Está escrito em Colossenses 3:12 (NVI):
“Portanto, como escolhidos de Deus, santos e amados, vistam-se de profunda compaixão, bondade, humildade, mansidão e paciência”.
O versículo em pauta nos convoca a vestir-nos de virtudes essenciais para a vida cristã. Este chamado serve como um lembrete da nossa identidade em Cristo e das qualidades que devemos manifestar como seguidores de Jesus. Esta breve reflexão busca explorar cada uma dessas virtudes à luz das Escrituras e do pensamento teológico, além de discutir como o cristão pode incorporá-las em sua vida diária.
Observemos que os escolhidos de Deus são santos e amados. Na Bíblia, a palavra “santos”, do grego “hagios”, significa “separados” ou “consagrados”. Os cristãos são chamados de santos porque foram separados por Deus para viver uma vida dedicada a Ele. Esta separação é tanto uma posição quanto um processo. Explico: a posição de santidade é um status conferido por Deus aos crentes em Cristo. Paulo frequentemente se refere aos cristãos como santos sem suas cartas, como exemplificado em 1 Coríntios 1:2.
Os crentes são santificados em Cristo no momento da conversão, quando são justificados pela fé. Esta é uma obra da graça de Deus, que nos separa do pecado e nos coloca em uma posição de santidade diante Dele.
Além disso, a santidade é um processo contínuo, conhecido como santificação. Este é o trabalho do Espírito Santo em nossas vidas, nos transformando à imagem de Cristo. Em 1 Tessalonicenses 4:3, Paulo declara: “A vontade de Deus é que sejam santificados”.
Os escolhidos de Deus também são profundamente amados. Este amor é a base da nossa salvação e do relacionamento contínuo com Deus. O amor de Deus pelos Seus escolhidos é eterno e incondicional. Este amor eterno é a base da eleição divina, conforme Jeremias 31:3 e Efésios 1:4-5.
Além disso, o amor de Deus se manifesta de forma suprema na redenção. João 3:16 declara: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. Este amor redentor é a motivação para a encarnação, morte e ressurreição de Jesus Cristo.
Portanto, essa identidade como santos e amados deve moldar a maneira como vivemos. Devemos buscar refletir a santidade e o amor de Deus em nossas vidas, vivendo de acordo com a nossa posição em Cristo e permitindo que o Espírito Santo nos transforme cada dia mais à Sua imagem.
A segunda parte do versículo enfatiza a necessidade de nos revestirmos de profunda compaixão, bondade, humildade, mansidão e paciência. Vejamos cada uma dessas virtudes:
A compaixão é um sentimento de profunda empatia e preocupação pelas necessidades dos outros. Em Mateus 9:36, lemos que Jesus “ao ver as multidões, teve compaixão delas, porque estavam aflitas e desamparadas, como ovelhas sem pastor”. A compaixão de Jesus é um exemplo supremo para nós, mostrando que devemos nos preocupar genuinamente com o bem-estar dos outros.
O teólogo Dietrich Bonhoeffer destaca que a compaixão cristã não é apenas um sentimento, mas uma ação: “O Cristo sofredor nos chama a segui-lo no caminho da compaixão e da solidariedade com os sofredores”. Portanto, vestir-se de compaixão é ser movido a agir em benefício daqueles que estão em necessidade.
A bondade refere-se a atitudes e ações que refletem benevolência e generosidade. Em Gálatas 5:22, a bondade é listada como um fruto do Espírito, indicando que ela é uma evidência do trabalho do Espírito Santo em nossas vidas. A bondade cristã se manifesta em ações práticas de amor ao próximo, como demonstrado na parábola do Bom Samaritano (Lucas 10:25-37), onde o samaritano cuida de um homem ferido sem esperar nada em troca.
A humildade é a virtude de reconhecer a nossa dependência de Deus e a nossa condição de servos. Filipenses 2:3-4 nos exorta: “Nada façam por ambição egoísta ou por vaidade, mas humildemente considerem os outros superiores a vocês mesmos, cuidando, cada um, não somente dos próprios interesses, mas também dos interesses dos outros”.
C.S. Lewis descreveu a humildade como “não pensar menos de si mesmo, mas pensar menos em si mesmo”. A verdadeira humildade nos leva a servir aos outros com um coração sincero, colocando suas necessidades acima das nossas.
A mansidão é frequentemente mal interpretada como fraqueza, mas na verdade é uma força controlada. Jesus se descreve como “manso e humilde de coração” em Mateus 11:29. A mansidão é a capacidade de mostrar gentileza e autocontrole, mesmo em situações de conflito. Vestir-se de mansidão é responder com gentileza e paciência, mesmo quando somos provocados ou maltratados.
A paciência é a capacidade de suportar dificuldades e esperar com perseverança. Tiago 1:4 nos encoraja: “No entanto, a perseverança deve ter ação completa, a fim de que vocês sejam perfeitos e íntegros, sem que lhes falte coisa alguma”. A paciência cristã é demonstrada na espera confiante pelo tempo de Deus e na perseverança diante das adversidades.
Para que o cristão se vista dessas virtudes, é essencial uma vida de comunhão com Deus através da oração, leitura da Bíblia e participação na comunidade de fé. Vejamos algumas sugestões práticas:
1. Profunda compaixão: envolva-se em atividades de serviço comunitário, oferecendo seu tempo e recursos para ajudar os necessitados.
2. Bondade: pratique atos de gentileza diariamente, seja ajudando um vizinho, encorajando um colega de trabalho ou simplesmente mostrando gratidão.
3. Humildade: desenvolva a humildade através do serviço, procurando oportunidades para servir aos outros de maneira desinteressada.
4. Mansidão: cultive a mansidão aprendendo a controlar suas reações em situações de conflito, respondendo com gentileza e calma.
5. Paciência: pratique a paciência ao lidar com situações desafiadoras, confiando no tempo de Deus e mantendo uma atitude positiva.
Enfim, Colossenses 3:12 nos chama a viver de acordo com a nossa identidade em Cristo, manifestando virtudes que refletem o caráter de Deus. Ao nos vestirmos de profunda compaixão, bondade, humildade, mansidão e paciência, testemunhamos ao mundo o amor e a graça de Deus. Que possamos buscar diariamente a transformação pelo Espírito Santo, permitindo que essas virtudes se tornem cada vez mais evidentes em nossas vidas.
Referências:
BONHOEFFER, D. Vida em comunhão. São Leopoldo: Sinodal, 2009.
LEWIS, C.S. Cristianismo puro e simples. São Paulo: Martins Fontes, 2009.
Lembre-se: Rendam graças ao SENHOR, pois Ele é bom; o seu amor dura para sempre.
Sola Scriptura - Solus Christus - Sola gratia - Sola fide e Soli Deo glória
Christós Kyrios