domingo, 3 de novembro de 2024

A graça salvadora

 

Está escrito:

“Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus” (Efésios 2:8).

 

O versículo 8 do capítulo 2 da epístola aos Efésios contém uma das mais belas declarações sobre a teologia da salvação na Bíblia. Neste versículo, o apóstolo Paulo nos lembra que a salvação é um presente gracioso de Deus, oferecido através da fé. Esta breve reflexão buscará explorar mais essa profunda verdade teológica.

 

Antes de prosseguirmos, o caro leitor deve estar pensando, salvação de quê? Por que preciso de salvação? Afinal, o que quer dizer por salvação? A salvação, de acordo com a perspectiva cristã com base bíblica, refere-se à libertação da humanidade do pecado e das consequências espirituais e eternas do pecado, restaurando um relacionamento reconciliado com Deus. A Bíblia ensina que a salvação é um ato gracioso de Deus, alcançado através do sacrifício de Jesus Cristo e recebido pela fé.

 

A Bíblia apresenta várias dimensões e aspectos da salvação, vejamos alguns deles:

·      Redenção do pecado. A humanidade está inerentemente afastada de Deus por causa do pecado. A salvação envolve a redenção do pecado, através do sacrifício de Jesus Cristo na cruz. Por isso, Jesus é chamado de “Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (João 1:29). Através de Sua morte e ressurreição, Ele oferece a possibilidade de perdão e restauração.

·      Justificação pela fé. A salvação não pode ser alcançada por meio de nossas próprias obras ou méritos, mas é um presente de Deus. A Bíblia ensina que somos justificados ou declarados justos diante de Deus, pela fé em Jesus Cristo. Romanos 3:22-24 diz: “justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo para todos os que creem. Não há distinção, pois todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente por sua graça, por meio da redenção que há em Cristo Jesus”. 

·      Nova vida em Cristo. A salvação não é apenas uma questão de receber o perdão dos pecados, mas também envolve uma transformação interior. 2Coríntios 5:17 declara: “Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criação. As coisas antigas já passaram; eis que surgiram coisas novas!” Através do Espírito Santo, os crentes experimentam uma renovação espiritual e são capacitados a viver uma vida de obediência e santidade.

·      Vida eterna. A salvação inclui a promessa da vida eterna com Deus. João 3:16 é um versículo amplamente conhecido que enfatiza essa verdade: “Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna”. A salvação não é apenas um evento temporal, mas tem implicações eternas.

Destacamos apenas esses aspectos por considerá-los mais relevantes para que você possa entender o sentido da salvação bíblica. Agora podemos mergulhar no texto de Efésios 2:8 que nos esclarece alguns pontos basilares da nossa fé cristã:

1.     A salvação pela graça. A ênfase do texto é que “vocês são salvos pela graça”. A graça é a expressão do amor de Deus para com a humanidade, um favor imerecido que Ele nos concede. Em Romanos 3:23-24, citado acima, vemos que todos pecaram, mas a justificação é alcançada gratuitamente através da graça evidenciando a centralidade dessa verdade na teologia da salvação.

2.     Por meio da fé. Efésios 2:8 continua afirmando que a salvação é “por meio da fé”. A fé é o veículo pelo qual a graça de Deus nos alcança. Em Romanos 5:1, Paulo escreve: “Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo”. A fé é o elo que nos liga à obra redentora de Cristo, permitindo-nos receber o presente da salvação. Essa ideia é corroborada por Jesus em João 3:16, onde Ele declara que “todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna”. 

3.     Dom de Deus. Finalmente, o versículo 8 de Efésios 2 conclui declarando que a salvação “não vem de vocês, é dom de Deus”. A salvação não é resultado de nossas próprias obras ou esforços, mas é um presente generoso de Deus. Paulo amplifica essa verdade em Tito 3:5, afirmando: “não por causa de atos de justiça por nós praticados, mas devido à sua misericórdia, ele nos salvou pelo lavar regenerador e renovador do Espírito Santo”. Aqui, Paulo reforça que a salvação não é obtida através de nossas obras, mas é uma ação transformadora do Espírito Santo.

Espero que tenha ficado claro para o amado leitor que todos nós carecemos de salvação e o texto de Efésios 2:8 é uma passagem fundamental que encapsula a essência da teologia da salvação. A graça de Deus, manifestada em Cristo, é o fundamento da nossa salvação. A fé é o meio pelo qual recebemos esse dom inestimável e a salvação é inteiramente um ato de Deus, independente de nossos méritos. 

 

A teologia da salvação é a história do amor divino, uma redenção oferecida a uma humanidade caída pelo pecado. Essa narrativa reverbera nas Escrituras, destacando a centralidade da graça, da fé e da ação de Deus em nossa salvação. Será que você é capaz de recusar tão grande salvação? Espero que não. Que  possamos sempre nos maravilhar com a profundidade desse presente divino e responder com gratidão, fé e amor.

 

Lembre-se: Rendam graças ao SENHOR, pois Ele é bom; o seu amor dura para sempre.

Sola Scriptura - Solus Christus - Sola gratia - Sola fide e Soli Deo glória

Shalom Adonai

domingo, 27 de outubro de 2024

Pecado e Salvação: A Obra Redentora de Jesus Cristo


Está escrito: 

Portanto, da mesma forma que o pecado entrou no mundo por um homem, e pelo pecado entrou a morte, assim também a morte veio a todos os homens, porque todos pecaram" (Romanos 5:12-NVI).

Na teologia cristã, a doutrina do pecado e a doutrina da salvação são frequentemente vistas como opostas, mas também complementares. Elas abordam aspectos essenciais da fé cristã ao explorarem à condição humana, a necessidade de redenção e o papel de Jesus Cristo na reconciliação com Deus. Vejamos em detalhe o que cada uma dessas doutrinas ensina:

1. A doutrina do pecado: Esta doutrina destaca o pecado como uma condição inerente à natureza humana, originada pela desobediência de Adão e Eva no jardim do Éden. Enfatiza a separação entre Deus e a humanidade resultante do pecado, mostrando que todos os seres humanos carecem da graça divina. Reconhece, assim, a inclinação ao pecado e a impossibilidade de se alcançar a reconciliação com Deus pelos próprios méritos humanos.

2. A doutrina da salvação: Esta doutrina enfatiza a obra redentora de Jesus Cristo como o caminho pelo qual a humanidade pode ser reconciliada com Deus e obter a salvação. Destaca a graça divina como o dom gratuito oferecido apesar da nossa condição pecaminosa. Além disso, salienta a importância do  arrependimento, fé em Jesus e da aceitação de seu sacrifício na cruz como condições essenciais para a salvação.

A doutrina do pecado original explica a forma como o pecado de Adão impacta toda a humanidade:

·      O pecado original: De acordo com a narrativa bíblica no livro de Gênesis, Adão e Eva, os primeiros seres humanos, desobedeceram a Deus no Jardim do Éden, dando origem ao pecado da humanidade, como relatado em Gênesis 3.

·      A transmissão do pecado: Esta doutrina também ensina que, como representante da humanidade, o pecado de Adão foi transmitido a toda a sua descendência, sendo entendido como uma condição inerente  à natureza humana.

·      Consequência do pecado:  Como resultado do pecado original, a humanidade nasce  em estado de separação de Deus e com uma natureza corrompida (corpo, alma e espírito). Assim, segundo essa visão, cada pessoa já nasce inclinada ao pecado. "Portanto, da mesma forma que o pecado entrou no mundo por um homem, e pelo pecado entrou a morte, assim também a morte veio a todos os homens, porque todos pecaram" (Romanos 5:12-NVI).

·      A necessidade de redenção: A doutrina do pecado original está intimamente ligada à necessidade de redenção, e Jesus Cristo é visto como Aquele que veio para vencer os efeitos do pecado original e oferecer salvação e reconciliação com Deus: "...De fato, muitos morreram por causa da transgressão de um só homem, mas a graça de Deus, isto é, a dádiva pela graça de um só, Jesus Cristo, transbordou ainda mais para muitos" (Romanos 5:15-NVI).

Com base nessa compreensão, a ideia de salvação na teologia bíblica refere-se à redenção e libertação espiritual e eterna que Deus oferece aos seres humanos. Esse conceito é central no cristianismo e baseia-se na crença de que a humanidade se encontra separada de Deus, por causa do pecado, e que a salvação é o caminho para superar essa essa separação. Abaixo, apresento os principais pontos da teologia bíblica sobre o tema:

1. Pecado e Separação: A Bíblia ensina que todos os seres humanos pecaram e estão afastados de Deus (Romanos 3:23). O pecado é descrito como uma condição inerente à natureza humana que nos impede de ter um relacionamento pleno com Deus.

2. Redenção só através de Jesus Cristo: A salvação é entendida como vinculada ao sacrifício de Jesus Cristo na cruz, o Filho de Deus, que veio ao mundo para oferecer redenção e reconciliação com Deus, através da sua morte e ressurreição.

3. Arrependimento e Fé: A aceitação da salvação exige arrependimento dos pecados e fé em Jesus como Senhor e Salvador. Esse processo envolve reconhecer a necessidade de redenção, confessar os pecados e confiar na obra redentora de Cristo.

4. Graça: A salvação é um dom gracioso de Deus, oferecido aos seres humanos independentemente de qualquer mérito pessoal. Não é conquistada por esforço humano, mas é um presente divino (Efésios 2:8-9).

5. Vida eterna: Segundo a teologia bíblica, a salvação proporciona vida eterna àqueles que aceitam a salvação em Jesus Cristo, oferecendo-lhes a promessa de uma vida plena e em comunhão com Deus.

A crença de que Deus se torna humano em Jesus, sacrificando-se na cruz para oferecer a salvação, é vista como um ato miraculoso e extraordinário de amor divino. A passagem de João 3:16 ilustra claramente essa mensagem: “Porque Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. Esse sacrifício é uma demonstração  do amor de Deus , proporcionando a possibilidade de vida eterna e reconciliação com Ele.

Assim, desde a queda no pecado até a salvação, a teologia bíblica descreve um plano divino no qual, na plenitude dos tempos, Deus enviou Jesus ao mundo para realizar essa obra de redenção, oferecendo  reconciliação àqueles que creem. Jesus é um presente precioso de Deus, representando a manifestação de seu amor e a oportunidade de vida eterna para os que aceitam esse presente pela fé.

Querido(a), a salvação é recebida pela fé. Isso significa que é necessário crer em Jesus Cristo como seu Salvador pessoal, reconhecer seus pecados diante da santidade de Deus e arrepender-se para alcançar a vida eterna. Independentemente de sua tradição religiosa, se você não crê em Jesus e não vive como seu discípulo, a Bíblia ensina que viverá eternamente separado de Deus. A fé é um dom de Deus e o meio  pelo qual nos relacionamos com Ele e aceitamos a Sua graça. Não desconsidere essa grande salvação! 

Lembre-se: Rendam graças ao SENHOR, pois Ele é bom; o seu amor dura para sempre.

             Sola Scriptura - Solus Christus - Sola gratia - Sola fide e Soli Deo glória 
Shalom Adonai


domingo, 20 de outubro de 2024

Deus é amor: explorando a profundidade dessa revelação

 

Está escrito:

(7)Amados, amemos-nos uns aos outros, pois o amor procede de Deus. Aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. (8)Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor” (1João 4:7-8)

 

O texto em análise é profundo em sua simplicidade e clareza, revelando uma verdade fundamental sobre a natureza de Deus e Sua relação com a humanidade. Perceba que a primeira afirmação é que o amor procede de Deus. Isso significa que o amor não é apenas uma característica de Deus, mas é, de fato, a essência de Sua natureza. Deus é amor em Sua totalidade, e todas as manifestações genuínas de amor entre os seres humanos derivam dessa fonte divina.


Além disso, João nos lembra que aqueles que tiveram a experiência de nascer de novo, proporcionada pela fé em Jesus Cristo, transforma radicalmente o coração humano. O Espírito Santo capacita o crente a amar de forma sobrenatural, amando não apenas com palavras, mas com ações. O amor autêntico, caracterizado pelo respeito, pela solidariedade e pela busca do bem, é o fruto dessa transformação interior e uma prova incontestável da presença de Deus em nossas vidas. 


Por outro lado, a passagem do texto bíblico nos adverte que aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor. Isso indica que a falta de amor não é apenas uma falha moral, mas também uma falta de compreensão da natureza essencial de Deus. A verdadeira experiência do amor divino transforma e capacita os cristãos a amar não apenas aqueles que são fáceis de amar, mas também aqueles que são difíceis, superando barreiras como ideologias, orientações sexuais e diferenças sociais. O amor cristão se estende a todos, inclusive aos inimigo e aos mais vulneráveis, refletindo assim a natureza compassiva de Deus.


O amor se manifesta em ações altruísta, compromisso e cuidado pelos outros. Ele é experimentado e expresso nos relacionamentos interpessoais e é caracterizado pela incondicionalidade e sacrifício. O amor essencialmente está ligado à natureza de Deus, porque Deus é amor (1 João 4:8). É desafiante pôr em prática esse fundamento da fé cristã e estender o amor de Deus para todos os tipos de pessoas, porque para isso temos que nos libertar de sentimentos comuns, como:


1. Egoísmo e egocentrismo: a natureza humana tende a priorizar o próprio bem-estar e interesses pessoais. Isso pode dificultar a disposição de sacrificar tempo, recursos e conforto em prol do amor ao próximo (Filipenses 2:3).


2. Preconceitos e julgamentos: muitas vezes, as pessoas são influenciadas por preconceitos e estereótipos que as impedem de amar verdadeiramente aqueles que são diferentes delas, seja em termos de cultura, religião, raça ou estilo de vida (Tiago 2:1).


3. Mágoas e ressentimentos passados: experiências de mágoa ou traição podem tornar difícil para os crentes estender o amor a certas pessoas, especialmente aquelas que os feriram no passado (Efésios 4:31).


4. Limitações práticas: em um mundo cheio de demandas e responsabilidades, pode ser desafiador encontrar tempo e recursos para dedicar ao serviço e ao amor ao próximo.


Daí a necessidade de mantermos acesa a chama do amor fraternal, mas para isso, é importante cultivar certas práticas e atitudes:

·      Cultivar a intimidade com Deus: o amor fraterno flui naturalmente de um relacionamento íntimo com Deus. Portanto, é essencial dedicar tempo à oração, leitura da Bíblia e comunhão com outros crentes para fortalecer esse relacionamento (Tiago 4:8).

·      Praticar o perdão: o perdão é uma parte essencial do amor fraterno. Ao perdoar aqueles que nos magoaram, liberamos o peso do ressentimento e abrimos espaço para o amor e a reconciliação (Mateus 6:14-15).

·      Desenvolver empatia: tentar entender as experiências e perspectivas dos outros nos ajuda a amá-los de maneira genuína e compassiva. Isso requer humildade e disposição para ouvir e aprender com os outros (Romanos 12:15).

·      Buscar oportunidades de serviço: procurar ativamente maneiras de servir e ajudar os outros, especialmente os mais necessitados, é uma maneira prática de expressar amor fraterno. Isso pode incluir voluntariado em organizações de ajuda comunitária, ajudar os vizinhos em necessidades ou simplesmente estar disponível para oferecer apoio a amigos e familiares (Marcos 10:45).

·      Cultivar relacionamentos significativos na comunidade da fé: a comunidade oferece um ambiente em que o amor fraterno pode ser nutrido e fortalecido. Participar regularmente de cultos, grupos pequenos e eventos da igreja ajuda a construir relacionamentos significativos baseados no amor e no apoio mútuo (Hebreus 10:24-25).

Amados, a aplicação prática de 1 João 4:7-8 na vida do cristão é profunda e abrangente. Ele nos chama a viver em comunhão amorosa com as pessoas. Isso implica em buscar a unidade na igreja, perdoar uns aos outros, suportar uns aos outros em amor e servir uns aos outros com humildade. É desafiante, mas o amor mútuo entre os cristãos é um testemunho poderoso ao mundo do amor de Deus em ação.


Além disso, essa passagem nos confronta a estender o amor de Deus além dos limites da comunidade cristã. Devemos amar nossos semelhantes como a nós mesmos, praticar a justiça e a compaixão em nossas interações diárias e procurar ativamente maneiras de demonstrar o amor de Deus em um mundo caído e carente que está separado de Deus, necessitando de redenção e reconciliação espiritual.


Por fim, o texto bíblico em destaque é uma lembrança poderosa da natureza essencial de Deus como amor e da chamada dos crentes, os nascidos de novo (filhos de Deus), para viver em resposta a esse amor. Que possamos ser cristãos que conhecem a Deus verdadeiramente, expressando Seu amor em todas as áreas de nossas vidas e relacionamentos.

  

Lembre-se: Rendam graças ao SENHOR, pois Ele é bom; o seu amor dura para sempre.

Sola Scriptura - Solus Christus - Sola gratia - Sola fide e Soli Deo glória

Shalom Adonai

 

domingo, 13 de outubro de 2024

O silêncio de Deus e o som de uma brisa suave

 

Está escrito:

“Depois do terremoto, houve um fogo, mas o SENHOR não estava nele. E depois do fogo houve o murmúrio de uma brisa suave” (1Reis 19:12 – NVI).

 

O relato do encontro de Elias com Deus no monte Horebe, é uma passagem rica em simbolismo e profundos ensinamentos espirituais. Após uma série de manifestações poderosas da natureza – vento, terremoto e fogo -, Elias finalmente ouve um som de uma suave brisa, representando a forma como Deus escolhe Se revelar em momentos de quietude. Este cenário nos convida a refletir sobre o silêncio de Deus em meio às provações e a como podemos lidar com essas situações, especialmente quando parece que Deus não está presente nas grandes manifestações que esperávamos.


Para compreendermos essa passagem bíblica, é importante contextualizar os fatos. No capítulo 19 de 1Reis, encontramos o profeta Elias em um estado de desespero. Após derrotar os profetas de Baal, ele foge para o deserto, sentindo-se isolado, desencorajado e temeroso por sua vida, devido à perseguição da rainha Jezabel. Esse momento na vida de Elias reflete um período de grande angústia, dúvida e desesperança – experiências que, acredito, são comuns para os crentes que enfrentam adversidades e têm dificuldades em discernir a presença ou a voz de Deus.


Quando Elias chega ao monte Horebe, ele espera encontrar Deus de maneira apoteótica, mas Deus não estava no vento, nem no terremoto ou no fogo, ambos símbolos de poder e catástrofe. Ao contrário, Ele se revela por meio de um som de uma suave brisa, ensinando que, muitas vezes, a presença de Deus se manifesta de maneira discreta e silenciosa. Querido(a), o silêncio de Deus não significa Sua ausência, mas sim uma revelação que exige sensibilidade espiritual para ser compreendida.


Eu também passei por uma experiência marcante em minha vida, onde quase fui levado ao desespero. Orava, clamava e passava muitas noites em lágrimas, buscando uma resposta para o porquê de tanto sofrimento e perseguição. No entanto, o que eu ouvia era apenas o silêncio de Deus. A princípio, foi angustiante, mas, por trás das minhas dúvidas, Deus estava trabalhando silenciosamente. O Espírito Santo começou a acalmar minha alma e me ajudou a enxergar coisas que eu não conseguia ver devido à aflição.


Muitos crentes, em suas jornadas espirituais, enfrentam esses momentos desafiadores. Isso já havia sido previsto, pois Jesus disse: “Neste mundo vocês terão aflições; contudo, tenham ânimo! Eu venci o mundo” (João 16:33-NVI). Em tempos de aflições, doenças, perda, luto ou qualquer outra crise, a ausência de uma resposta clara para nosso problema pode suscitar questionamentos sobre o cuidado e o amor de Deus. Elias também esperava uma intervenção grandiosa de Deus, mas foi confrontado com a realidade de que, muitas vezes, Ele escolhe falar de maneira sutil. A experiência que vivi me trouxe algumas lições que gostaria de compartilhar:


1. Deus trabalha no silêncio: O silêncio de Deus não significa inatividade ou abandono. Muitas vezes, Ele está operando nos bastidores, moldando nosso caráter, fortalecendo nossa fé e nos ensinando a depender dEle, mesmo quando não sentimos Sua presença de maneira palpável. Esse é nosso Deus que “desde os tempos antigos ninguém ouviu, nenhum ouvido percebeu, e olho nenhum viu outro Deus, além de ti, que trabalha para aqueles que nele esperam” (Isaías 64:4-NVI).


2. O valor do silêncio para o discernimento: Em meio ao caos da vida, é comum buscarmos sinais visíveis e sobrenaturais como evidência da presença de Deus. No entanto, o silêncio divino nos oferece uma oportunidade única para desenvolver a paciência, a confiança e a sensibilidade espiritual. Assim como Elias teve que esperar até ouvir o som suave de uma brisa, também somos chamados a aprender a escutar a voz de Deus, que muitas vezes fala de forma sutil, como uma brisa suave no rosto, ao invés de trovoadas e manifestações grandiosas.


3. Confiança em meio à adversidade: Quando Deus parece silencioso, somos convidados a confiar que Ele permanece soberano e atuante. Da mesma forma que Elias foi renovado em sua missão após esse encontro com Deus, podemos encontrar nova força ao descansar na certeza de que Ele está conosco, mesmo no silêncio. Jesus nos garantiu em Mateus 28:20 – “E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos”. 


Mas, a pergunta que exige resposta é, o que fazer no silêncio de Deus? Embora não haja uma resposta definitiva, minha experiência pessoal me desafiou a manter uma atitude de fé e perseverança. Algumas práticas que me ajudaram podem ser úteis para aqueles que enfrentam situações difíceis na vida. Vamos explorar algumas delas:

1. Persista na oração: Mesmo quando não sentimos que nossas orações estão sendo respondidas, devemos continuar buscando a Deus. A oração é um meio de alinhar nossa vontade à de Deus, e muitas vezes, nesse processo, somos transformados. Aprendi que, mais do que minha vontade, o que importa é o propósito de Deus para minha vida.


2. Medite na Palavra: A Bíblia é uma fonte constante de revelação de Deus e uma companheira inseparável para aqueles que temem ao SENHOR. Mesmo quando não ouvimos uma “voz audível”, podemos ouvir Deus falar por meio das Escrituras. A Palavra é viva e eficaz, e é através dela que o Espírito Santo nos guia, fortalece e conforta.


3. Busque comunhão com os irmãos na fé: Elias, em sua solidão, pensou que era o único profeta restante, mas Deus o corrigiu, revelando que havia outros que não se dobraram a Baal. O isolamento, especialmente daquelas que compartilham a mesma fé, pode intensificar o sentimento de abandono. Ao compartilhar nossas lutas com pessoas que se importam, encontramos apoio e encorajamento. Deus não nos criou para vivermos isolados; somos seres que necessitam de comunhão.


4. Aguarde com paciência: O silêncio de Deus é um convite à paciência. Nossa geração, com sua natureza imediatista, deseja soluções rápidas para tudo, mas a realidade da vida não segue esse ritmo. Assim como o agricultor espera pacientemente pela colheita, devemos aprender a esperar o tempo de Deus, confiando que Ele está preparando algo maior. Eu me identifico muito com o Salmo 40, especialmente no versículo 1: “Esperei com paciência pelo SENHOR, e Ele se inclinou para mim e ouviu o meu clamor”.


Concluímos, afirmando que a presença de Deus nem sempre se manifesta em grandes eventos de poder; muitas vezes, ele se revela nos momentos de silêncio e tranquilidade. Quando o crente atravessa momentos difíceis, é chamado a confiar em Deus, memo quando Ele parece silencioso. Esse silêncio não indica ausência, mas é uma oportunidade de aprofundar nossa fé, aprender a ouvir o “sussurro suave” da Sua voz e descansar na certeza de que Ele está sempre presente, operando em nós e por meio de nós.

 

Lembre-se: Rendam graças ao SENHOR, pois Ele é bom; o seu amor dura para sempre.

Sola Scriptura - Solus Christus - Sola gratia - Sola fide e Soli Deo glória

SHALOM ADONAI

domingo, 6 de outubro de 2024

Escolha de líderes: uma perspectiva bíblica na contemporaneidade


 Está escrito:

“Escolha, porém, dentre todo o povo homens capazes, tementes a Deus, dignos de confiança e que odeiam o ganho desonesto” (Êxodo 18:21).

 

O livro de Êxodo, na Bíblia, apresenta uma narrativa rica em ensinamentos e princípios que transcenderam séculos, influenciando não apenas a esfera espiritual, mas também aspectos práticos da vida em sociedade. O versículo em pauta, destaca a importância da escolha de lideranças, apontando características fundamentais para orientar tal seleção: homens ou mulheres capazes, tementes a Deus, dignos de confiança e que odeiam o ganho desonesto ou a corrupção. Nesta breve reflexão, vamos pensar um pouco nestes quatro critérios básicos na ascensão de um líder.


1. Capacidade e competência: no contexto contemporâneo, a escolha de líderes é muitas vezes permeada por critérios superficiais, como popularidade ou habilidades retóricas. No entanto, a capacidade, mencionada no texto, vai além das habilidades técnicas. Teólogos como John C. Maxwell, ressaltam a importância de líderes possuírem não apenas habilidades técnicas, mas também habilidades interpessoais e emocionais. A capacidade de liderança deve refletir integridade, sabedoria e discernimento.


No contexto teológico, a capacidade e competência referem-se a uma combinação de habilidades, virtudes e qualidades que capacitam um líder a desempenhar suas responsabilidades de maneira eficaz e ética. Vejamos alguns aspectos fundamentais desse conceito:

·      Habilidades técnicas e conhecimento: não temos dúvidas de que essas habilidades são importantes. Líderes eficazes geralmente possuem conhecimentos específicos relacionados à sua área de atuação. 

·      Habilidades interpessoais: essa habilidade é a capacidade de se comunicar de maneira eficaz, resolver conflitos, motivar e inspirar outros. 

·      Integridade e ética: a competência de um líder não é completa sem a presença da integridade e ética em suas ações. A capacidade de tomar decisões éticas, agir com honestidade e cultivar um ambiente de confiança são aspectos críticos da competência de liderança. A integridade é fundamental para construir relacionamentos sólidos e sustentáveis.

·      Empatia e inclusão: a capacidade de compreender e se relacionar com as necessidades e perspectivas dos outros é uma característica cada vez mais valorizada em líderes contemporâneos. A inclusão, a diversidade e a equidade são componentes importantes da competência de liderança.

2. Temente a Deus: a dimensão espiritual da liderança não pode ser subestimada. Teólogos como Timothy Keller destacam a necessidade de líderes serem orientados por princípios éticos e morais derivados da sua fé. O temor a Deus, mencionado no texto, não se refere apenas à reverência, mas à busca constante por uma vida alinhada com os valores do Reino de Deus, refletindo uma conduta justa e compassiva. 


É importante destacar que essa característica vai além de uma observância superficial de práticas religiosas, qualquer que seja. Ela reflete a integração da fé na tomada de decisões, no comportamento e na ética do líder. Vamos esclarecer um pouco mais alguns aspectos essenciais dessa qualidade:

·      Obediência aos princípios divinos: ser temente a Deus implica em viver de acordo com os princípios e mandamentos divinos. Isso não se limita apenas à observância de rituais religiosos, tipo fariseu da modernidade, mas se estende ao compromisso de viver uma vida ética, justa e alinhada com os valores morais ensinados pela fé cristã.

·      Busca por sabedoria: o temor a Deus envolve a busca constante por sabedoria. Isso significa reconhecer a limitação humana e depender da orientação de Deus nas decisões importantes. Teólogos contemporâneos, como Timothy Keller, destacam a importância da sabedoria bíblica na liderança, buscando discernimento divino para lidar com desafios complexos.

·      Responsabilidade perante Deus: a consciência da responsabilidade perante Deus é uma parte integral do temor a Ele. Líderes tementes a Deus reconhecem que serão responsáveis não apenas perante as pessoas, mas também diante do Criador, o Todo-Poderoso Deus, prestando contas de suas ações, decisões e o impacto que têm sobre outros. 

·      Cultivo da espiritualidade pessoal: líderes tementes a Deus dedicam tempo ao desenvolvimento espiritual pessoal. Isso inclui práticas como oração, leitura da Bíblia, reflexão e adoração. Esses aspectos fortalecem a conexão do líder com Deus, moldando sua perspectiva, valores e atitudes. 

·      Humildade diante de Deus: o temor a Deus está intrinsecamente ligado à humildade. Líderes que reconhecem a grandiosidade e santidade de Deus mantêm uma postura de humildade, reconhecendo que a verdadeira liderança é um serviço aos outros, em conformidade com o exemplo de Jesus Cristo.

3. Dignos de confiança: a confiança é um alicerce crucial na liderança. Nesse sentido, autores como Patrick Lencioni, ressaltam a importância da vulnerabilidade e transparência para construir relações de confiança. Líderes dignos de confiança são aqueles que são autênticos, admitindo seus erros e sendo fiéis aos seus compromissos.


4. Odeiam o ganho desonesto ou a corrupção: a aversão ao ganho desonesto ou corrupção remete à integridade financeira e ética. Em um mundo marcado por corrupção e em especial no Brasil, que ocupa a 104ª colocação no Índice de Percepção da Corrupção (IPC) de 2023, teólogos contemporâneos, como Ron Sider, destacam a necessidade de líderes serem exemplos de retidão e justiça. A liderança ética não apenas impacta a esfera espiritual, mas também contribui para o bem-estar da sociedade como um todo.


Portanto, à luz do versículo Êxodo 18:21, a seleção de líderes (representantes) é um processo complexo que vai além de critérios meramente pragmáticos. A capacidade, o temor a Deus, a confiança e a integridade são elementos cruciais que devem nortear a escolha de seus representantes na sociedade contemporânea. Que esta reflexão nos guie nas eleições de hoje, fornecendo uma base sólida para a escolha de líderes (prefeitos e vereadores) comprometidos com o bem comum e com os valores do Reino de Deus.  

 

Lembre-se: Rendam graças ao SENHOR, pois Ele é bom; o seu amor dura para sempre.

Sola Scriptura - Solus Christus - Sola gratia - Sola fide e Soli Deo glória

SHALOM SHALOM