu que sua paz e satisfação não dependiam das circunstâncias externas, mas de sua união com Cristo, que o fortalecia tanto na fartura quanto na escassez. 

Essa atitude de suficiência em Cristo foi aprendida ao longo de suas experiências, marcadas por desafios como prisões, perseguições, fome e, também, nos momentos de bênçãos e provisão. O contentamento descrito por Paulo não é uma indiferença às circunstâncias ou uma negação do sofrimento, mas uma confiança firme de que, em qualquer situação, Cristo é suficiente. Essa confiança é fundamentada na soberania de Deus, que sustenta e dirige todas as coisas para o bem daqueles que O amam (Romanos 8:28).

Então, como cristãos que vivem em uma sociedade consumista, podemos aprender algumas lições preciosas com Paulo, pois se compreendermos esse segredo nossa vida será totalmente transformada. Assim vejamos:

  • Desenvolva um relacionamento íntimo com Cristo. O contentamento de Paulo não veio de uma fórmula ou prática externa, mas de uma comunhão profunda com Cristo. Isso requer tempo em oração, leitura da Bíblia e meditação, buscando uma conexão viva com o Senhor.
  • Reconheça a soberania e a provisão de Deus. O contentamento cresce quando confiamos que Deus está no controle de todas as circunstâncias. Podemos descansar na certeza de que Ele suprirá nossas necessidades segundo Sua vontade (Filipenses 4:19).
  • Adote uma perspectiva eterna. Muitas insatisfações decorrem de um foco excessivo nas coisas temporais. Quando direcionamos nossa atenção para as promessas eternas de Deus, valorizamos o que realmente importa e mudamos nossa maneira de encarar ganhos e perdas.
  • Pratique a gratidão. Desenvolver um coração grato ajuda a combater a insatisfação e nos permite reconhecer as bênçãos de Deus, por menores que pareçam. 
  • Enfrente as provações com fé. Assim como Paulo, podemos aprender o contentamento nas adversidades. Essas experiências moldam nosso caráter e fortalecem nossa confiança em Deus. 
  • Combata a comparação. Em uma cultura saturada pelas redes sociais, onde a vida alheia parece sempre melhor, a comparação é uma inimiga do contentamento. Devemos focar em nossa caminhada com Deus, sem nos comparar aos outros.

Os reformados enfatizam que o contentamento de Paulo está fundamentado na união com Cristo. João Calvino, por exemplo, destacou que, estando em Cristo, o crente possui tudo o que é necessário para sua plena satisfação, independentemente das condições externas. 

Teólogos contemporâneos, como John Piper, reforçam que o contentamento é um aprendizado, resultado de confiar na soberania de Deus. Piper afirma: “a alegria e o contentamento vêm de ver a mão de Deus em tudo e saber que Ele está trabalhando para o nosso bem, mesmo nas provações”. 

Em suma, Filipenses 4:12-13 nos desafia a reavaliar nossas prioridades e a encontrar em Cristo a força para viver uma vida de contentamento. O segredo que Paulo aprendeu e compartilha conosco é simples, mas profundo: a suficiência e a força que vêm de um relacionamento íntimo com Cristo nos capacitam a enfrentar qualquer circunstância. Que possamos, como Paulo, declarar com confiança: “Tudo posso naquele que me fortalece”. Viva no contentamento do SENHOR, porque Ele tem cuidado de nós. 

Lembre-se: Rendam graças ao SENHOR, pois Ele é bom; o seu amor dura para sempre.

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SHALOM ADONAI

domingo, 11 de maio de 2025

Viver pela fé em um mundo incerto

 

Está escrito em Habacuque 2:4 (NVI):

Veja, o ímpio está envaidecido, e os seus desejos não são bons! Mas o justo viverá por sua fé

 

Vivemos em um mundo de incertezas. Guerras, crises econômicas, doenças, insegurança e mudanças culturais aceleradas lançam o ser humano em um constante estado de inquietação. A fé cristã, contudo, não é alicerçada nas circunstâncias passageiras do mundo, mas na fidelidade imutável de Deus. O profeta Habacuque também viveu em um tempo de grande confusão e injustiça. A resposta de Deus a ele não foi imediata, mas foi clara: “O justo viverá por sua fé”. Essa frase ecoa como um convite divino à confiança inabalável em Deus - não nas circunstâncias. 

Habacuque era um profeta angustiado com a maldade de Judá e perplexo com a resposta divina de levantar os caldeus (um povo ainda mais ímpio) como instrumento de juízo. No capítulo 2, Deus responde ao profeta com uma visão que deveria ser registrada e aguardada com paciência, pois certamente se cumpriria (v.3). No versículo 4, Deus contrasta o arrogante (ímpio) com o justo. Enquanto o ímpio confia em si mesmo, o justo vive pela fé – ou seja, depende inteiramente da fidelidade de Deus, mesmo quando não entende o que Ele está fazendo.

A expressão “o justo viverá por sua fé” enfatiza que a vida autêntica diante de Deus não se baseia no poder humano, mas em uma dependência contínua dEle. Como observa o teólogo John Piper: “A fé é a resposta humilde à soberania de Deus, reconhecendo que Ele é quem governa a história”. 

O apóstolo Paulo retoma Habacuque 2:4 em Romanos 1:17 para fundamentar a doutrina da justificação pela fé: “o justo viverá por sua fé”. Aqui, a fé não é apenas confiança passiva, mas o meio pelo qual o pecador é justificado e mantém sua comunhão com Deus. Em Gálatas 3:11, Paulo reforça que a lei não justifica ninguém, mas sim “o justo viverá por sua fé”. 

O autor de Hebreus (10:38) também cita Habacuque, exortando os crentes a perseverarem em meio às tribulações, pois “o meu justo viverá pela fé”. Essas citações mostram que a fé é o fundamento da vida cristã – desde a salvação até a perseverança.

Como destaca o teólogo Walter C. Kaiser Jr., “Habacuque aprendeu que a fé é a resposta correta quando a ação de Deus não parece fazer sentido para nós”. Viver pela fé é continuar confiando, mesmo quando os céus parecem silenciosos. Por sua vez, Timothy Keller comenta que a fé verdadeira não nega as dificuldades, mas confia na bondade de Deus em meio ao sofrimento. Alinhado com essa perspectiva, Karl Barth enfatizou que viver pela fé significa reconhecer que Deus está no controle, mesmo quando o mundo parece caótico.

A frase “o justo viverá por sua fé” tornou-se central na teologia cristã, especialmente por ter sido citada no Novo Testamento. Mas que implicações essa verdade tem para o cristão contemporâneo?

  • Confiança em Deus em tempos de incertezas. Mesmo diante das crises mundiais sejam econômicas, sociais, bélicas ou pessoais – o justo não se desespera, pois sabe que Deus é fiel (Salmo 23:1; Filipenses 4:6-7).
  • Fidelidade em meio às dificuldades. Fé não é passividade, mas ação alinhada aos valores do Reino. Assim como Abraão, que saiu de sua terra “sem saber para onde ia” (Hebreus 11:8), o justo vive com coragem, mesmo sem garantias visíveis.
  • Resistência ao individualismo e ao consumismo. O mundo exalta o sucesso pessoal e a autossuficiência, mas a fé bíblica é comunitária e generosa (Atos 2:44-45). O justo vive para abençoar outros, não para acumular bens.
  • Esperança na promessa final. A fé olha além das circunstâncias temporais e se firma na promessa de redenção total (Romanos 8:24-25). Como Habacuque, o cristão pode declarar: “Ainda que a figueira não floresça... Eu me alegrarei no Senhor!” (HC 3:17-18).

Nos dias de hoje, os cristãos têm sua fé constantemente desafiada, mas Habacuque oferece orientações práticas:

1Diante das crises. A fé não ignora os problemas, mas encontra paz em meio a eles. Somos chamados a confiar no Senhor mesmo quando os fundamentos da sociedade parecem ruir (cf. Salmo 11:3).

2. Na vida pessoa. Em tempos de desemprego, enfermidades, luto ou solidão, viver pela fé é lembrar que “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia” (Salmo 46:1) 

3. Na conduta ética e moral. Em um mundo que relativiza a verdade, viver pela fé significa andar em integridade, mesmo que isso custe rejeição. A fé genuína produz frutos de justiça.

4. Na missão da igreja. Em contextos em que o evangelho é rejeitado, a igreja é chamada a perseverar, lembrando-se de que “sem fé é impossível agradar a Deus” (Hebreus 11:6). A fé sustenta a pregação, a oração e o discipulado.

Diante o exposto, podemos concluir que viver pela fé em um mundo incerto é um chamado à confiança profunda no caráter de Deus. É crer que, apesar das trevas ao redor, o Senhor permanece soberano, justo e fiel. A fé do justo não é passiva, mas ativa, perseverante e transformadora. Assim como Habacuque aprendeu a descansar em Deus, mesmo sem compreender plenamente Seus caminhos, somos desafiados a fazer o mesmo. Seja diante de crises pessoais ou coletivas, somos chamados a viver não por vista, mas firmados nas promessas de Deus. 

A fé não anula a incerteza, mas redefine seu significado: não caminhamos às cegas, mas com os olhos fixos em Cristo, “autor e consumador da fé” (Hebreus 12:2).

Referências:

KAISER, Jr., W.C. Micah, Nahum, Habakkuk, Zephaniah, Haggai, Zechariah, Malachi (The Preacher’s Commentary, Volume 23). Thomas Nelson, 2002.

KELLER, T. A fé na era do ceticismo. São Paulo: Vida Nova, 2015.

BARTH, K. Carta aos Romanos. São Paulo: Templus, 2017.

 

Lembre-se: Rendam graças ao SENHOR, pois Ele é bom; o seu amor dura para sempre.

Sola Scriptura - Solus Christus - Sola gratia - Sola fide e Soli Deo glória

Christós kyrios

 

domingo, 4 de maio de 2025

Virtudes cristãs: uma reflexão em Colossenses 3:12



Está escrito em Colossenses 3:12 (NVI): 

Portanto, como escolhidos de Deus, santos e amados, vistam-se de profunda compaixão, bondade, humildade, mansidão e paciência”.

 

O versículo em pauta nos convoca a vestir-nos de virtudes essenciais para a vida cristã. Este chamado serve como um lembrete da nossa identidade em Cristo e das qualidades que devemos manifestar como seguidores de Jesus. Esta breve reflexão busca explorar cada uma dessas virtudes à luz das Escrituras e do pensamento teológico, além de discutir como o cristão pode incorporá-las em sua vida diária.


Observemos que os escolhidos de Deus são santos e amados. Na Bíblia, a palavra “santos”, do grego “hagios”, significa “separados” ou “consagrados”. Os cristãos são chamados de santos porque foram separados por Deus para viver uma vida dedicada a Ele. Esta separação é tanto uma posição quanto um processo. Explico: a posição de santidade é um status conferido por Deus aos crentes em Cristo. Paulo frequentemente se refere aos cristãos como santos sem suas cartas, como exemplificado em 1 Coríntios 1:2. 


Os crentes são santificados em Cristo no momento da conversão, quando são justificados pela fé. Esta é uma obra da graça de Deus, que nos separa do pecado e nos coloca em uma posição de santidade diante Dele.


Além disso, a santidade é um processo contínuo, conhecido como santificação. Este é o trabalho do Espírito Santo em nossas vidas, nos transformando à imagem de Cristo. Em 1 Tessalonicenses 4:3, Paulo declara: “A vontade de Deus é que sejam santificados”. 


Os escolhidos de Deus também são profundamente amados. Este amor é a base da nossa salvação e do relacionamento contínuo com Deus. O amor de Deus pelos Seus escolhidos é eterno e incondicional. Este amor eterno é a base da eleição divina, conforme Jeremias 31:3 e Efésios 1:4-5. 


Além disso, o amor de Deus se manifesta de forma suprema na redenção. João 3:16 declara: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. Este amor redentor é a motivação para a encarnação, morte e ressurreição de Jesus Cristo.


Portanto, essa identidade como santos e amados deve moldar a maneira como vivemos. Devemos buscar refletir a santidade e o amor de Deus em nossas vidas, vivendo de acordo com a nossa posição em Cristo e permitindo que o Espírito Santo nos transforme cada dia mais à Sua imagem. 


A segunda parte do versículo enfatiza a necessidade de nos revestirmos de profunda compaixão, bondade, humildade, mansidão e paciência. Vejamos cada uma dessas virtudes: 


A compaixão é um sentimento de profunda empatia e preocupação pelas necessidades dos outros. Em Mateus 9:36, lemos que Jesus “ao ver as multidões, teve compaixão delas, porque estavam aflitas e desamparadas, como ovelhas sem pastor”. A compaixão de Jesus é um exemplo supremo para nós, mostrando que devemos nos preocupar genuinamente com o bem-estar dos outros.


O teólogo Dietrich Bonhoeffer destaca que a compaixão cristã não é apenas um sentimento, mas uma ação: “O Cristo sofredor nos chama a segui-lo no caminho da compaixão e da solidariedade com os sofredores”. Portanto, vestir-se de compaixão é ser movido a agir em benefício daqueles que estão em necessidade.


A bondade refere-se a atitudes e ações que refletem benevolência e generosidade. Em Gálatas 5:22, a bondade é listada como um fruto do Espírito, indicando que ela é uma evidência do trabalho do Espírito Santo em nossas vidas. A bondade cristã se manifesta em ações práticas de amor ao próximo, como demonstrado na parábola do Bom Samaritano (Lucas 10:25-37), onde o samaritano cuida de um homem ferido sem esperar nada em troca.


A humildade é a virtude de reconhecer a nossa dependência de Deus e a nossa condição de servos. Filipenses 2:3-4 nos exorta: “Nada façam por ambição egoísta ou por vaidade, mas humildemente considerem os outros superiores a vocês mesmos, cuidando, cada um, não somente dos próprios interesses, mas também dos interesses dos outros”.


C.S. Lewis descreveu a humildade como “não pensar menos de si mesmo, mas pensar menos em si mesmo”. A verdadeira humildade nos leva a servir aos outros com um coração sincero, colocando suas necessidades acima das nossas.


A mansidão é frequentemente mal interpretada como fraqueza, mas na verdade é uma força controlada. Jesus se descreve como “manso e humilde de coração” em Mateus 11:29. A mansidão é a capacidade de mostrar gentileza e autocontrole, mesmo em situações de conflito. Vestir-se de mansidão é responder com gentileza e paciência, mesmo quando somos provocados ou maltratados.


A paciência é a capacidade de suportar dificuldades e esperar com perseverança. Tiago 1:4 nos encoraja: “No entanto, a perseverança deve ter ação completa, a fim de que vocês sejam perfeitos e íntegros, sem que lhes falte coisa alguma”. A paciência cristã é demonstrada na espera confiante pelo tempo de Deus e na perseverança diante das adversidades.


Para que o cristão se vista dessas virtudes, é essencial uma vida de comunhão com Deus através da oração, leitura da Bíblia e participação na comunidade de fé. Vejamos algumas sugestões práticas:


1. Profunda compaixão: envolva-se em atividades de serviço comunitário, oferecendo seu tempo e recursos para ajudar os necessitados.

2. Bondade: pratique atos de gentileza diariamente, seja ajudando um vizinho, encorajando um colega de trabalho ou simplesmente mostrando gratidão.

3. Humildade: desenvolva a humildade através do serviço, procurando oportunidades para servir aos outros de maneira desinteressada.

4. Mansidão: cultive a mansidão aprendendo a controlar suas reações em situações de conflito, respondendo com gentileza e calma.

5. Paciência: pratique a paciência ao lidar com situações desafiadoras, confiando no tempo de Deus e mantendo uma atitude positiva.


Enfim, Colossenses 3:12 nos chama a viver de acordo com a nossa identidade em Cristo, manifestando virtudes que refletem o caráter de Deus. Ao nos vestirmos de profunda compaixão, bondade, humildade, mansidão e paciência, testemunhamos ao mundo o amor e a graça de Deus. Que possamos buscar diariamente a transformação pelo Espírito Santo, permitindo que essas virtudes se tornem cada vez mais evidentes em nossas vidas.


Referências:

BONHOEFFER, D. Vida em comunhão. São Leopoldo: Sinodal, 2009.

LEWIS, C.S. Cristianismo puro e simples. São Paulo: Martins Fontes, 2009. 

 

Lembre-se: Rendam graças ao SENHOR, pois Ele é bom; o seu amor dura para sempre.

Sola Scriptura - Solus Christus - Sola gratia - Sola fide e Soli Deo glória

Christós Kyrios